BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, questionou nesta quinta-feira (15) a resistência à realização de novas eleições para resolver a crise na Venezuela, argumentando que os atores que se declararam vencedores certamente “ganhariam de novo”.
Amorim, no entanto, afirmou que não existe uma proposta oficial dele ou do presidente Lula (PT) para que um novo pleito fosse realizado e que ele próprio ouviu a ideia de um ator estrangeiro. Disse que é uma ideia que “está aí” e que, se ela ocorresse, precisaria de uma “supervisão internacional robusta”.
O assessor especial ainda acrescentou que o governo brasileiro vai seguir insistindo pelas atas dos centros de votação do regime de Nicolás Maduro. E acrescentou que o Brasil não vai reconhecer o governo se elas não aparecerem.
“Não posso fixar um ultimato, porque um ultimato, se você cumpre, é um desastre. E se não cumpre perde a credibilidade”, afirmou.
“Não creio que, se não houver algum acordo que possibilite avançar, não vamos reconhecer um governo se essas atas não aparecerem”, completou
Amorim também afirmou que o caminho do diálogo é considerado difícil, mas que precisa ser tentado. Acrescentou ainda que o presidente Lula deve falar novamente sobre Venezuela com o presidente americano Joe Biden, ainda nesta semana.
O assessor também afirmou que o Brasil se ofereceu para enviar um avião e retirar os assessores da opositora Maria Corina Machado, que estão na embaixada da Argentina. E que a oferta está de pé. Amorim ainda disse que Maria Corina mantém contato de alto nível com autoridades brasileiras.
“Eu nunca fiz uma proposta, nunca fizemos uma proposta de novas eleições. É um tema, eu ouvi isso pela primeira vez, não posso dizer de quem, mas foi de um não brasileiro, num desses muitos contatos. ‘Como é que vamos resolver?’ ‘Só se fizer novas eleições’. Eu acho que o curioso de novas eleições é que tanto um quanto outro poderia aceitar facilmente, se eles dizem que ganharam, ganhariam de novo”, afirmou o assessor especial.
“Se houvesse novas eleições, teria que ser com uma verificação importante, sólida, robusta, mas isso implicaria também o levantamento de sanções [por parte da União Europeia]. Mas isso é uma ideia que está aí, como surgiram outras. Presidente [Gustavo] Petro [da Colômbia] já falou publicamente também em garantias recíprocas”, completou.
Amorim participa de audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ele foi convidado pelos parlamentares para dar explicações sobre a crise na Venezuela e a posição do governo brasileiro.
Também nesta quinta-feira, o presidente Lula afirmou em entrevista a uma rádio que não reconhece o ditador Nicolás Maduro como vitorioso nas eleições da Venezuela e sugeriu um governo de coalizão ou mesmo um novo pleito como saídas para a crise no país vizinho.
“Ainda não [reconheço Maduro como vitorioso], ele sabe que está devendo explicação para a sociedade brasileira e para o mundo, ele sabe disso”, disse.
“Se ele [Maduro] tiver bom senso, podia tentar fazer conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer critério de participação de todos os candidatos, criar comitê eleitoral suprapartidário, que participe todo mundo e deixar que participem olheiros. O que não posso é ser precipitado e tomar decisão. Quero respeitar soberania dos outros países”, declarou.
A Venezuela vive uma crise interna desde as eleições presidenciais realizadas no fim de julho.
O ditador Nicolás Maduro foi proclamado reeleito pouco depois do pleito, mas o resultado é amplamente questionado pela oposição e por alguns líderes regionais.
O Brasil e outros países têm pressionado o regime para que divulgue as atas que comprovariam a lisura do pleito. As autoridades venezuelanas ainda não deram transparência a esses documentos até o presente momento.
Amorim afirmou durante a audiência no Senado que o governo seguirá exigindo as atas, mesmo que isso desagrade ao regime de Nicolás Maduro.
“Não sei se agrada ou não ao presidente Maduro, mas nunca deixamos de insistir nas atas”, afirmou.
Ele acrescenta que também existe a possibilidade de que a própria justiça anule a eleição, “se verificar que a vontade popular não está sendo respeitada”. E nesse caso haveria como consequência a realização de um novo pleito.
O assessor especial também afirmou que o caminho do diálogo para resolver a crise venezuelana é considerado difícil, mas que precisa ser tentado. Amorim ainda defendeu a atuação do Brasil e de outras lideranças regionais para lidar com a crise venezuelana, ressaltando que há resistência de governos que ele descreve como progressistas à presença de potências.
Celso Amorim ainda afirmou que o Brasil ofereceu enviar um avião para retirar membros da oposição que estão asilados na embaixada Argentina, agora sob tutela e responsabilidade brasileira. E acrescentou que a oferta ainda está válida.
“Queria acrescentar que o governo brasileiro, não eu, o governo brasileiro, há mais tempo ofereceu inclusive retirar os assessores da senhora Corina que estão presos ou exilados na embaixada do Brasil. Brasil está interessado e continuará interessado em resolver e ajudar na questão de direitos humanos”, afirmou o assessor especial.
“Mas estamos enfrentando um perigo mais imediato, que é de um conflito muito grande. Estamos tentando resolver esses antes e depois os outros. Aliás, não necessariamente sequencialmente. Até porque essa oferta, até mandar um avião brasileiro para retirar as pessoas que estavam antes na embaixada da Argentina e agora sob os cuidados brasileiros, para retirá-los de lá. É uma oferta que está de pé”, completou.
Durante reunião ministerial, na quinta-feira (8), Lula mencionou a hipótese de convocar novas eleições, para tentar solucionar a crise interna venezuelana. Amorim tem dito que a ideia ainda é embrionária e não uma posição oficial do governo.
O presidente conversou nesta quarta-feira (14) com seu homólogo colombiano, Gustavo Petro, para discutir a situação da Venezuela. Brasil e Colômbia vêm atuando de maneira articulada, para tentar negociar e avançar com uma solução para a Crise.
Inicialmente, as articulações também contavam com o mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador. No entanto, o presidente do México anunciou em uma entrevista coletiva que não iria mais participar, argumentando que esperaria a posição do Tribunal Supremo de Justiça órgão máximo do Judiciário venezuelano e aparelhado pelo chavismo sobre as eleições.
RENATO MACHADO / Folhapress