Amorim minimiza ausência de Ucrânia e Rússia em reunião do Brasil sobre guerra na Europa

NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O assessor internacional de Lula (PT), embaixador Celso Amorim, minimizou nesta sexta-feira (27) a ausência de Rússia e Ucrânia da reunião copresidida por Brasil e China para discutir um plano de paz para a guerra no Leste da Europa.

A iniciativa é rejeitada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e considerada por EUA e aliados no Ocidente como pró-russa.

De acordo com Amorim, as partes diretamente envolvidas no conflito se juntarão à proposta “quando o momento certo chegar”.

“[Ucrânia e Rússia] Serão parte do processo, quando o momento certo chegar. É natural, vocês já estudaram história. Quantas vezes um país achava que ia ganhar guerra com facilidade e depois ficou difícil. Às vezes tem que chegar esse momento e ainda não chegou, mas vai chegar. Estamos conversando. E, quando chegar [o momento], vamos dizer: ‘olha tem um caminho para voltar a paz'”, disse Amorim, ao final do encontro.

Brasil e China organizaram a reunião para divulgar a proposta conjunta de um plano de paz para Ucrânia e Rússia. O documento foi anunciado em maio, durante uma visita de Amorim a Pequim, e assinado por ele e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.

Dezessete países do chamado Sul Global, termo não oficial usado por esse grupo para se referir a nações em desenvolvimento, participaram do encontro. São eles: África do Sul, Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Etiópia, Indonésia, Cazaquistão, Quênia, México, Tailândia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Vietnã e Zâmbia.

Três governos europeus escalaram observadores: França, Suíça e Hungria.

Amorim disse que um texto entre os participantes foi negociado e que apenas os Emirados Árabes não o endossaram. “[Houve] uma pequena observação de um país que não poderia assinar porque já estava envolvido em outras negociações”, disse Amorim, referindo-se aos Emirados.

O plano sino-brasileiro divulgado em maio consiste em seis pontos, entre os quais a realização de uma conferência internacional de paz “que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes”.

A proposta também engloba a rejeição ao uso de armas de destruição em massa e aos ataques contra usinas nucleares —e rechaça a “divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados”.

Os termos do documento foram rejeitados por Zelenski —que chamou a proposta de destrutiva— e por aliados de Kiev no Ocidente. Em linhas gerais, estes consideram que a abordagem sino-brasileira premia a Rússia e autorizaria o governo de Vladimir Putin a anexar territórios ocupados.

O próprio Zelenski se referiu ao plano durante seu discurso na Assembleia-Geral da ONU. Ele acusou Brasil e China de viabilizarem indiretamente os avanços de Vladimir Putin.

“Quando alguns propõem alternativas, acordos frágeis ou, ainda, ‘conjuntos de princípios’, eles não apenas ignoram os interesses e o sofrimento dos ucranianos […], como dão a Putin espaço de atuação política para continuar a guerra”, afirmou Zelenski na na quarta (25).

“Talvez alguém queira incluir um Nobel em sua biografia por um acordo de cessar-fogo em vez de uma paz efetiva. Mas os únicos prêmios que Putin lhe dará em troca são mais sofrimento”, declarou o ucraniano, em referência velada a Lula.

MARIANNA HOLANDA E RICARDO DELLA COLETTA / Folhapress

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