Apesar da alta incidência, dengue desacelera na cidade de São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar da alta incidência, há uma redução no número de casos novos de dengue na cidade de São Paulo. É o que mostra o boletim epidemiológico divulgado nesta segunda-feira (10) pela Secretaria Municipal da Saúde.

Na semana epidemiológica 19 -de 5 a 11 de maio-, foram registrados 37.405 novos casos de dengue. Na seguinte, caiu para 28.031. Nas semanas 21, 22 e 23 a cidade contabilizou 14.358, 3.646 e 73 novas infecções, respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o calendário epidemiológico, a semana 23 terminou no dia 8 de junho, mas o boletim considerou os dados até o dia 5 do referido mês.

De 1º de janeiro a 5 de junho de 2024, a capital paulista registrou 447.005 casos de dengue e 212 mortes. Outros 408 óbitos estão em investigação. Em todo o ano de 2023, dez pessoas morreram de dengue na cidade. O coeficiente de incidência está em 3.723,3 casos por 100 mil habitantes.

Segundo Alexandre Naime Barbosa, coordenador-científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, a redução de casos não está restrita a São Paulo,mas também ocorre no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul há uma redução de novos casos de dengue. Para ele, a baixa se deve a três fatores.

“Primeiro, a diminuição das médias de temperatura, em relação ao número de casos de dengue. O número de casos é geralmente proporcional à temperatura média, principalmente quando está acima de 27, 28 graus. Isso otimiza o ciclo de replicação do Aedes aegypti e faz com que os ovos eclodam com mais velocidade, com que nós tenhamos maior faixa de reprodução do mosquito, maior deposição de ovos, então esse ciclo fica acelerado.

O segundo fator é a redução do volume de chuva. O desaquecimento da temperatura média associado à diminuição da pluviosidade também causa desaceleração na taxa de replicação do mosquito.

“O terceiro fator é a questão de esgotamento ou de saturação do número de pessoas infectadas. A depender do local onde o vírus está circulando, nós temos o sorotipo dois ou de um –em alguns casos do subtipo três– e aí quando você tem um grande número de pessoas infectadas, pela própria evolução da doença, elas ficam imunes ao sorotipo em circulação, e você já fica com uma proteção, pelo menos para aquele sorotipo”, explica o infectologista.

Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, também atribui a queda nos números à imunidade e ao clima.

“Já há um declínio da temperatura associado a um grande volume de pessoas expostas que, direta ou indiretamente, adquiriram imunidade. É preciso lembrar que grande parte das infecções por dengue é assintomática. Então, se a gente enxergou x casos de dengue, devemos ter x vezes 6 infecções ou mais. Muita gente tem imunidade e não se infecta mais”, explica Araújo.

O vírus da dengue tem quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um dos tipos, ele adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais.

Para os dois especialistas ouvidos pela reportagem, a vigilância devem continuar.

Com as mudanças climáticas e o aquecimento global as doenças transmitidas por vetores perdem a sazonalidade.

“A qualquer momento que a gente tem uma onda de calor, o tempo um pouco mais úmido -e isso tem acontecido com muita frequência–, isso pode representar mais vetores em circulação com a presença do vírus. Então, a doença pode se manter. É evidente que não na mesma intensidade. A vigilância deve continuar a notificação dos casos, também, para que tenhamos números”, explica Araújo.

“E não há nada para comemorar. A mudança climática e as nossas condições de cidade, com muito lixo, com muitas áreas que favorecem o desenvolvimento do vetor, mostram que nós temos que ficar sempre atentos. Há muito o que aprender. E a lição de casa começa na cidade, na sua casa. Cada um tem que manter o hábito de procurar criadouros do mosquito e evitar dar chance para que o Aedes aegypti se reproduza”, reforça Evaldo Stanislau.

Araújo reforça que o poder público deve fazer a vigilância nos locais públicos e privados fechados para evitar criadores do mosquito, além de qualificar as equipes de saúde.

“Se houver o recrudescimento dos casos, serão necessários profissionais de saúde adequadamente treinados para identificar os casos e fazer a triagem de risco e orientação terapêutica adequadas. E por fim, nós precisamos seguir com a frente das vacinas. Então, tanto o laboratório atual que forneceu vacinas –a Takeda–, precisa aumentar a oferta, as pessoas precisam ir se vacinar, como a gente torcer para que a vacina do Butantan seja liberada.”

“E não é só a vacina. São os hábitos das pessoas, a vigilância do poder público, o treinamento das equipes de saúde, o controle do vetor por medidas amplas e novas tecnologias”, finaliza Araújo.

PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress

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