Aparição de caravelas no litoral de SP faz nadadores cancelarem treinos

SANTOS, SP E PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O comerciante Alberto Gallani, 54, foi surpreendido por uma movimentação incomum em um dos grupos que possui no aplicativo de mensagens de WhatsApp no último dia 27 de janeiro.

Logo pela manhã, repercutia entre os 74 participantes o cancelamento repentino de um treino de natação em mar aberto, na praia Balneário dos Trabalhadores, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, devido a uma enorme quantidade de caravelas-portuguesas (Physalia physalis) no local.

O grupo faz encontros diários, sempre às 7h, mas ao chegar à praia precisou cancelar pela primeira vez uma atividade neste ano.

“Pessoal, tô aqui no balneário… só na areia: vejam quantas caravelas, hj tá feio… a galera das canoas diz que o mar está lotado delas [sic]”, disse um deles.

“Hoje sem chances de nadar, mas se quiserem tomar café tô esperando vocês [sic]”, acrescentou outro logo em seguida.

Nas últimas semanas, uma série de outros registros da espécie foram feitos por banhistas, nadadores e mergulhadores em praias de municípios do litoral paulista.

“Há também outros grupos em que estamos avisando ou até ligando para os amigos que nadam em Caraguatatuba e Ilhabela”, diz Gallani.

Em Caraguatatuba, a prefeitura diz que oito pessoas já foram encaminhadas neste ano a unidades de pronto-atendimento local devido a acidentes com caravelas ou águas-vivas.

“Toda semana estou no mar para fazer registros e já encontrei muitas delas juntas. E em tamanhos bem acima do que via antes”, conta o fotógrafo e documentarista Rafael Mesquita, que registrou as caravelas na praia de Itaguaré, em Bertioga, Baixada Santista, a cerca de dois quilômetros da praia.

“Fui queimado por uma delas neste ano enquanto mergulhava. Tem partes de tentáculos que se soltam no mar, ficam pela superfície. Já fiquei com vergões por mais de um mês. É uma sensação de ardência, como se fossem fios de náilon queimando”, completou.

A administradora de empresas Ekaterine Platon, 50, moradora de São Sebastião, carregou por semanas as marcas de um acidente com uma caravela durante uma prova de maratona aquática em torno do arquipélago de Alcatrazes, paraíso ecológico a 40 km de Ilhabela, em novembro de 2022.

Na ocasião, ela abraçou involuntariamente uma da espécie nos 800 metros finais. Recebeu atendimento inicial, mas optou por prosseguir na prova. Terminou aplaudida pelos presentes durante a premiação pela resiliência.

“Dei um berro enorme. A lancha de apoio [da prova] se aproximou pensando ter sido um tubarão. Tentei tirar os tentáculos com o braço. Depois, pedi vinagre, mas não havia no momento. Os médicos que viram as marcas não entendem como não tive uma parada cardiorrespiratória. Foi como uma queimadura de terceiro grau com várias agulhadas”, conta.

As prefeituras de Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá e Bertioga informaram não terem atendido vítimas de acidente com o animal.

Mongaguá registrou que duas crianças sofreram queimaduras, mas que não há evidências de que se tratava de caravelas. Elas foram medicadas e liberadas. Peruíbe teve casos semelhantes, porém também não especifica a espécie.

LITORAL GAÚCHO

Nesta temporada, conforme a Operação Verão Total RS, do Corpo de Bombeiros, houve um crescimento superior a 30% em relação ao verão passado envolvendo acidentes com queimaduras no litoral norte, em que estão as praias gaúchas mais populares, como Tramandaí e Capão da Canoa.

Desde meados de dezembro, quando começou a operação, foram em média 543 atendimentos por queimadura por dia considerando todo o litoral. No dia 21, um sábado ensolarado em Tramandaí resultou em 70 atendimentos.

KLAUS RICHMOND E CAUE FONSECA / Folhapress

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