Após 20 anos, parque na zona sul de SP deve ser entregue para a população até fim de 2023

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após duas décadas de batalha jurídica e disputas sobre a propriedade do terreno, o parque Alto da Boa Vista, na zona sul de São Paulo, está em fase final de implantação. A previsão é que as obras sejam concluídas em dezembro e que o espaço seja integralmente aberto ao público no início do ano que vem, com atividades voltadas à educação ambiental e nova trilha no interior da mata.

Segundo a prefeitura, a ideia é que o local seja um espaço de preservação. A área verde em regeneração ocupa a maior parte do terreno e, em meio à densa vegetação, vivem pássaros de 61 espécies diferentes, como quero-quero, beija-flor e pica-pau. O visitante terá acesso a um deque de madeira com vista para as árvores.

Já na área construída, serão instaladas pistas de caminhada, academia com equipamentos de ginástica, um cachorródromo e um espaço lúdico para crianças.

“Em vez de um playground convencional, teremos brinquedos diferentes. Será como um circuito com piso emborrachado e ondulado para brincadeiras”, explica Maryellen Sanchez, coordenadora do núcleo sul da divisão de implantação de parques da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Ao todo, as obras devem custar em torno de R$ 4 milhões à prefeitura.

Oficialmente, o parque Alto da Boa Vista foi inaugurado em 2021, quando foram concluídos os acessos, praça principal e sede administrativa.

A primeira etapa de implementação custou R$ 825,7 mil, a maior parte proveniente de TCAs (Termo de Compromisso Ambiental). O restante foi doado por moradores e por uma escola vizinha. “Naquele momento a gente não tinha recurso orçamentário para a obra toda”, disse Sanchez.

Apesar de abertos, os equipamentos disponíveis no parque ainda são pouco utilizados pela população. Logo que cruza o portão de entrada, o visitante se depara com tapumes delimitando o canteiro de obras. Por enquanto, a área já construída corresponde a menos de 3% dos 31 mil m² do terreno.

Durante a semana, o movimento de operários ainda é muito maior que o de frequentadores. Segundo funcionários, o público cresce aos fins de semana e feriados —algumas pessoas que fazem caminhadas pelo bairro têm o costume de fazer paradas no local, geralmente para usar os banheiros. De acordo com a administração municipal, ao longo do último ano, o parque recebeu em média 980 visitas por mês

Mesmo com o uso limitado do espaço, membros da Sabavb (Sociedade Amigos do Bairro Alto da Boa Vista) consideraram importante a abertura parcial. “Nosso medo era que o terreno fosse novamente invadido ou que houvesse tentativa de grilagem”, disse Cecília Gurgel, conselheira da associação, que em conjunto com uma escola vizinha foi responsável por bancar a sede administrativa do parque.

Segundo a entidade, a propriedade do terreno foi esquecida pela prefeitura por muitos anos. “No ano 2000, um morador pediu a limpeza da calçada à subprefeitura e o administrador regional acabou descobrindo que o terreno pertencia ao município”, conta Cecília.

Em 2003, um decreto transformou o espaço em parque, mas disputas pela posse do terreno atrasaram sua implementação ao longo das últimas décadas. A prefeitura já tinha obras em andamento no local quando a Justiça determinou a paralisação dos trabalhos em 2008, em processo movido por uma empresa que alegava ser dona da área. Na época, o então titular da Secretaria do Verde classificou a disputa como “caso antigo de grilagem”.

“É uma área que precisa ser preservada em respeito à história do bairro e ao bem público”, diz Cecília, da associação. Pelo terreno onde está sendo construído o parque, passam as águas do córrego Poly, anteriormente conhecido como Lavapés —o local era ponto de parada de tropeiros que chegavam à região de Santo Amaro em meados do século 17.

A poucos metros dali está localizado o Jardim Alfomares, área de mata atlântica cuja preservação também é reivindicada pela associação. O terreno pertence a uma incorporadora que há 20 anos tenta construir um condomínio de luxo no local. Após pressão de moradores, o espaço foi incluído entre os parques a serem implementados pela gestão municipal na revisão do Plano Diretor da cidade.

LEONARDO ZVARICK / Folhapress

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