Alunos mais ricos tiveram maior perda de aprendizado em matemática, aponta Pisa

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Brasil atenuou a desigualdade educacional em matemática nos últimos quatro anos. A distância de desempenho entre ricos e pobres se deve, no entanto, a uma piora no desempenho dos estudantes mais ricos.

Os dados são do Pisa 2022, uma das principais avaliações de qualidade da educação básica do mundo, que foram divulgados nesta terça-feira (5). Os resultados mostram que o ensino no Brasil piorou nas três áreas avaliadas entre 2018 e 2022 —tendência observada também na média dos países ricos.

Esses são os primeiros resultados de uma avaliação internacional que permitem comparar o impacto da pandemia, e do fechamento de escolas, no aprendizado dos alunos em diferentes locais do mundo. O Pisa avaliou 690 mil estudantes de 15 anos, em 81 países e regiões do mundo em 2022. A prova, que costumava ser aplicada a cada três anos, precisou ser adiada em um ano por causa da pandemia.

Os dados mostram que a crise sanitária teve um impacto global negativo sem precedentes, com queda significativa na nota média dos países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) nas três áreas avaliadas.

No Brasil, a queda mais acentuada foi verificada em matemática. A média do país caiu 5 pontos no período, passando de 384 para 379.

A diminuição é puxada pela perda de rendimento dos estudantes mais ricos, que perderam 13 pontos, passando de 438 para 425 pontos. Enquanto isso, os estudantes mais pobres permaneceram no mesmo patamar, com 348 pontos.

Assim, a distância de notas de matemática entre os alunos mais ricos e mais pobres no Brasil diminuiu de 90 para 77 pontos entre 2018 e 2022. Ainda assim a diferença equivale a quase 3,5 anos de aprendizado.

Na média dos países da OCDE, foram os estudantes mais pobres que tiveram maior perda em matemática. A nota deles teve uma queda de 17 pontos, passando de 448 para 431. Entre os mais ricos, a perda foi de 10 pontos, saindo de uma nota de 535 para 525.

Ou seja, os estudantes mais ricos do Brasil tem notas inferiores aos mais pobres da média da OCDE.

O relatório divide os alunos participantes em quatro grupos, de acordo com critérios socioeconômicos e culturais.

“O Brasil tinha resultados tão ruins antes da pandemia, que quase não teve impacto na nota dos estudantes mais vulneráveis. Isso mostra como o nosso sistema educacional já ia muito mal”, diz Mozart Neves Ramos, catedrático do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Ele também destaca os baixos resultados do país mesmo entre os estudantes mais favorecidos economicamente. “A nota dos nossos alunos mais ricos equivale a de países como o Cazaquistão. A gente precisa encarar que o nosso ensino de matemática vai muito mal de uma maneira geral. Temos uma crise nessa área”, diz.

Claudia Costin, do Instituto Singularidades, diz que, embora o patamar do Brasil seja ruim e inaceitável, os resultados trouxeram certa surpresa. “Com o tempo de escolas fechadas, o resultado poderia ter caído ainda mais e ter aumentado de maneira mais importante a desigualdade no desempenho em matemática. E isso não aconteceu”, diz.

Segundo os dados do Pisa, 70% dos estudantes brasileiros têm um desempenho em matemática abaixo do considerado básico para a idade. Segundo a avaliação, esses jovens não alcançam um nível de proficiência adequado para “participar plenamente da sociedade”, ou seja, não conseguem usar os conceitos matemáticos para resolver problemas cotidianos.

A OCDE fez um alerta sobre o aumento da desigualdade educacional pelo mundo durante o período. Singapura, país que obteve o melhor resultado em matemática, tem uma das maiores disparidades entre os alunos mais ricos e mais pobres —com uma diferença de 22 pontos entres eles.

“Alunos menos favorecidos dos países da OCDE têm sete vezes mais chance de não alcançar a proficiência básica em matemática do que os estudantes mais favorecidos. Os países e economias analisados precisam desenvolver ações para dar assistência e reduzir esses efeitos entre os mais pobres”, diz o relatório.

ISABELA PALHARE, PAULO SALDAÑA, NATÁLIA SANTOS E NICHOLAS PRETTO / Folhapress

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