Apesar de expansão da faixa azul, mortes de motociclistas crescem na cidade de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A quantidade de mortes envolvendo motocicletas na cidade de São Paulo aumentou 25% no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 108 vítimas nos três primeiros meses deste ano, contra 86 de janeiro a março de 2023, segundo os dados mais recentes do Infosiga, sistema de monitoramento da letalidade no trânsito do governo estadual.

O aumento ocorre mesmo após a expansão das faixas azuis exclusivas para motociclistas, que se tornaram a principal aposta do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), para reduzir o número de mortes no trânsito. Ao fim de dezembro do ano passado, a cidade tinha cerca de 90 quilômetros de faixa azul demarcadas em dez avenidas, sendo que a grande maioria foi implementada depois de setembro.

As estatísticas incluem tanto os condutores quanto os passageiros em motocicletas. O aumento de mortes envolvendo motociclistas vem aumentando de forma constante desde novembro do ano passado.

Em dezembro, por exemplo, um total de 56 motoristas e passageiros de motocicletas morreram no trânsito da cidade. Isso representa um aumento de 50% em relação a dezembro de 2022.

A faixa azul não está prevista no Código Nacional de Trânsito e atualmente vem sendo usada como fase de testes. Mesmo assim, ela é uma das vitrines da gestão Nunes por causa da redução no número de mortes de motociclistas nas vias onde foi implementada. A meta da prefeitura é ampliá-las em 200 quilômetros até o final do ano.

Em nota, a prefeitura afirma que tem implementado uma série de medidas para evitar que ocorrências de trânsito façam vítimas e causem mortes, destacando a faixa azul. Cita ainda a proibição da circulação de motos nas pistas expressas das marginais, a implantação e reforma de 12 mil faixas de pedestres e o aumento do tempo de travessia.

Quando são incluídos pedestres, ciclistas e motoristas de outros veículos na conta, a tendência de alta das mortes no trânsito da capital é menor. A cidade teve um aumento de 1,9% na letalidade do trânsito entre janeiro e março, abaixo da tendência no restante do estado.

Na capital, na região metropolitana e no município de São Paulo, a tendência de elevação nas mortes que começou no segundo semestre de 2023 e perdura neste ano. Setembro foi o mês em que ocorreu uma inflexão nas estatística, e as mortes passaram a ficar mais altas em relação aos mesmos meses do ano anterior.

Estado de SP tem alta de mortes pelo 7º mês seguido

Em todo o estado, as mortes no trânsito tiveram aumento de 14% nos três primeiros meses de 2024. Março foi o sétimo mês consecutivo em que acidentes fatais cresceram em relação ao mesmo período do ano anterior.

A região metropolitana de São Paulo é responsável por grande parte desse aumento. Neste ano, 1 em cada 3 mortes ocorreu na região. Os 39 municípios da Grande São Paulo tiveram, juntos, uma alta ainda maior da letalidade no trânsito: 18% nas mortes de setembro a março, se comparados ao período anterior.

Esse aumento foi puxado principalmente por acidentes envolvendo motociclistas em todo o estado, que são aqueles que mais morrem no trânsito. De janeiro a março, 551 pessoas morreram em acidentes envolvendo motos em todo o estado -um aumento de 18% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, ou seja, menor do que o que se observou na capital.

No entanto, o crescimento das mortes também atingiu ciclistas, motoristas de carro e de caminhão neste ano.

Para Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper, esses números desafiam ações imediatas para conter o aumento de mortes no trânsito, que, para ele, podem ser contidas.

“Esses números não são casuais. Por exemplo, recentemente se noticiou que os radares nas rodovias estaduais estavam desligados, que São Paulo estava reequipando as rodovias com radares. A fiscalização é fundamental para obter o comportamento desejado dos motoristas. Sem fiscalização, o comportamento natural do ser humano é não observar. Até porque nós temos um incentivo imenso para correr, por exemplo, da própria indústria automobilística”, afirma o especialista, já indicando as ações a serem tomadas.

“Cabe ao governo do estado estudar medidas imediatas de reforço das fiscalizações, tanto eletrônicas quanto com policiais nas rodovias paulistas para reduzir as mortes. E, ao mesmo tempo, rever os limites de velocidade. É preciso que a gente entenda que o maior risco no trânsito é a velocidade, e é preciso gerenciar este risco, inclusive adotando em determinadas vias a redução de velocidade”, afirma.

O QUE DIZEM PREFEITURA E GOVERNO

Em nota, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirma que vem implementado medidas para garantir a segurança no trânsito. Além da faixa azul, o órgão da prefeitura paulistana destaca a proibição da circulação de motos nas pistas

das marginais, a ampliação da malha cicloviária e a implementação das Áreas Calmas –com intervenções como melhoria da sinalização e alargamento de calçadas.

“Destaque também para a revitalização e a implantação de 12 mil faixas de pedestres e o aumento do tempo de travessia para pedestres em mais de mil cruzamentos na cidade”, diz.

Também em nota, o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) afirma ter preocupação sobre o recente aumento de mortes no trânsito e enfatiza seu compromisso com a segurança viária e a mobilidade urbana em São Paulo. “O foco de nossas ações continua sendo a preservação da vida e a conscientização dos usuários das vias.”

O órgão da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que, atrelado às ações de fiscalização, realizou 11 campanhas educativas e de conscientização em datas de maior circulação de veículos, além de ações contínuas alertando sobre a importância da segurança na via, como a Operação Direção Segura Integrada, que abordou 24.992 veículos em março em todo o estado, 58,14% a mais em relação ao ano anterior.

“Apesar dos esforços, observamos um aumento de 14,6% no número de recusas ao teste do bafômetro, indicando a necessidade contínua de conscientização e fiscalização”, relata o Detran.

O Detran também destacou que está implantando o Sistran (Sistema Estadual de Trânsito), uma iniciativa que busca a colaboração entre os órgãos municipais, incentivando práticas uniformes e a adesão ao Sistema Nacional de Trânsito.

“Medidas incluem a reativação do Observatório Estadual de Trânsito e a ampliação do Programa Respeito à Vida, visando à padronização de sinalizações e capacitação de agentes de trânsito”, finaliza.

TULIO KRUSE E CLAUDINEI QUEIROZ / Folhapress

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