Aluno de escola particular chega direto à universidade 2 vezes mais do que o da rede pública

É a primeira vez que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão responsável pelo censo, calcula quantos alunos ingressam no ensino superior imediatamente após terminar a educação básica

Imagem ilustrativa | Foto: Reprodução

Alunos que terminaram o ensino médio em escola particular foram direto para o ensino superior quase duas vezes mais do que aqueles que estudaram na rede pública, aponta levantamento do Ministério da Educação.

Segundo os dados do Censo do Ensino Superior, divulgados nesta quinta-feira (3), 59% dos jovens que concluíram o ensino médio em escola particular em 2022 ingressaram em uma graduação no ano seguinte. Entre os alunos egressos de redes estaduais, esse percentual é de 21%.

Dos cerca de 2,2 milhões de jovens que concluíram o ensino médio em 2022, 85% estudavam em escolas estaduais.

É a primeira vez que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão responsável pelo censo, calcula quantos alunos ingressam no ensino superior imediatamente após terminar a educação básica.

“É um dado que nos indica para uma série de problemas no nosso sistema educacional”, disse Carlos Eduardo Moreno, diretor de estatísticas do Inep.

Além dos alunos de escola particular, os egressos da rede federal de ensino também acessam o ensino superior com mais frequência —58% entraram em uma graduação no ano subsequente ao que se formaram.

As escolas federais, no entanto, são responsáveis por apenas 2,6% das matrículas no ensino médio.

Para Jhonatan Almada, membro da Rede de Especialistas em Política Educativa da Unesco, os dados escancaram a baixa qualidade do ensino que é ofertado para a maioria dos estudantes brasileiros e como essa situação compromete o futuro desses jovens.

“As redes estaduais de modo geral não possuem as mesmas condições de funcionamento e organização da rede privada e da rede federal. Além disso, o país nunca regulamentou o padrão mínimo de qualidade e só recentemente começamos a discutir e implementar políticas de permanência para o ensino médio.”

Os dados do censo mostram ainda outras desigualdades, sobretudo a racial. Entre os jovens brancos, 37% entraram em uma graduação no ano seguinte ao que se formaram no ensino médio. Entre os pardos, o número cai para 20%. Para os pretos, é de 17% e chega a apenas 12% para os indígenas.

Mais do que a qualidade do ensino nas escolas estaduais não ser suficiente para os alunos conseguirem a aprovação no ensino superior, Almada destaca o desalento dos jovens para continuar estudando. Muitos alunos sequer cogitam fazer faculdade seja pela necessidade de trabalhar ou por não enxergar o ensino superior como uma perspectiva de melhora.

Segundo o censo, 55,9% dos alunos que concluíram o ensino médio se inscreveram para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2023. Em alguns estados esse percentual é ainda menor. Em São Paulo, por exemplo, foi de 44,8% —o segundo menor índice, atrás apenas de Roraima.

Para Almada, os efeitos negativos do novo ensino médio podem ter aumentado o desânimo dos alunos para cursar uma graduação, já que a queda de inscritos foi maior em estados que implementaram antes as mudanças, como ocorreu em São Paulo.

“Na rede privada e na rede federal esse modelo do novo ensino médio não foi implementado a ponto de modificar a forma como levavam seu trabalho. Contudo, nas redes estaduais esse modelo foi implementado de forma incisiva e que pode ter gerado um impacto negativo na perspectiva de quem conclui essa etapa.”

ISABELA PALHARES E MARIANA BRASIL / Folhapress

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