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Apelo de Trump está consolidado, nada consegue miná-lo, diz jornalista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo após um desempenho desastroso no debate com Kamala Harris e declarações xenófobicas que geraram uma enxurrada de críticas, a popularidade do ex-presidente Donald Trump subiu. Segundo o Instituto Gallup, sua taxa de aprovação foi de 41% para 46% no último mês.

Esse é o maior desafio para a rival democrata, na opinião do jornalista americano Michael Wolff, autor de três livros e de um podcast sobre Trump.

“Kamala está indo muito bem, seus números melhoraram, mas os de Trump não pioram. Como derrotar alguém que é dono de 48% do eleitorado?”, diz Wolff em entrevista à reportagem. Ele está lançando em português seu livro mais recente, “A Queda: o Fim da Fox News”, no qual analisa a relação da emissora de direita com o candidato republicano e a disputa entre os herdeiros de Rupert Murdoch.

*

PERGUNTA – O senhor escreveu três livros sobre Donald Trump. A campanha dele está desorganizada, como da última vez?

MICHAEL WOLFF – Sim, mas confusão é um estado comum no mundo de Trump. Caos é provavelmente a palavra mais exata, mas isso não significa que ele não vencerá em 5 de novembro. Todos os dias as pessoas me pedem para avaliar a disputa, e é impossível prever, é literalmente 50/50. Mesmo com o debate [contra Kamala], que foi uma catástrofe para Trump. Não acho que isso faça diferença. Essa disputa será decidida no último momento, é a mais apertada que eu já vi.

P – Trump está perdendo apelo?

MW – Não, muito pelo contrário. O apelo de Trump está consolidado, é sólido, nada consegue miná-lo. Kamala está indo muito bem, seus números melhoraram, mas os de Trump não pioram. Como derrotar alguém que é dono de 48% do eleitorado? O foco são os poucos eleitores indecisos que restam.

P – O sr. ainda mantém contato com Trump? Qual é o humor dele em relação à eleição?

MW – Deixe-me colocar de outra forma: estou extremamente familiarizado com o que acontece na campanha de Trump em quase todos os momentos. Com Trump, o pêndulo oscila quase de hora em hora. Em um momento, ele acha que é o vencedor inevitável da disputa; no próximo, sente que todo mundo, incluindo seus próprios advogados, está contra ele. É uma situação volátil.

P – O sr. tem criticado a forma como a mídia tradicional cobre Trump e o movimento MAGA [Make America Great Again]. A mídia aprendeu?

MW – A mídia não sabe cobrir Trump porque não tem as habilidades necessárias para retratar a experiência de Trump. Os repórteres políticos escrevem como se ele fosse um político, motivado pelas coisas que motivam outros políticos. A mídia deveria ter tirado todos os repórteres políticos da cobertura e trocado pelos que cobrem entretenimento. Os repórteres políticos seguem causa e efeito. O que um político quer? Como ele se propõe a conseguir isso? No caso de Trump, seu objetivo é a atenção para si mesmo, como alguém no show business. Como uma estrela, ele move o público, não o sistema.

P – Seus livros têm diálogos e descrições detalhadas, e alguns críticos dizem que o senhor nunca cita fontes e não se sabe de onde obtém as informações. Como reage a essa crítica?

MW – Obviamente, não me importo com as críticas. Certamente é de enorme valor ter uma cobertura em que há transparência sobre todas as fontes. O problema é quanto se perde com isso, é como se você escrevesse com um dos olhos fechados. Meu interesse é mostrar um quadro mais amplo, mais detalhes, mais motivações, transmitir a experiência.

P – Nós, repórteres, temos tentado cobrir Trump no contexto político desde 2016 ou até antes. O que ainda estamos fazendo de errado, além de tentar racionalizar a loucura?

MW – Um repórter, como a maioria de nós, tem certos pontos de vista e valores. Poderíamos chamar isso de viés, eu chamo de sensibilidades. As pessoas do entorno de Trump são diametralmente opostas ao que o repórter é, pensa e acredita.

Só para dar um exemplo: quando eu estava no julgamento de Trump em Nova York [do caso Stormy Daniels, em que ele foi condenado por fraudar documentos para encobrir pagamentos à atriz pornô], encontrei um ex-colega, um jornalista bem certinho. Ele ficou me dizendo que as pessoas com quem eu falo são muito ruins. Sim, talvez sejam, mas isso não é uma barreira. Minha lealdade é com a reportagem. Eu gosto de pontos de vista diferentes, não importa o quão ruins possam ser.

P – O sr. publicou “A Queda” nos EUA em setembro de 2023. Poucos dias depois, Rupert Murdoch renunciou ao cargo na Fox News. Considera que a emissora está mais próxima do seu fim agora?

MW – Certamente estamos mais próximos do fim. O processo judicial em curso corrobora uma das teses do livro —quando Rupert Murdoch morrer, não há futuro para a Fox News, a menos que, claro, ele consiga convencer um tribunal a mudar os termos de seu truste irrevogável, o que eu duvido [um tribunal de Nevada avalia se Murdoch poderá mudar os termos de seu truste e determinar que, após sua morte, seu filho mais velho, Lachlan, ficará à frente da emissora].

Caso Murdoch não consiga mudar o truste no tribunal, Lachlan será expulso da empresa após sua morte, e a Fox News terá um futuro incerto, como uma TV mais moderada (como desejam os outros três irmãos), ou será vendida.

P – A Fox já está perdendo sua relevância no ecossistema da mídia conservadora? Agora existem Newsmax, One America News Network, os youtubers, o X, com personalidades como Tucker Carlson…

M – A Fox era líder inconteste desse ecossistema. Aí, Murdoch decidiu que não apoiaria Trump e tentou fazer tudo ao seu alcance para impedir que ele se tornasse o candidato republicano. Falhou e agora está de volta à posição de ser lacaio de Trump. Trump agora comanda, como sempre fez, a Fox News.

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RAIO-X

MICHAEL WOLFF, 71

É jornalista e escritor, com passagens pelas revistas New York e Vanity Fair. É autor da trilogia sobre Trump “Fogo e Fúria”, “O Cerco” e “Trump: Debaixo de Fogo”. Wolff se formou em Liberal Arts (curso interdisciplinar de ciências humanas e exatas) na Universidade Columbia.

PATRÍCIA CAMPOS MELLO / Folhapress

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