PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Conhecida pela leveza com que leva as competições, Rayssa Leal admitiu ter sido tomada pelo nervosismo nos Jogos Olímpicos de Paris. A brasileira de 16 anos cometeu erros que quase a tiraram na final do skate street e também falhou na decisão, mas achou a concentração necessária para algumas excelentes manobras e ficou aliviada com a medalha de bronze.
Terminada a disputa, voltou a ter preocupações mais comuns em adolescentes.
“Com certeza, acho que foi um alívio para todo o mundo, né? Porque, cara, eu realmente estava muito nervosa, acho que foi o campeonato em que eu mais fiquei nervosa. Acabei errando manobras simples e, tipo, comecei a me cobrar bastante, uma coisa que eu não precisava fazer. Era só me divertir, e foi o que eu fiz depois, entendi que era só colocar um sorriso no rosto mesmo”, afirmou.
O sorriso deixou seu rosto, momentaneamente, quando ela foi questionada sobre o que faria na volta ao Brasil. “Vou estudar, né? Cara, por que você foi me lembrar?”, disse, franzindo caricatamente o sobrolho, simulando uma irritação que era claramente em tom de brincadeira. “Voltam as aulas, pô. Agosto vai começar. Eita!”
Antes do retorno à sala de aula, a maranhense quer aproveitar a Paris que ainda não conheceu. Livre da pressão do megaevento esportivo, quer só brincar com seu skate, como fazia quando criança e ganhou o apelido Fadinha. “Eu ainda não andei de skate na cidade. Quero andar pelas ruas mesmo, deve ter um monte de pico legal”, disse.
Quando o fizer, Rayssa notará mais uma vez a diferença entre tentar manobras na rua, por diversão, e executá-las no maior evento esportivo do mundo. Ela não tinha percebido isso em 2021, em Tóquio, quando conquistou a medalha de prata. Contava apenas 13 anos, com uma compreensão menor da situação, e atuou sem público, por causa da pandemia de Covid-19.
“Mudou tudo, né? Só no primeiro ano [depois de Tóquio] eu vi que tinha crescido dez centímetros. Cresci muito. E entendi qual é o peso da Olimpíada, vim com outra mentalidade. Todo o mundo ali na pista, óbvio, queria se divertir, mas também queria a medalha de ouro. Eu não era diferente. Então, a gente acaba se cobrando um pouco mais por entender o que é a Olimpíada”, afirmou.
A jovem observou que o público na arena montada na Place de la Concorde, cheia de brasileiros barulhentos, era muito maior do que o habitualmente visto nas competições de skate. Segundo ela, a tensão pelo resultado atrapalhou seu desempenho na primeira parte de cada sessão -tanto nas eliminatórias quanto na final-, com duas voltas de 45 segundos pela pista.
Na decisão, Rayssa também teve uma série de quedas na segunda parte, a de manobras únicas. São cinco tentativas, e as duas maiores notas entram na pontuação. A brasileira errou a primeira, acertou bem a segunda e teve dois em seguida dois erros, ficando com apenas uma bala na agulha. Aí, preferiu uma manobra sem o maior grau de dificuldade para assegurar a presença no pódio.
“O pessoal [da comissão técnica] falou que eu precisava de pouca nota, somente do flip rock, para passar para terceiro. Ou, se eu desse um flip smith, poderia talvez tentar um segundo lugar, mas seria mais arriscado. Então, a gente optou pelo flip rock, e eu fui com força. Enfim, deu tudo certo”, concluiu a mais jovem atleta do Brasil a ganhar medalhas em duas edições olímpicas.
MARCOS GUEDES / Folhapress