Após doação milionária de professor, Fundo da USP recebe novas propostas de investimento

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma doação vultosa agitou o Fundo Patrimonial da USP (Universidade de São Paulo). Stelio Marras, antropólogo e professor da universidade, doou ao fundo um prédio avaliado em R$ 25 milhões em Poços de Caldas (MG), deixado a ele por familiares. Foi a maior aplicação da história, diz a instituição.

O docente fez somente uma exigência, de que o valor integral fosse revertido em bolsas para estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. E pediu que a elite brasileira seja mais solidária.

Após divulgação da benfeitoria, outros herdeiros surgiram dispostos a aplicar seus bens ali, segundo Antonio Figueira, diretor do fundo. Só na última semana, foram três. Um número absurdo para o período, diz a assessoria da instituição. Essas propostas foram feitas por outro docente, inspirado pelo colega Marras, e por dois empresários.

Todas as possíveis doações de grande valor, contudo, são avaliadas com cautela, diz Figueira. “Conversamos com as pessoas, explicamos como funciona, tudo é feito de maneira muito correta.”

Criado em 2021, o Fundo Patrimonial da USP -hoje com R$ 59 milhões em caixa- é um mecanismo de complemento às necessidades financeiras da universidade, que funciona com recursos do governo paulista.

Ele é composto de um fundo principal (irrestrito) e subfundos (de propósitos específicos) dedicados a projetos nas áreas de ensino, ciência e inovação, cultura, diversidade, inclusão social e permanência estudantil. Também há projetos de saúde, sustentabilidade ambiental e infraestrutura.

O primeiro subfundo, criado em 2022, foi o USP Diversa, que recebeu a aplicação milionária do professor Stelio Marras. Todo o dinheiro arrecadado ali é repassado para a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da instituição, responsável pela concessão de bolsas de permanência estudantil a alunos egressos do ensino público e PPI (Preto, Pardos e Indígenas) em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Dos 60.120 alunos de graduação matriculados na universidade, quase 17 mil (27,76%) solicitaram auxílio financeiro no último ano -desses, 67,6% são estudantes que ingressaram por cotas. Ao todo, foram concedidos auxílios para 13.764 estudantes, sendo 13.460 pelo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil com recurso do orçamento da USP e 304 com recursos captados pelo USP Diversa.

Esse apoio do Fundo Patrimonial, no entanto, não é suficiente para evitar a evasão dos alunos mais desfavorecidos. Por isso foi criado o USP Diversa, programa que concede auxílio permanência mensal no valor de R$ 800 ou R$ 300 (para aqueles que já têm vaga em moradia). A seleção é feita exclusivamente pela universidade, sem qualquer interferência do Fundo USP Diversa.

Para manter a bolsa, o aluno precisa cumprir algumas metas de desempenho. Deve estar matriculado em um número mínimo de disciplinas e comprovar frequência, por exemplo. Além disso, os resultados são monitorados e analisados para verificar o impacto na permanência e no desempenho acadêmico dos atendidos.

Pessoas físicas e jurídicas podem fazer doações para ações gerais ou para propósitos específicos do fundo. Além de imóveis, é possível doar carros, obras de arte, joias e itens de valor cultural, caso de livros, manuscritos, instrumentos musicais, entre outros.

Dinheiro também é aceito. O site do projeto recebe doações via cartão de crédito, e as quantias não precisam chegar aos seis dígitos.

Entre os patronos do Fundo da USP com maior capital doado estão nomes como Maria Alice (Neca) Setúbal, Jayme Garfinkel e Celso Lafer.

Modelos muito comuns no exterior, especialmente nos Estados Unidos, os fundos para financiamento do ensino superior começam a crescer no Brasil. Eles foram regulamentados em 2019 pela lei 13.800.

Hoje, há fundos em várias universidades brasileiras. Somente na USP existe, além do Patrimonial, o Sempre Sanfran, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, o Endowment Sempre FEA, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, e o Amigos da Poli, da Escola Politécnica.

BRUNO LUCCA / Folhapress

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