SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Alto de Pinheiros, localizado na zona oeste de São Paulo, é o distrito da capital com a maior parte da população branca (86,4%) e o índice mais alto de idosos (17% tem acima de 70 anos).
Já o Jardim Ângela, no extremo sul, apresenta a maior concentração de pessoas pardas (51,4%) e uma predominância de jovens acima do índice geral paulistano (7,8% têm de 15 a 19 anos, enquanto na cidade é de 6,3%).
As informações são de análise da Folha a partir do Censo 2022. Após disponibilizar dados demográficos por cidades, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quinta-feira (14) informações sobre setores censitários, as regiões percorridas pelos recenseadores para a pesquisa. Com isso, é possível ter uma visão bem mais detalhada sobre bairros ou distritos das cidades brasileiras.
Ao considerar o recorte racial, Alto de Pinheiros era o segundo maior distrito com predominância de brancos em 2010, e agora passou a ser o primeiro, desbancando Moema, que hoje é o segundo, com 85,6%. Além de ser o mais branco, Alto de Pinheiros tem a menor parcela de pessoas autodeclaradas pardas da cidade, de apenas 7,6%. No Brasil, a representação parda é 45,4%, e na cidade de São Paulo, de 33,4%.
Moema, atualmente, é a região com a menor parcela de moradores pretos. Apenas 1,9%, enquanto a representação brasileira é de 10,2% e a paulista é de 10,1%.
Os dados do IBGE evidenciam que, dos 96 distritos da cidade de São Paulo, brancos são a maior parcela dos habitantes em 80 deles, e pardos são nos outros 16. Pretos, amarelos e indígenas não representam maior parcela em nenhum distrito.
Na capital paulista, o Jardim Ângela, na zona sul, é o distrito com a maior parcela que se autodeclara parda (51,4%). Em números absolutos, são 159.806 pessoas. Comparado ao Censo de 2010, essa população cresceu 5,4% no distrito.
Outro local no qual o maior grupo se identifica como parda é o Jardim Helena, na zona leste, com 49,3%.
A população da cidade de São Paulo é formada majoritariamente por pessoas que se identificam como brancas: são 54,3% de todos os habitantes 6,2 milhões números absolutos. Pardos e pretos são, respectivamente, 33,4% e 10,1% (3,8 milhões e 1,1 milhão). Amarelos e indígenas somam 2,2% (256 mil).
Na comparação entre 2010 e 2022, tanto a população parda quanto a preta cresceu na capital paulista. Em 2010, 30,5% se autodeclararam pardos (3,4 milhões), enquanto pretos eram 6,5% (736 mil).
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De modo geral, o distrito com maior variação de população por recorte racial é a Barra Funda, em parte porque foi a região da cidade que mais recebeu moradores nos 12 anos que separam um Censo de outro. A população mais que duplicou no período, com alta de 132%.
O crescimento de brancos foi de 115,9%, enquanto o de pardos, pretos e amarelos subiu 154,7%, 246,1% e 405,3%, respectivamente.
Para calcular essa variação em porcentagem, a Folha levou em consideração a quantidade absoluta de moradores nessas regiões, para cada tipo de cor ou raça, entre os Censos de 2010 e 2022.
Além da Barra Funda, a Vila Andrade também viu crescer a parcela de sua população branca (alta de 32,1%).
Já a população de pessoas pretas passou a pesar mais em Marsilac, com um crescimento de 157,2% entre 2010 e 2022. Em números absolutos, 463 moradores na região se identificavam como pretos em 2010, número que passou para 1.191. O distrito também mostra a maior variação de população indígena, que saltou de 42 pessoas para 209, crescimento de 397,6%.
A população parda, por sua vez, oscilou de forma positiva em maior destaque em Santo Amaro, na zona centro-sul do município. O número de moradores que se identificavam como pardos foi de 6.150 em 2010 para 10.931 em 2022, uma variação positiva de 77,7%.
REPÚBLICA E BRÁS DESTOAM, COM PREDOMINÂNCIA MASCULINA
A população residente de São Paulo é composta por 11,4 milhões de pessoas, sendo 52,9% (6 milhões) mulheres. Dois distritos destoam do padrão, tendo maior proporção de homens, com uma diferença pequena: República, com 51% de homens, e Brás, com 50,4%.
Em número absoluto, a diferença entre os dois gêneros nesses distritos também é ínfima. Na República, são 1.198 homens a mais do que mulheres; e no Brás, 282.
Em 2010, o cenário era semelhante, com apenas dois distritos nos quais a proporção de homens era maior. Um deles era a República e o outro era Marsilac, com 51% de homens e 49% de mulheres. Hoje, a região é composta por 50,4% de mulheres e 49,6% de homens.
O IBGE não traz detalhes sobre autodeclaração de pessoas transgênero.
ALTO DE PINHEIROS DESPONTA COMO BAIRRO MAIS IDOSO
O perfil etário mudou na cidade entre os Censos. Em 2010, a faixa predominante em todos os distritos era de 30 a 39 anos. Em 2022, destacam-se mudanças como em Alto de Pinheiros, único distrito no qual o maior grupo tem 70 ou mais, o que representa 16,9% dos moradores da região (6.314 idosos).
Os demais 95 distritos de São Paulo se dividem em dois grupos. No primeiro (66 distritos), a faixa etária predominante permanece de 30 a 39 anos. No segundo grupo (29 distritos), a maioria dos moradores têm entre 40 e 49 anos.
O Brás é o local com índice mais alto de pessoas de 30 a 39 anos: são 22,6% dos moradores locais (8.693 pessoas).
Outros distritos se encaixam nesse cenário, como Barra Funda, Bom Retiro, Brasilândia, Consolação Grajaú, Itaquera, Jabaquara, Pinheiros, Pirituba, Santa Cecília, Vila Mariana, São Mateus e Vila Sônia.
Dentre os distritos que se destacam por ter predominância de moradores de 40 a 49, o que tem maior índice é a Vila Leopoldina, na zona oeste, com 18,7% da população nessa faixa (8.572).
Padrão parecido ocorre também em distritos como Campo Belo, Capão Redondo, Freguesia do Ó, Lapa, Mooca, Morumbi, Santana, Santo Amaro, Tatuapé e Vila Matilde.
Para Moisés Ribeiro, professor de ciências políticas da Escola Paulista de Direito, a principal explicação para as diferenças de cor ou raça é a desigualdade social.
“Quando você tem melhor infraestrutura, quando você come melhor e tem uma expectativa econômica melhor, você tem mais longevidade. É essa a dimensão que nós temos que pensar, que estabelece essa distribuição geográfica da população.”
NATÁLIA SANTOS, NICHOLAS PRETTO E DANIEL MARIANI / Folhapress