Apenas 1 em cada 3 relaciona furacões e migrações às mudanças climáticas, aponta Datafolha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A maioria dos brasileiros enxerga a relação entre tempestades (71%) e temporadas de estiagem (59%) com as mudanças climáticas, mas não faz essa conexão quando se trata de outro fenômenos.

Menos da metade da população associa o derretimento das geleiras (47%) e problemas com a safra (39%) ao aquecimento global; o índice fica abaixo de um terço (29%) quanto a migrações humanas e a ocorrência de furacões e tufões (32%).

Os resultados são da pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (2), que tratou da compreensão dos brasileiros sobre as mudanças climáticas. Foram entrevistadas 2.457 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios pelo Brasil, entre os dias 17 e 22 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com taxa de confiança de 95%.

O aumento nas temperaturas do planeta causado pelas emissões de gases de efeito estufa pela humanidade impacta eventos climáticos extremos.

Estudos mostram que o planeta já aqueceu mais de 1,2°C desde o período pré-industrial (1850-1900), que marca o grande aumento na emissão de carbono pelas atividades humanas, e que fenômenos como temporais e ondas de calor, já estão mais intensos e frequentes.

Furacões e tufões, que estão relacionados com oceanos mais quentes, devem aumentar em frequência e poder de destruição.

O aquecimento global também está derretendo geleiras nas regiões polares e em lugares como a Groenlândia –que responde hoje por cerca de 17% do aumento do nível do mar observado de 2006 a 2018. Na Sibéria, o descongelamento do solo da região, conhecido como permafrost, libera ainda mais CO2 na atmosfera.

“Geleiras, tufões e furacões não estão no dia a dia dos brasileiros e talvez essa distância não torne essas mudanças reais”, avalia Mercedes Bustamante, professora do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília. “Creio também que as migrações são muito mais associadas nas notícias a fatores geopolíticos como guerras e isso afeta a percepção de que o clima já é um fator que determina migrações”.

“Parece que, de certa forma, perdemos a memória das migrações internas no Brasil que ocorriam por grandes eventos de seca no Nordeste”, acrescenta a pesquisadora.

Especialistas advertem que a crise do clima deve levar a migrações em massa no futuro, com estimativas da ONU prevendo que, até 2050, cerca de 200 milhões de pessoas serão deslocadas por esse motivo

Bustamante afirma, ainda, que apesar de eventos extremos e flutuações anuais que impactam a agricultura receberem atenção, poucos, mesmo entre produtores rurais, avaliam as mudanças graduais e de longo prazo no clima, que já se manifestam em várias regiões.

“Muita gente acredita que as mudanças climáticas irão afetar apenas as futuras gerações. Apesar de muitos acreditarem que o problema existe, há ainda um hiato muito grande na compreensão das consequências reais do problema”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Isso também é extremamente prejudicial para que haja uma mobilização maior da opinião pública para pressionar os governantes”, ressalta.

O Datafolha também mostrou que 45% relacionam doenças infecciosas às alterações climáticas, enquanto a taxa é de 40% para mudanças na fauna e 28% para terremotos.

Mudanças no ecossistema causadas pelas mudanças climáticas podem influenciar negativamente a dinâmica de dispersão de doenças infecciosas, como a dengue e os animais silvestres, levando até mesmo a extinções –estima-se que até 14% das espécies da fauna e flora podem sumir com 1,5ºC de aquecimento do planeta.

Não há evidências científicas sólidas de que o clima impacte grandes terremotos. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, estatisticamente, há distribuição semelhante de terremotos em regiões com climas diferentes. A instituição diz que tempestades intensas podem, eventualmente, desencadear o que chama de “tremores lentos”, mas esses eventos não são significativos.

JÉSSICA MAES / Folhapress

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