SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Posts nas redes sociais desinformam ao espalhar que animais resgatados por ONGs e ativistas durante a tragédia das chuvas no Sul estejam sendo levados para outras cidades para adoção definitiva, sem dar chance de seus tutores encontrá-los. Não há evidência de que isso esteja ocorrendo.
Uma publicação com a afirmação enganosa, visualizada mais de 2,3 milhões de vezes até 29 de maio, usa foto publicada originalmente no perfil do X de Leila Pereira, presidente do clube Palmeiras. Na publicação, de 21 de maio, ela escreveu: “Hoje trouxemos mais 100 cães e gatos do RS. Quero agradecer a todos estes heróis e heroínas que estão nesta luta para salvar vidas!”.
Leila disponibilizou seu avião para transportar os animais até São Paulo. Parte do trabalho foi feito pelo empreendedor Esdras Andrade, que, em seu perfil no Instagram, afirmou que trará para a capital paulista, nesta quinta-feira (30), outros cem cães e gatos que serão doados depois de 90 dias –ou seja, não sem antes dar a chance para que sejam encontrados por seus tutores.
A maioria dos animais retirados das cidades atingidas pelas chuvas já vivia em ONGs gaúchas e foram levados a outros estados para que outros fossem acolhidos nos abrigos do Sul. Além disso, os resgatados são encaminhados para lares temporários e serão devolvidos aos tutores, caso sejam reconhecidos. Não há indícios de feiras para adoção de pets das famílias atingidas.
A ativista Luisa Mell, que ajudou na busca por animais e promoveu uma feira de adoção em Florianópolis com cachorros resgatados do Rio Grande do Sul, esclareceu que os animais doados estavam em abrigos ou em lares temporários antes da tragédia das chuvas. “Optei por ajudar desta forma para não tirar a oportunidade de tutores encontrarem seus peludos”, informou à Folha de S.Paulo. A previsão da ativista é que novas feiras aconteçam em São Paulo e em Minas Gerais. “Pretendo voltar lá [ao Sul] em breve e começar a retirar animais. Melhor deixá-los morrer?”, questiona Luisa.
O Instituto Caramelo (ex-Instituto Luisa Mell), que também atuou nos resgates, disse ter levado a Ribeirão Pires, no interior paulista, 20 animais resgatados que precisavam de internação. Os bichos estão catalogados e, se identificados pelos tutores, também serão levados de volta.
Quem também tirou animais do estado gaúcho foram as ONGs paulistas Confraria Miados e Latidos e Enquanto Houver Chance. Cada uma levou de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, a São Paulo 32 gatos, como mostrou a Folha de S.Paulo. A Confraria informou que 23 eram filhotes e não tinham tutores e, por isso, seguiram para a adoção. Ainda segundo eles, outros quatro parece que tinham lares e estão em hospedagem paga, e cinco estavam em péssima situação de saúde, precisando de tratamento. “Estamos empreendendo todos os esforços para encontrar os possíveis tutores”, informou a organização.
Autoridades
O governo do Rio Grande do Sul assinou um acordo com o Grad (Grupo de Resposta a Animais em Desastres), que prevê assistência aos animais resgatados. Até o momento, a Defesa Civil estadual já contabiliza mais de 12 mil salvamentos. A estimativa é que o número de animais resgatados possa chegar a 20 mil.
Em nota, o Grad informa que o encaminhamento de cães e gatos a outros estados está priorizando animais entregues voluntariamente por moradores da região, identificados como animais de rua ou oriundos de maus-tratos. “E, se porventura algum animal com tutor for identificado, viabilizaremos seu retorno”, diz o texto.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul emitiu uma nota técnica que prevê, entre outros pontos, prazo de pelo menos dez dias para que os tutores possam resgatar seus animais, antes de eles serem disponibilizados para adoção. O órgão também estabelece que os bichos devem ser acolhidos em lares provisórios e, se estiverem em condições de maus-tratos, deverão ser destinados à adoção e o tutor será suscetível à responsabilização criminal.
Ativistas e ONGs criaram diferentes bancos para a busca de animais resgatados nas cidades gaúchas. No site adoters.org.br, tutores podem tentar encontrar seus pets ou acessar uma lista de sites e contas que também buscam ligar os bichos aos donos.
Redação / Folhapress