SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estudantes pardos e pretos têm menos acesso do que os brancos a recursos tecnológicos nas escolas brasileiras em todos os níveis da educação, aponta uma pesquisa divulgada pelo Insper nesta terça-feira (18).
O estudo Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil, com informações do Censo Escolar e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), identificou que o país avançou nos últimos anos na oferta de infraestrutura digital para as escolas. A melhoria, no entanto, tem ocorrido de forma desigual, com os alunos pretos e pardos em desvantagem para acessar esses recursos.
Segundo a pesquisa, em 2019, 51% dos alunos brancos tinham em suas escolas acesso a um pacote de itens de tecnologia que inclui um computador para cada cinco alunos, internet com acesso para alunos e para uso nas atividades escolares, banda larga, laboratório de informática e laboratório de ciência. Em 2023, o percentual de alunos brancos que acessavam essa estrutura subiu para 57%.
Já entre os estudantes pardos, esse percentual era de 41% e subiu para 49%, em 2023. Para os alunos pretos, o índice passou de 44% para 50% no período.
“A oferta de recursos tecnológicos sempre foi melhor para alunos brancos. Ela vem avançando para todos os grupos no país, mas as desvantagens raciais continuam se perpetuando”, diz Alysson Portella, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
O levantamento identificou ainda que a oferta de tecnologia tem ocorrido de forma mais expressiva para os estudantes mais jovens. No 5º ano do ensino fundamental, 74% dos estudantes brancos e 68% dos pretos têm acesso aos itens de tecnologia.
No 9º ano do ensino fundamental, esse índice cai para 49% e 43%, respectivamente. No 3º ano do ensino médio, há nova queda para 42% e 36%.
“Poucas escolas têm laboratório de informática e menos ainda têm laboratório de ciências. As escolas se saem melhor com relação ao acesso à internet, tendo quase todas acesso à banda larga, e uma boa parte disponibilizando a rede para aprendizagem e uso dos alunos”, destaca o estudo.
Os pesquisadores destacam que não é possível concluir que o acesso à tecnologia na escola influencia positivamente o aprendizado. No entanto, eles encontraram correlação entre a oferta desses recursos e de melhores resultados educacionais.
“É de se esperar que o índice de exposição à tecnologia esteja também associado a outras características das escolas, como melhor qualidade da gestão, menores salas de aulas ou melhores professores, fatores estes que também estão ligados a maior aprendizado”, diz o estudo.
Para Michael França, coordenador da pesquisa, em diversos aspectos o país destina pior qualidade e infraestrutura para estudantes de regiões periféricas, onde a população é majoritariamente negra.
“As escolas situadas nessas áreas desfavorecidas frequentemente carecem de recursos importantes, como bibliotecas adequadas, laboratórios de ciências bem equipados, acesso à tecnologia e ambientes de aprendizagem seguros e confortáveis. Essa falta de infraestrutura adequada impacta diretamente a qualidade da educação que os estudantes dessas regiões recebem, perpetuando o ciclo de desigualdade”, diz o pesquisador, que é colunista da Folha.
Um levantamento feito pelo Observatório da Branquitude e divulgado em abril apontou que escolas públicas em que a maioria dos estudantes é negra têm estrutura pior do que as unidades em que a maior parte das matrículas é de brancos. Essa desigualdade é percebida na existência de bibliotecas, laboratórios, quadra de esportes e até mesmo rede de esgoto.
O estudo do Insper cita ação do governo Lula (PT) que instituiu em setembro do ano passado a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, com a meta de assegurar que todas as escolas públicas da educação básica disponham de conexão adequada até 2026.
“A institucionalização dessa estratégia constitui-se, sem dúvida alguma, em passo importante para superação dos desafios relacionados à conectividade”, afirma a pesquisa.
“Contudo, resta ainda um desafio para regulamentação e implementação dessa estratégia, que deve levar em conta, obrigatoriamente, a redução das disparidades regionais e raciais no acesso à tecnologia”, conclui o estudo.
ISABELA PALHARES / Folhapress