SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar da recente investida do governo Lula na Eletrobras (ELET3, ELET5 E ELET6), analistas seguem com uma visão positiva para a companhia e recomendam a compra do papel.
Investidores calculam que o atual acordo sobre a mesa, com 30% do conselho da Eletrobras para a União, teria pouco impacto na governança da companhia. Além disso, o negócio seria positivo para a empresa do ponto de vista financeiro, com a amortização da dívida de R$ 32 bilhões da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) e a venda da operação em energia nuclear, que demanda altos investimentos.
“A conclusão desta disputa acabará por reduzir o risco da ELET3 e será positiva para os acionistas no médio a longo prazo. A resolução desses temas-chave para a Eletrobras melhoraria a previsibilidade da geração de caixa”, escrevem os analistas Henrique Peretti e Victor Burke, do JP Morgan, em relatório a clientes.
O banco americano recomenda a compra de ELET3, com um preço potencial de R$ 54 em 12 meses, uma valorização de 40,8%. A estimativa de ganho é a mesma do Goldman Sachs. O UBS BB tem leitura semelhante, com um preço-alvo de R$ 53, um salto potencial de 38,2%.
Os bancos ressaltam o desinvestimento na Eletronuclear, empresa responsável pelas usinas nucleares de Angra 1, 2 e 3, da qual a Eletrobras possui 68% do capital.
“Não ter que botar Angra 3 de pé é uma vantagem. É um projeto complexo, de longuíssimo prazo, que depende de um aval de tarifa do CNPE [Conselho Nacional de Política Energética]”, diz Vitor Sousa, analista da Genial.
A estimativa é que as obras para finalizar a usina tenham um custo de R$ 20 bilhões para a Eletrobras, que ainda não sabe qual será o retorno com a tarifa indefinida.
O acordo, porém, não está selado. Analistas dizem que o risco de uma maior interferência do governo não está descartada, o que poderia minar a atual agenda de redução de gastos da companhia.
“A Eletrobras privada, se livrando desse pepino, seria um cenário positivo”, afirma Souza. A Genial tem um preço-alvo de R$ 52 para o papel, alta potencial de 35,6%.
A empresa foi privatizada em junho de 2022, pelo governo Bolsonaro, a R$ 42 por ação, uma queda de 8,7% em relação à cotação da ELET3 na última sexta (2), a R$ 38,35.
A maioria dos brasileiros que usaram recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar ações da oferta da privatização seguem com os papéis na carteira. Dos 372 mil trabalhadores que aportaram no FMP (Fundo Mútuo de Privatização) da elétrica, restam 299 mil, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria.
De acordo com especialistas, a recomendação é justamente essa. Segurar o papel e esperar que a ação volte a subir.
A expectativa do mercado é que, sem o governo, a empresa reduza seu custo operacional. Para isso, ela tem cortado funcionários, reduzido salários e se desfeito de ativos, como um parque termoelétrico para a Âmbar Energia por R$ 4,7 bilhões.
“A empresa está melhorando, mas ainda há muito a fazer. Quando comprado aos pares, a Eletrobras ainda tem custos elevados e isso penaliza a ação, principalmente em um mercado avesso a risco, como agora”, afirma Ricardo Salim, analista da Valor Investimentos, cujo preço-alvo é de R$ 61, ganho potencial de 59%.
No intervalo entre a privatização da companhia até agora, o Ibovespa se valorizou 17,46%. Em 2024, porém, cai 6%.
“A Eletrobras pegou ventos negativos depois que foi privatizada, mas acreditamos que é um bom investimento a longo prazo. Com o preço da energia melhorando, ela deve melhorar”, diz Salim.
Com a seca entre 2021 e 2022, o preço da energia no Brasil encareceu, beneficiando a companha, mas desde 2023, com a volta das chuvas, a tarifa tem caído. O problema é que muitos contratos acabaram sendo renovados com o preço menor, e mais atual, como base.
A expectativa é que os contratos, geralmente de dez anos, encurtem com a empresa privatizada, justamente para evitar esse risco.
“A empresa tem tudo para andar, mas tem que fazer o dever de casa. Essa é a grande expectativa, porque ela está barata na Bolsa e, com isso, vai gerar valor e pagar muitos dividendos”, diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do escritório de private banking Andbank, também com um preço-alvo de R$ 52.
Do ponto de vista do P/L, preço da ação em relação ao lucro da companhia por ação, um investimento na Eletrobras levaria 20 anos para se pagar apenas com a distribuição de dividendos estimada, indicador elevado para o setor.
No caso da Copel, esse indicador é de 14 anos e da Cemig, 6 anos. Já a CPFL tem um P/L de 7 e Coelba de 6. Engie está com um P/L de 8,6, Taesa, de 8,7 e Energisa de 9. ISA CTEEP negocia a 6, Neoenergia, a 5 e Equatorial a 12. Já AES, focada exclusivamente na geração de energia é mais cara, com um P/L de 40.
Segundo analistas o valor da Eletrobras se deve ao seu portfólio de 100 usinas em operação, gerando 22% da energia elétrica do Brasil, e 73,8 mil quilômetros em linhas de transmissão, equivalente a 37% do total no país.
RAIO-X DA ELETROBRAS
Fundação: 1962
Lucro líquido em 2023: R$ 4,4 bilhões
Receita bruta em 2023: R$ 44,5 bilhões
Concorrentes: Alupar, AES, CTEEP, Cemig, Copel, Celesc, CPFL, EDP Brasil, Eneva, Engie, Equatorial, Neoenergia e Taesa.
JÚLIA MOURA / Folhapress