Após enchentes, escolas de Porto Alegre retomam aulas com atividades lúdicas

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Depois de quase três semanas de interrupção devido à inundação causada pelo lago Guaíba, a rede de ensino municipal de Porto Alegre retomou as atividades a partir desta segunda-feira (20). O retorno será escalonado, e mais 16 escolas reabrem nesta terça (21).

Localizadas em áreas que não foram atingidas por alagamentos, 22 escolas de ensino infantil e fundamental voltaram a funcionar. Com equipes reduzidas e horários flexíveis, a prioridade nas unidades é o acolhimento dos alunos e a prática de atividades lúdicas em meio a uma catástrofe climática sem precedentes no Rio Grande do Sul.

A EMEI Santo Expedito, no bairro Rubem Berta, normalmente funciona em turno integral, mas retornou com operação das 7h às 14h. A diretora da escola, Lia Fadini, conta que houve uma conversa com os professores e funcionários para alinhar o retorno.

“Este é um momento de muita escuta nossa, de ouvir o que as crianças têm a trazer, mas também de proporcionar momentos lúdicos, de muitas brincadeiras, músicas, histórias, que a gente possa também tirá-los um pouco deste assunto [tragédia]”, diz a diretora.

Dos 154 alunos, 3 foram afetados diretamente pelas cheias. Entretanto, quase um terço da equipe de professores ainda não teve como retornar ao trabalho, o que exigiu rearranjos temporários.

“Nós já tivemos uma experiência que não foi boa na época da pandemia, que as crianças ficaram muito tempo afastadas da escola, e tudo que foi perdido no desenvolvimento deles naquele período”, diz Lia. “Estávamos ansiosos para esse retorno, com a possibilidade de as crianças voltarem para a escola, para a rotina com que já estão acostumadas.”

O retorno foi comemorado pelas crianças, que brincavam no pátio e faziam fila para comer o almoço.

No início do turno da tarde, os alunos de 5 a 9 anos chegavam e corriam para abraçar colegas, professores e funcionários da escola. Antes do início das aulas, ainda cantaram parabéns para uma funcionária da limpeza que fazia aniversário. E uma das turmas já iniciou as atividades com bambolês, bolas e cordas para pular.

Mesmo fechada para aulas desde o feriado de 1ª de maio, a escola seguia aberta para receber famílias, servindo almoço para alunos e responsáveis que foram afetados por falta de luz ou de água na comunidade. Em um dia, chegaram a servir 97 almoços.

Lia afirma que muitos pais também passaram a participar dos almoços para proporcionar algum convívio social aos filhos durante a suspensão das aulas. “Os pais começaram a trazer as crianças para que elas pudessem se ver novamente, brincar na pracinha”, diz a diretora. “A escola proporcionar essa refeição auxiliou bastante, mas eu via que era muito mais importante para eles estarem se encontrando aqui.”

Na EMEF João Carlos D`Ávila Paixão Côrtes, na Vila Ipiranga, o funcionamento foi retomado nos dois turnos para os alunos da escola, a primeira a ter ensino bilíngue na rede municipal.

A direção ainda trabalha com a busca ativa dos estudantes possivelmente atingidos e já pensa em formas para abordar a calamidade dentro da proposta pedagógica.

“Aos poucos a gente vai vendo como trabalha, mas, sinceramente, a questão da natureza e do clima vai surgir muito”, diz a diretora Luciene Alves de Lima Brandão. “É um retorno gradativo, mais de acolhimento mesmo, sentindo o que que essas crianças trazem para nós, o que que elas trazem de ansiedade e de vivência delas.”

De acordo com a supervisora escolar Mirna Ossanes Rodrigues, como o bairro não foi atingido pelas cheias, a comunidade escolar buscou prestar apoio a quem sofreu com a tragédia.

“Vários pais trabalhando em abrigos, vários pais trabalhando com as marmitas. Se alguma família dizia que algo estava faltando, [as outras] corriam para fornecer”, diz Mirna. “Nós tivemos algumas famílias que estavam sem água, aí vieram aqui na escola porque ainda tínhamos água na caixa.”

Mãe de Davi, 8, aluno do terceiro ano do fundamental, a higienizadora de estofados Josiane Hleboski, 38, conta que tentou limitar o tempo de televisão para que as enchentes não fossem o único assunto em casa, mas não foi possível fugir do tema. Ela tem atuado como voluntária na confecção de roupas de frio para crianças pequenas.

“Contamos a situação para eles dizendo ‘olha, isso está acontecendo, nós precisamos ver o que não serve em vocês para passar para outras pessoas’, mas tentamos não deixá-los tão expostos”, diz Josiane.

“A gente mostrou a eles que existem outras crianças que estão precisando [de doações] e que neste momento eles podem ajudar”, diz.

CARLOS VILLELA / Folhapress

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