Alta do PIB foi muito acima do esperado e qualitativamente melhor, diz Campos Neto

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta (1º) que a alta de 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre foi muito acima do esperado e qualitativamente melhor do que o crescimento observado entre janeiro e março.

“Diversas reformas do Congresso estão cumulativamente começando a ter efeito. Viemos de um período de mais de 15 meses de surpresas positivas o tempo todo”, disse durante evento promovido pelo grupo empresarial Lide, em Washington (EUA).

No primeiro trimestre, a economia havia crescido 1,8%, puxada sobretudo pelo agronegócio. Já o dado divulgado pelo IBGE nesta sexta mostra uma melhora mais difundida pela economia, embora represente uma desaceleração em relação ao resultado anterior.

“Indústria e serviços vieram melhor [no segundo trimestre]. O número foi qualitativamente melhor, e deve se refletir numa arrecadação maior”, afirmou diante de uma plateia de políticos e empresários.

Campos Neto disse esperar que o mercado revise suas projeções de crescimento do PIB para 2023 para algo entre 2,5% e 3%.

O presidente do BC reforçou que o objetivo da autoridade monetária é fazer com que a inflação caia, “com o pouso mais suave possível, ou seja, com o mínimo de custo para a sociedade”.

Nesse sentido, destacou os dados recentes de desemprego, que mostram uma taxa abaixo dos 8% -exemplo, segundo ele, do baixo impacto da alta dos juros pelo BC no mercado de trabalho.

Com o resultado divulgado nesta quarta, ele prevê que o custo do aperto monetário recente “deve ir para próximo de zero”. “O Brasil trouxe a inflação para baixo com menos curto possível de crescimento, emprego e crédito”, defendeu, dizendo que o país é um destaque internacional nesse front.

A alta de preços, que vem em trajetória de queda, “quase” ficou dentro da meta no acumulado anual, disse, não fosse pelo reajuste de preços da Petrobras -“que eu apoio”, destacou. Fora energia, ele vê sinais positivos na inflação de serviços. “Mas ainda não ganhamos a batalha.”

Questionado por jornalistas sobre o impacto do resultado do PIB sobre a taxa básica de juros, a Selic, Campos Neto não respondeu. Mais cedo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou esperar que o primeiro corte da Selic, em agosto, “seja o primeiro de uma sequência que todos desejamos”.

A preocupação reside no que ele chama de “última milha”, a reta final da política monetária. O temor é que uma redução dos juros prematura possa significar uma volta da inflação, mais alta e persistente, à frente.

Segundo ele, os principais riscos são o cenário externo e a trajetória fiscal.

Ele reconhece que para chegar à meta de déficit zero prevista pelo Ministério da Fazenda para o próximo ano, será necessário um volume grande de arrecadação. “Por isso o mercado tem essa dúvida”, disse, se referindo ao descolamento das projeções do setor privado com as do governo.

Em relação ao setor externo, há duas preocupações: Estados Unidos e China. No caso americano, ele alerta para os juros longos, ainda altos, apesar de o Fed (Federal Reserve, o BC do país) sinalizar que vai parar de subir a taxa de juros.

Para Campos Neto, a explicação está na política fiscal americana, bastante expansionista em sua visão. “Como os juros ficaram baixos muito tempo, o custo da dívida não era uma preocupação, mas agora começa a ser. É um cenário preocupante”, disse.

Os holofotes sobre o aumento de gastos nos EUA têm um efeito sobre o Brasil, avalia, porque “é como se a barra fiscal subisse um pouquinho internamente”.

A China, por sua vez, preocupa diante das revisões recentes para baixo do crescimento econômico do país asiático. Outros indicadores que servem de alerta são a aceleração do envelhecimento e o desemprego entre jovens.

Para o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, a sequência de surpresas positivas nos indicadores mostram que “os modelos comumente usados por economistas não estavam captando os efeitos das reformas aprovadas desde 2016”.

Ele diz a projeção do banco é de um crescimento de 3% do PIB neste ano. O banqueiro destaca ainda o resultado do consumo das famílias, que mostraria resiliência do mercado de trabalho.

‘15% de crédito sem juros no Brasil mostra uma anomalia’

Campos Neto afirmou que o volume de crédito parcelado no país sem juros representa 15% do total, o que para ele mostra uma “anomalia do produto”.

Segundo o presidente do BC, a autoridade monetária fez um estudo que mostraria que a utilização do limite sobe conforme o número de cartões e, quanto mais cartões usados, maior a inadimplência. Segundo ele, muitas vezes as pessoas pegam mais um cartão por causa do parcelado sem juros.

Os dados seriam preocupantes diante do aumento do número de cartões no país nos últimos anos e no peso que a ferramenta tem no consumo, segundo ele. De acordo com Campos Neto, 40% das compras no país são feitas no cartão de crédito, percentual que seria muito acima do americano, na faixa dos 20%.

Falando brevemente após o discurso do chefe do BC, o ex-governador de São Paulo, João Doria, co-diretor do Lide, defendeu que tirar o parcelamento acaba impedindo que uma parte sensível da população tenha acesso ao consumo.

Campos Neto, que já havia voltado a se sentar na mesa, interrompeu Doria da plateia para dizer que nunca defendeu a retirada do parcelamento sem juros.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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