Alta da Selic fez Anfavea virar a noite refazendo previsões para 2025

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Anfavea (associação das montadoras) havia preparado um anúncio otimista para esta quinta-feira (12). Em sua coletiva mensal, a entidade iria prever que a venda de veículos novos chegaria a 3 milhões de unidades em 2025. Mas antes havia a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a taxa básica de juros do país.

“Viramos a noite revendo as projeções”, disse Márcio de Lima Leite, presidente da associação. O problema não foi a alta de 1 ponto percentual -que levou a taxa a 12,25% ao ano-, mas, sim, a expectativa de mais duas elevações no mesmo patamar nas próximas reuniões do comitê.

Ao mesmo tempo em que revisava os números, a diretoria da Anfavea tinha uma preocupação: após um ano de crescimento das vendas (2024 registra alta de 15% entre janeiro e novembro na comparação com 2023), era preciso manter o tom de celebração para preservar o bom relacionamento com o governo federal, que tem se mostrado simpático às causas defendidas pelas montadoras.

Após muitos cálculos, a associação projetou uma elevação de 5,6% nos emplacamentos em 2025, chegando a um total de 2,802 milhões de unidades comercializadas. O número inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.

A previsão não foi consenso entre as associadas, sendo que algumas montadoras enxergam riscos de retração. Há preocupação com o impacto da Selic na concessão de crédito por parte dos bancos, o que pode reverter a tendência de melhora nesse ramo financeiro.

Leite, contudo, afirmou que houve melhora na liberação de financiamentos nos últimos meses, o que deve fazer a comercialização no mercado automotivo crescer 32% entre o primeiro e o segundo semestres deste ano. A Anfavea acredita que, ao longo de 2025, as vendas a prazo responderão por 50% dos negócios. Hoje, estão em cerca de 45%.

Há um claro esforço em apoiar as políticas do governo para a indústria, explícito em um mosaico de fotos apresentado na coletiva. As imagens mostram encontros animados de representantes da Anfavea com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

Em relação à produção, a Anfavea prevê alta de 6,8%, com 2,749 milhões de veículos leves e pesados fabricados no país em 2025. O número já considera as futuras linhas das montadoras chinesas BYD e GWM, que começarão a operar no primeiro semestre do próximo ano.

Neste ano, já foram produzidas 2,359 milhões de unidades, uma alta de 9,6% em relação aos 11 primeiros meses de 2023. A expectativa é encerrar o ano com 2,574 milhões de veículos leves e pesados fabricados no país.

Os chineses ainda estão entre os temas principais das reuniões das montadoras. De acordo com a associação, as importações a partir desse país passaram de 32.180 unidades entre os meses de janeiro e maio de 2023 para 105.763 no mesmo período de 2024, o que representa uma alta de 229%.

No acumulado deste ano, 26% dos carros estrangeiros vendidos no Brasil vieram da China -que também tem presença forte em outros mercados da américa do Sul, o que prejudica as exportações da indústria automotiva nacional.

A Anfavea confirmou que há cerca de 70 mil carros de marcas como BYD e GWM em estoque no Brasil. Segundo a agência Bloomberg, esses veículos congestionam os portos do país e têm gerado problemas para as próprias empresas importadoras.

Fatores como esse também trazem dúvidas sobre o potencial de expansão da produção local de automóvel, já que há muitos carros disponíveis à pronta entrega. Apesar disso, a Anfavea reforça os pontos positivos do ano.

De acordo com a associação das montadoras, o país é o que mais cresce no segmento automotivo entre os dez maiores mercados do mundo. A associação diz ainda que o ciclo atual de investimentos, calculado em R$ 180 milhões, levou à criação de 100 mil empregos diretos e indiretos no setor.

EDUARDO SODRÉ / Folhapress

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