FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – Os riscos dos cigarros eletrônicos para a saúde já foram demonstrados por pesquisas e especialistas. Um deles é o acúmulo de substâncias nocivas nos pulmões, como nicotina, produtos tóxicos e até mesmo metais pesados.
Além disso, há o risco de muitos cigarros eletrônicos serem adulterados com substâncias consideradas perigosas para risco cardíaco. É o que detectou uma análise de DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar) em Joinville (SC). O laudo encontrou anfetamina nos vapes.
“Acredito que os fabricantes inserem a octodrina nos cigarros eletrônicos de forma proposital”, afirma João Barnache, superintendente da Polícia Científica de Joinville (SC), responsável pela descoberta. A substância, que faz parte do grupo das anfetaminas, foi detectada em análise de amostras de dez marcas.
A presença da anfetamina nos DEFs foi descoberta pelo laboratório de toxicologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) junto com a Polícia Científica. Apesar do resultado da análise, é cedo para afirmar que a substância está presente de forma generalizada, segundo autoridades envolvidas na investigação.
A octodrina é uma anfetamina de composição mais simples em comparação às drogas mais difundidas como o MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina). O principal efeito é o aumento da frequência e a pressão cardíaca.
Camila Marchioni, coordenadora do laboratório de toxicologia da UFSC, afirma que a octodrina tem alto potencial aditivo. Isso se deve à estimulação do sistema nervoso que libera a dopamina, neurotransmissor associado à euforia e à felicidade.
A composição descoberta não é declarada no rótulo em nenhuma das dez marcas analisadas. Também não possui aplicabilidade em mercadorias regularizadas. Segundo Marchioni, só há registros da substância em produtos clandestinos como suplementos alimentares e remédios para emagrecimento.
“Minha preocupação é a desinformação, muitos consumidores acham que estão vaporizando água quando, na verdade, estão ingerindo uma substância que ainda não se sabe os efeitos de seu uso crônico para a saúde”, afirma a pesquisadora.
Uma próxima etapa agora é investigar o impacto da vaporização da octodrina na saúde.
Segundo Barnache, da Polícia Civil, devem ser feitas investigações em outros laboratórios para ver se encontram resultados semelhantes. “O resultado da análise ainda é uma novidade para nós”, diz.
A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina não soube informar se a anfetamina está presente em DEFs em outros municípios. Em nota, a pasta afirma que o setor técnico não distingue a apreensão de tipos diferentes de cigarros contrabandeados na base de dados.
A comercialização, importação e propaganda de DEFs é proibida desde 2009. Em maio deste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nova resolução que mantém a proibição dos cigarros eletrônicos no país. O órgão também veda a propaganda, fabricação, importação, distribuição, armazenamento e transporte dos dispositivos eletrônicos para fumar.
FELIPE BRAMUCCI / Folhapress