Após eleger presidente anti-China, Taiwan perde país aliado para Pequim

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – Dois dias depois da eleição de um novo presidente que rejeita a reunificação com a China, Taiwan perdeu para Pequim um dos poucos países com as quais ainda mantinha relações diplomáticas, a República de Nauru.

A pequena ilha do Pacífico, que já havia reconhecido a China por três anos no início deste século, em lugar de Taiwan, voltou a fazê-lo. Em nota, seu governo anunciou que, “no melhor interesse da República, vai passar para o princípio de uma só China, que está em linha com a resolução 2.758 da ONU, que reconhece a República Popular da China como único governo legal que representa toda a China”.

A maioria das nações, inclusive Brasil e Estados Unidos, optou pela mudança nas últimas décadas do século 20. Desde 2000, outros 20 pequenos países, Nauru incluída, cortaram as relações com Taiwan, que conta agora com 12, entre eles os latino-americanos Paraguai e Guatemala.

O governo de Taipé foi surpreendido. O chanceler taiwanês, Joseph Wu, no momento do anúncio da troca, estava na capital guatemalteca para a posse do novo presidente daquele país, Bernardo Arévalo.

O vice-chanceler, Tien Chung-kwang, afirmou que “Nauru sucumbiu aos incentivos” que teria recebido. “As autoridades de Pequim optaram por usar esse método para suprimir Taiwan, minando a estabilidade da comunidade internacional”, disse ele, em coletiva. “Isso é não apenas uma retaliação contra os valores democráticos, mas um desafio à ordem internacional.”

Em nota, a diplomacia taiwanesa acrescentou que “Nauru cedeu ao ‘princípio de uma só China’ da China e adotou narrativas falsas decorrentes de uma interpretação errônea da resolução 2.758. O governo da República da China (Taiwan) expressa grande decepção e pesar e condena veementemente Nauru por suas ações”.

Em Pequim, a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, afirmou que Nauru, “como país soberano, anunciou que reconhece o princípio de uma só China, rompe as supostas relações diplomáticas com as autoridades de Taiwan e busca restabelecer os laços com a China”. Acrescentou que “não existe mais do que uma China no mundo, Taiwan é parte inalienável do território da China”.

Também nesta segunda, em Taipé, o presidente eleito, Lai Ching-te, encontrou-se reservadamente com os dois enviados do governo dos EUA, o ex-assessor de Segurança Nacional Stephen Hadley, republicano, e ex-vice-secretário de Estado James Steinberg, democrata.

Pouco antes, Hadley e Steinberg se reuniram com a atual presidente, Tsai Ing-wen. Segundo nota da Presidência, os americanos felicitaram pela eleição e buscaram “reafirmar que os EUA são sólidos e bipartidários no seu compromisso com Taiwan”. Também disseram que as relações são “informais, mas amigáveis”, e que buscam “salvaguardar conjuntamente a paz e a estabilidade no estreito” que separa a ilha do continente.

No sábado, Lai foi eleito presidente com 40% dos votos, e Pequim reagiu questionando sua representatividade. Sua legenda, o Partido Democrático Progressista (PDP), perdeu a maioria no Legislativo da ilha.

O presidente eleito só tomará posse em maio, mas os parlamentares assumem seus mandatos em fevereiro. As negociações em torno do comando da nova legislatura concentraram as atenções do noticiário taiwanês nesta segunda.

O oposicionista Partido Nacional ou Kuomintang (KMT) ficou com 52 cadeiras e possivelmente mais duas, de independentes próximos da legenda, enquanto o PDP chegou a 51 e o Partido do Povo de Taiwan (PPT) somou 8. Tanto KMT como PDP iniciaram conversas separadamente com o PPT, para a escolha do novo comando do Legislativo.

As tratativas podem envolver ainda a formação do próprio gabinete de Lai, inclusive a definição do primeiro-ministro. No sistema institucional taiwanês, inspirado no francês, o presidente escolhe diretamente os ministros da Defesa e do Exterior e nomeia o primeiro-ministro, que monta o restante da equipe em composição com os parlamentares.

NELSON DE SÁ / Folhapress

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