Anitta enfim entra de cabeça no funk exportação em ‘Funk Rave’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não é de hoje que Anitta faz música pensando no sucesso para além das fronteiras do Brasil. Também não é de hoje que ela aposta no funk como uma das vertentes estéticas de sua carreira –antes, quando começou no Rio de Janeiro, e também depois, em sucessos como “Vai, Malandra”.

Mas Anitta talvez nunca tenha usado tão profundamente o ritmo numa música para consumo externo como em “Funk Rave”, single que abre os trabalhos de seu próximo álbum –ainda sem título ou previsão de lançamento. A música chegou às plataformas de streaming na noite desta quinta-feira (22).

Com uma carreira de sucesso há pelo menos uma década no Brasil, a cantora foi mirando as plateias externas primeiro pelo reggaeton, inicialmente com parcerias com Maluma e J Blavin. O projeto “Check Mate”, de 2017, com quatro clipes e músicas, foi um marco nesse sentido, com a funkeira “Vai, Malandra” estourando nacionalmente e “Downtown” na América Latina.

Mas especialmente a partir de “Girl From Rio”, de dois anos atrás, a carioca mostra que quer entrar com mais força no mercado americano e também no europeu. A música usou um sample de “Garota de Ipanema”, sinônimo de Brasil no exterior, e batidas suaves de um trap-pop no estilo de Ariana Grande.

“Versions of Me”, lançado no ano passado, foi o trabalho que consolidou essa visão de trabalhar em três frentes –Brasil, América Latina e o norte global, com foco nos Estados Unidos. Mas havia uma certa desproporção.

O funk que marcou sua fama em seu país de origem ficou de lado em relação às músicas de pegada latina –a blockbuster “Envolver” é a mais marcante– e com cara de pop americano –“Boys Don’t Cry” é a maior delas.

Todo esse processo, junto ao trabalho de sua imagem, fez Anitta ser conhecida nos Estados Unidos. Ela cantou no Coachella, ganhou perfil no New York Times e até concorreu a um Grammy em uma das quatro categorias principais. Mas o Brasil era uma bandeira mais levantada nos cenários de seu palco, entrevistas e posicionamento do que na sonoridade.

Nesse sentido, “Funk Rave” indica uma mudança de direção. Com produção do carioca DJ Gabriel do Borel, que já assinou música com a espanhola Rosalía e virou verso de Caetano Veloso, a batida eletrônica em do ritmo brasileiro surge em primeiro plano, enquanto Anitta canta em inglês, espanhol e até um versinho em português.

“Funk Rave” não soa como uma música que poderia tocar num baile funk de Rio de Janeiro ou de São Paulo, mas é uma construção de funk com elementos pop bem no estilo de Anitta. Não à toa, o produtor Diplo –que já trabalhou com a brasileira no hit “Sua Cara”– assina a produção com o DJ carioca.

Mais pesada e acelerada que as últimas músicas de Anitta, “Funk Rave” soa cosmopolita e urbana. Ela abre caminho para uma exploração mais ampla dos elementos da música brasileira nessa roupagem pop globalizada. Ela não mira o funk da batida do Miami bass, popular nos anos 1990 e 2000 no Brasil, mas os graves estourados e os médios eletrônicos do tipo estoura-tímpano que marcam o gênero atualmente.

“Que Rabão”, com participação póstuma de MC Catra, além de Kevin o Chris e produção de Papatinho, foi o funk tipo exportação no qual Anitta apostou em “Versions of Me”. Puxada por pianos que lembram o rap da Califórnia e remetendo a outro single da cantora, “Onda Diferente”, a música se perdia num trap.

Desta vez, as batidas de funk desembocam num drop, uma sequência de batidas que vai crescendo e ficando mais frequente até o refrão –prática consagrada no EDM, o electronic dance music americano, há pelo menos uma década. Diplo é mestre nisso, e assim torna o funk mais palatável a um público acostumado com esse pop radiofônico.

Mas mais interessante que as qualidades musicais de “Funk Rave” é o que a música indica para o futuro. Anitta promete um disco em que busca suas raízes funkeiras, e se apoiar cada vez mais no ritmo brasileiro talvez seja o caminho natural e mais esperto para que a garota de Honório Gurgel entregue uma contribuição original ao pop global.

LUCAS BRÊDA / Folhapress

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