SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O tipo de apoio financeiro concedido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) à CCR para obras nas rodovias Dutra e Rio-Santos, que conectam Rio de Janeiro e São Paulo, vai liberar capital da concessionária, o que facilitará a participação da empresa em novos leilões. É o que diz Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do banco.
Chamado de project finance, a operação permite que as garantias dadas pela empresa ao financiador (neste caso o BNDES) sejam os ativos do próprio projeto e os fluxos de caixa esperados no futuro. Dessa forma, a concessionária consegue o financiamento sem constituir garantias próprias, ou seja, sem impactar o balanço da empresa.
Se houver problema, o projeto poderá ser reestruturado, ajustando, por exemplo, o valor das prestações ou alongando a dívida, explica Costa.
As principais garantias para o financiamento são as receitas do pedágio, incluindo proibição de distribuição de dividendos do projeto até 2031, segundo Costa. A concessionária também aportará R$ 3,7 bilhões como fiança bancária para riscos de atraso, sobrecustos, multas regulatórias e geração de caixa abaixo do esperado, por exemplo.
“A gente libera a exigência de garantias corporativas e desonera o balanço da CCR. O Brasil tem muita infraestrutura para construir e, por maior que nossas empresas sejam, se a gente conseguir alavancar os projetos, a gente aumenta, como um todo, a capacidade de investimento”, disse Costa à reportagem.
Ela afirma que a CCR possui boa reputação entre agências de classificação de risco e uma relação já consolidada com o banco, o que facilita o apoio financeiro.
Em setembro deste ano, a Moody’s elevou a classificação das emissões de debêntures da CCR para AA+. A agência citou um histórico operacional sólido por parte da empresa e a capacidade de gerar fluxos de caixa estáveis e previsíveis.
Segundo Costa, o BNDES está estruturando mais de R$ 30 bilhões de financiamento de obras em rodovias para os próximos dois anos. “No caso da Dutra, é uma concessão que está com a CCR desde o começo, em 1996. E a gente conhece muito o fluxo da rodovia, então o banco se sentiu confortável em correr esse risco [com o project finance].”
A CCR demonstrou uma participação mais tímida em leilões de rodovias recentes. No último deles, que concedeu a chamada Rota dos Cristais (vai de Belo Horizonte a Cristalina, em Goiás) à iniciativa privada, a concessionária ofertou um desconto de 1,75% sobre a tarifa básica de pedágio, o menor valor entre as participantes. Na ocasião, saiu vencedor o grupo francês Vinci, que propôs um corte de 14,32%.
Em abril deste ano, na relicitação da BR-040, ofertou um corte de 1% na tarifa básica de pedágio e foi superada pela EPR (parceria entre Equipav e Perfin), cujo desconto oferecido foi de 11,21%.
À reportagem, o CEO da CCR Rodovias, Eduardo Camargo, disse que a empresa está de olho em novos projetos, mas, segundo ele, a companhia quer ser seletiva nas decisões.
“A gente quer participar daqueles [ativos] que façam sentido dentro da nossa estratégia. Temos sido bastante disciplinados dentro das propostas que temos colocado”, afirma.
A empresa é uma das companhias mais consolidadas do setor no país, com uma extensa carteira de ativos. No segmento de rodovias, são 11 concessionárias geridas pela CCR, que administra 3.615 km de estradas em cinco estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina).
O financiamento aprovado pelo BNDES para as obras na Dutra e na Rio-Santos totaliza R$ 10,75 bilhões. Do montante, R$ 1,34 bilhão corresponde a financiamento direto. O restante é debênture incentivada, ou seja, títulos de dívida voltados a projetos de infraestrutura. Segundo o banco, essa foi a maior emissão de debêntures incentivadas do país (R$ 9,41 bilhões).
Entre as principais obras previstas pela CCR para as duas rodovias, está o redesenho da Serra das Araras. Ali serão investidos R$ 1,5 bilhão para construção de duas rampas de escape, três passarelas e ampliação de faixas, entre outras melhorias. A velocidade de circulação subirá de 40km/h para 80km/h.
As obras da nova Serra das Araras compreendem um trecho de oito quilômetros por sentido, totalizando 16 quilômetros de extensão, entre o km 225 e o km 233. Os trabalhos tiveram início em abril deste ano e devem durar 52 meses.
A concessionária irá instalar lâmpadas de LED por toda a extensão da Dutra, além de implantar o pedágio por livre passagem, também conhecido como free flow. A cobrança será feita pelos pórticos, que substituem as praças de pedágio e são equipados com tecnologia para identificar os veículos. O pagamento será proporcional ao trecho percorrido. A entrega do sistema de iluminação inteligente acontece de forma faseada.
Na chegada a São Paulo, a Dutra passará a ter novo acesso à ponte do Tatuapé, além de novos viadutos. A previsão de entrega é para o primeiro trimestre de 2025.
Tanto a Dutra como a Rio-Santos terão conectividade 4G em toda sua extensão. As estradas também serão monitoradas por 1.804 câmeras distribuídas nos dois trajetos.
PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress