Angeli recebe homenagem em festa que celebra seu legado e a cena punk rock

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cartunista Angeli será homenageado nesta quarta-feira com uma festa com os principais nomes do movimento punk rock do Brasil, que completa nesta semana quatro décadas de existência.

O objetivo do evento é comemorar de uma só vez a chegada da cena ao Brasil e o aniversário de 67 anos do cartunista, considerado um dos nomes mais importantes da arte brasileira. Ele criou personagens emblemáticos, como Bob Cuspe, que marcou gerações com seu humor ácido e postura anárquica.

Participam da homenagem bandas como Inocentes, considerada fundamental para o punk rock, além de Cólera, Olho Seco e outros grupos.

A homenagem acontecerá em Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, às 21h. Ela será restrita a

pessoas próximas ao artista. “O evento será uma grande celebração dos 40 anos desse personagem tão icônico e atual que é o Bob. Vamos celebrar a longevidade do personagem e, sobretudo, fazer uma homenagem ao Angeli, no dia do seu aniversário”, afirma Carolina Guaycuru, mulher do cartunista.

“Bob Cuspe representa um momento cultural importante, a influência do movimento punk, que estava nascendo em São Paulo na época e que até hoje ressoa”, diz ela, acrescentando que sua missão é manter o legado do artista vivo. “Assim, as futuras gerações poderão ter acesso fácil ao trabalho dele, que sempre foi feito no impresso, como em jornais e revistas”, afirma Guaycuru.

“Vai ser uma reunião de amigos, de fãs, de pessoas que admiram o trabalho do Angeli e se identificam com o Bob Cuspe”, afirma Christine Caterina, sócia-fundadora da Fresh People, hub de fomento à cultura underground responsável pela homenagem.

Christine afirma que o evento é importante para celebrar o artista ainda em vida. No ano passado, ele anunciou a aposentadoria após receber um diagnóstico de afasia, condição neurodegenerativa que prejudica a comunicação e, conforme evolui, incapacita o paciente de se expressar de forma verbal ou escrita.

“Nesse momento em que a primeira tira do Bob Cuspe completa 40 anos, a gente decidiu celebrar tudo o que tem direito, inclusive comemorar o fato de uma animação punk brasileira quase ter chegado ao Oscar”, diz ela, ao ser referir ao longa de stop-motion “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente”.

Lançado em 2021, o longa foi selecionada para o Festival de Annecy, o mais importante dedicado à animação no mundo, onde acabou laureado com o prêmio de melhor filme. Além disso, entrou na corrida para tentar uma vaga no Oscar da categoria.

A obra mistura ficção com documentário ao apresentar para o público um boneco de Angeli. Ele fala sobre a vontade de matar o punk esverdeado que dá nome à obra, e que logo é posto em cena, habitando um mundo pós-apocalíptico que é a própria imaginação do cartunista.

Bob Cuspe é um dos trabalhos mais reverenciados de Angeli. De moicano, pele verde, óculos escuros, jaqueta de couro e piercings pendurados pelo corpo, o personagem retratava a geração contestadora e virou um ícone punk entre os anos 1980 e 1990.

Bob Cuspe é uma espécie de alter ego de Angeli, que publicou suas obras nas páginas da Folha de S.Paulo por mais de quatro décadas. O convite veio da cartunista Hilde Weber, mulher do jornalista Cláudio Abramo, que foi diretor de redação do jornal.

A colaboração começou em 1973 e se tornou fixa dois anos depois. Nesse período, ele criou a tirinha diária “Chiclete com Banana”, lançando personagens como Rê Bordosa, Wood & Stock, os Skrotinhos, além de Bob Cuspe. Em 1985, a tirinha se transformou em uma revista de quadrinhos independente que se tornou um sucesso editorial, vendendo mais de 100 mil exemplares.

Ao longo de sua carreira, Angeli construiu um humor próprio, com a cara de São Paulo. Retratou tipos urbanos em seus personagens, marcados pelo caráter crítico, característica que é parte da personalidade de Angeli.

“Sou crítico e, por isso, tenho direito de criticar qualquer lado”, disse em entrevista em 2015. “Fui feito para entrar em confrontos. Sempre tentei criar confrontos com o jeito de tratar os políticos.”

Redação / Folhapress

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