BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) substituiu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na recepção desta terça-feira (10) ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alvo de um atentado em maio. A alteração ocorreu após o presidente passar por uma cirurgia de emergência durante a noite.
O encontro com o eslovaco foi às 11h30, no Palácio do Planalto, antes de uma reunião bilateral. Na sequência, eles assinaram atos e falaram com a imprensa. Por fim, Fico teve um almoço em sua homenagem no Itamaraty, como é praxe.
Foram assinados documentos que abordam as áreas de defesa, inteligência, segurança, relações exteriores e tributação. Participaram ainda os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), José Múcio (Defesa) e Marcos Amaro (Gabinete de Segurança Institucional).
O encontro ocorre sete meses após Fico ser baleado enquanto cumprimentava apoiadores em Handlová, a 190 quilômetros de Bratislava, capital do país. No momento do ataque, registrado pelos presentes em imagens que viralizaram, ele saía de um centro cultural em que se reuniu com integrantes de seu gabinete, formado por diversos aliados de ultradireita.
“O presidente Lula me pediu que transmitisse um afetuoso abraço, que compartilhasse sua alegria de o recebermos. Ficamos satisfeitos em constatar sua plena recuperação após atentado sofrido em maio deste ano. Sua presença hoje é oportunidade para repudiar com veemência todo tipo de violência política, independente de sua cor ideológica”, afirmou Alckmin em declaração à imprensa ao lado de Fico.
Depois do atentado, que o deixou ferido no abdômen, o líder eslovaco passou por duas cirurgias e ficou 16 dias hospitalizado. Ao ter alta, iniciou um expurgo de promotores, jornalistas e profissionais do setor de cultura que, segundo ele, criaram uma atmosfera de “ódio e agressão” propícia ao ataque.
Apesar das acusações, não há evidências de que seu agressor, o poeta amador Juraj Cintula, tenha qualquer ligação com a oposição. As medidas fizeram Fico ser comparado a seu vizinho Viktor Orbán, o conservador premiê da Hungria constantemente acusado de solapar os freios e contrapesos da democracia de seu país.
Fico desejou rápida recuperação a Lula. “O mundo precisa de personalidades como o presidente dos senhores. Me encontrei com ele a primeira vez em São Paulo, em 2003, em reunião de partidos socialistas, e desde aquele momento entendi que é um líder de formato mundial”, disse.
O premiê eslovaco ressaltou ainda a concordância a conclusão do acordo entre União Europeia e Mercosul, em Montevidéu. “As conclusões de Montevidéu são muito boas e vamos tentar convencer todos na União Europeia de que o acordo foi a melhor coisa para UE e para países da região”, afirmou Fico.
A Eslováquia, um vizinho da Ucrânia, é um estado-membro da UE e da Otan, a aliança militar ocidental contrária à Rússia de Vladimir Putin e aliada de Kiev no conflito no Leste Europeu. Fico, no entanto, tem sido uma voz dissonante dentro dos dois grupos ao recusar o envio de ajuda militar aos ucranianos.
Durante sua fala no Itamaraty, Fico elogiou a proposta de paz de China e Brasil para encerrar a guerra que é criticada por Kiev e pelo Ocidente.
“O plano de paz de Brasil e China tem várias questões importantes, e oferecemos nossas ideias para apoiar esse plano de formas diferentes. Brasil e China, além de outros paises, vão desempenhar grande papel na operação militar na Ucrânia, que vai se encerrar”, disse o premiê .
Assim como o encontro com o eslovaco, diversos outros compromissos de Lula foram cancelados após o petista sentir fortes dores de cabeça na noite de segunda (9) e, depois de exames feitos no hospital Sírio-Libanês, em Brasília, ser transferido para a unidade de São Paulo para uma cirurgia de emergência.
Na véspera, o Palácio do Planalto havia divulgado reuniões à tarde com o subchefe de Assuntos Jurídicos (SAJ), Marcos Rogério de Souza, e com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Renan Filho (Transportes), e Nísia Trindade (Saúde).
Lula estava com uma hemorragia intracraniana decorrente do acidente domiciliar que sofreu em outubro, quando teve uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada e precisou levar pontos. Desta vez, o petista foi submetido a uma bem-sucedida craniotomia para drenagem de hematoma, segundo boletim médico divulgado pela instituição, e agora está sob observação em um leito de UTI.
O presidente começou a passar mal à tarde, quando se queixou de dor de cabeça e sonolência para ministros com quem despachou.
Seu último compromisso foi uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lula faria exames apenas na manhã de terça (10), mas as dores anteciparam a ida ao hospital. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, o acompanhou em todos os momentos.
MARIANNA HOLANDA E GUILHERME BOTACINI / Folhapress