SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A campineira Conceição Geremias, 67, sempre foi habituada a enfrentar desafios ao longo da vida. Em especial, no esporte, onde fez carreira no heptatlo, que consiste em sete provas: 100 metros com barreira, salto em altura, arremesso de peso, 200 metros rasos, salto em distância, arremesso de dardo e 800 metros.
Conceição nasceu em Campinas, em 23 de julho de 1956, e trabalhou na roça antes de se tornar atleta. Ela conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, na Venezuela, em 1983, feito até então inédito para o heptatlo feminino brasileiro. Naquela edição, ainda estabeleceu o recorde sul-americano da modalidade com 6.017 pontos. O recorde só foi superado em 2008, nas Olimpíadas de Pequim, por Lucimara Silvestre da Silva, que alcançou 6.076 pontos. Além disso, participou das Olimpíadas de Moscou-80, Los Angeles-84 e Seul-88.
Porém, Conceição enfrenta seu maior desafio agora: uma amputação do pé e parte da perna esquerda abaixo do joelho, que a tirou das competições.
A atleta teve síndrome do túnel do tarso, caracterizada por dores no tornozelos, pés, e lesão no nervo que liga o calcanhar e a sola do pé.
“Era uma problema que eu tive na sola dos dois pés, que travavam e eu não conseguia caminhar. Eu tava treinando só pedalada, por exemplo, caminhar não dava. Eu fiz a cirurgia, que era simples, mas deu complicações, tinha pouca circulação. O último recurso era amputar ou perder a vida”, conta Conceição.
O desafio da amputação é ainda maior para uma atleta que nunca abandonou as competições. Conceição se manteve ativa, passou a jogar vôlei e continuava competindo no heptatlo na categoria master. Ela se preparava para uma nova disputa antes da operação.
“Eu nunca parei de praticar atletismo. Eu migrei para a categoria master e continuei competindo. Neste ano, por exemplo, em agosto tem o campeonato mundial. A gente já tava pensando nos preparativos para ir, quando eu fui fazer a cirurgia. Então, dessa vez, a gente não vai mais”, disse.
A cirurgia foi feita em 24 de janeiro e, desde então, foram cinco meses de internação. A alta ocorreu no último dia 21, mas ela mora em um prédio que não tem elevador. Precisou ir para a casa da irmã mais velha, também em Campinas (a 93 km de São Paulo).
A partir de agora a atleta terá custos com os quais não contava.
“Nesse começo tem fisioterapia, reabilitação, para depois pensar em prótese. Também tem cama hospitalar, colchão de bolha, vou precisar de cuidadoras, uma de dia e outra de noite. Tudo isso vai muito dinheiro e eu não tenho nenhum agora”, explicou.
Para conseguir ajuda para esse recomeço depois da amputação, foi lançado um financiamento coletivo para arrecadar R$ 50 mil. Criado no dia 8 de junho, até agora pouco mais de R$ 6.900 foram arrecadados. Doações podem ser feitas pelo site.
Apesar de tantas mudanças em tão pouco tempo, Conceição demonstra confiança.
“Nossa, eu acho que vou ter que reaprender uma série de coisas. Mas estou feliz, sem dúvida, eu tenho que fazer essa reabilitação porque a minha vida não pode parar. Sou presidente da Acecamp (Associação Cultural e Esportiva Campeã), que é um projeto social de iniciação esportiva, tem vários projetos a serem feitos”, afirmou.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress