Ao contrário de SP, Bogotá investiu primeiro em infraestutura para ter ônibus elétrico

BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Enquanto São Paulo esbarra na falta de infraestrutura para ampliar a sua frota de ônibus elétricos, Bogotá tem conseguido expandir o uso desse tipo de veículo em seu transporte público –e, assim, pode virar um exemplo para cidades brasileiras.

A capital colombiana já tem a segunda maior frota de ônibus elétricos da América Latina, atrás apenas de Santiago.

Enquanto a capital chilena tem cerca de 2.000 veículos desse tipo em seu sistema público, Bogotá conta atualmente com 1.486, número que tem crescido recentemente. Assim, 14% da atual frota de 10,6 mil coletivos da cidade são movidos a bateria.

Mas a liderança de Santiago pode não durar muito. A Colômbia já prepara uma licitação para dobrar a frota elétrica de ônibus de sua capital, que assim ultrapassaria 3.000 veículos.

Já em São Paulo, atualmente apenas 0,9% da frota é elétrica. Dados da gestão Ricardo Nunes (MDB) apontam que são 118 veículos desse tipo no sistema público de transporte, que ao todo conta com 13.289 coletivos.

A responsável por esse processo de eletrificação do sistema público de Bogotá é a TransMilenio, uma empresa pública que faz a gestão do transporte coletivo da cidade, semelhante ao papel desempenhado pela SPTrans em São Paulo. Diretora de planejamento da entidade, Deysi Rodríguez estima que o uso dos 1.486 coletivos elétricos geram uma redução anual de 94 mil toneladas de gás carbônico.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, em março, a gestão Nunes tem encontrado dificuldades para viabilizar sua promessa de encerrar o ano com 2.600 modelos movidos a bateria, o equivalente a 20% da frota. A falta de garagens com infraestrutura para carregar os veículos é o maior entrave para a expansão.

A prefeitura aponta como principal culpada pela demora a Enel, concessionária que atende o município.

A empresa também tem a concessão de energia em Bogotá. Na cidade, porém, o contrato já prevê que ela é responsável tanto pela construção da rede de distribuição para o carregamento dos ônibus quanto pela aquisição dos veículos. Isso não existe no caso paulistano

Segundo especialistas no setor, o poder público brasileiro falhou ao ignorar o processo de implementação da infraestrutura nos contratos com as concessionárias firmados em 2019, e somente em setembro de 2023 houve um aditivo para a subvenção da compra de ônibus em São Paulo.

“Não há qualquer compromisso seja das operadoras, seja da prefeitura ou da Enel de como e quando será feita essa implementação. Isso, aliás, está criando uma barreira à entrada de novos veículos no sistema, pois a prefeitura proibiu a incorporação de veículos a diesel”, afirma o planejador urbano Rafael Drummond.

“Santiago e Bogotá estão mais avançados porque assumiram a responsabilidade da eletrificação e separaram todas as etapas dos contratos. Em São Paulo, a prefeitura espera que setor privado resolva o carregamento ao invés de ter um projeto próprio”, diz Rafael Calabria, coordenador de mobilidade urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor).

A TransMilenio oferece dois modelos de concessão para o transporte público. No primeiro, a Enel é a responsável pelo pátio elétrico e poderá arrendá-lo às empresas de ônibus. No segundo, as próprias companhias assumem a construção da garagem.

Bogotá tem, hoje, nove garagens com a frota 100% elétrica, além de uma mista, com espaço para abrigar também ônibus movidos a diesel ou GNV (gás natural).

A maior delas, da Green Móvil, tem 40 mil quilômetros quadrados e abriga 406 carros, que transportam por dia 80 mil passageiros.

Inaugurada em abril de 2022, essa garagem custou R$ 100 milhões e tem 119 carregadores com 381 dispensadores de energia (mangueiras de recarga) que podem funcionar simultaneamente.

“Cada ônibus roda, por dia, 210 quilômetros em média, e a bateria tem autonomia para 266 quilômetros”, conta Andres Cerquera, diretor de infraestrutura da Green Móvil.

Para dar conta do recado, a garagem conta com duas subestações com capacidade para abastecer uma cidade com 200 mil moradores e um sistema de combate a incêndio com duas caixas d’água.

Outra solução na cidade foi a construção de uma garagem com um sistema de carregamento aéreo, o que possibilitou carregar os 196 ônibus ao mesmo tempo em uma área de 28 mil metros quadrados.

O local, que tem como dono a empresa La Rolita, é rodeado por um morro na divisa de Bogotá com a cidade de Soacha. O pátio tem uma ilha no qual 21 supercarregadores ficam em um mezanino de ferro. Eles são usados para alimentar 183 mangueiras de abastecimento.

O tempo de recarga pode variar de duas a seis horas, a depender da quantidade de veículos sendo carregados simultaneamente. Um supercarregador tem energia suficiente para abastecer cinco ônibus ao mesmo tempo.

A garagem levou 18 meses para ficar pronta e permitiu que a La Rolita deixasse de emitir 6.000 toneladas de poluentes por ano, afirma o administrador do local, Sebastian Saenz. A empresa se destaca também por ter 60% de motoristas mulheres.

Operadores dos ônibus elétricos apontam como outro atrativo o baixo ruído. “Há muitos motoristas que preferem o elétrico porque se tornam mais tranquilo, pelo nível de ruído do motor em comparação com os modelos tradicionais e o câmbio e a embreagem são mais confortáveis”, diz Jimmy Daraz, gerente de operação da Green Móvil, que emprega mil motoristas.

Com tais soluções e resultados, a Colômbia tem atraído as principais montadoras do setor. A chinesa BYD, por exemplo, fabricou 1.473 dos 1.486 ônibus de Bogotá –os outros 13 foram produzidos pela também chinesa Yutong.

Lara Zhang, gerente regional da BYD no país, afirma que Bogotá tem como principais vantagens a segurança jurídica nas licitações e os incentivos fiscais para importações de veículos.

O jornalista viajou a Bogotá a convite da BYD.

CARLOS PETROCILO / Folhapress

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