Após fim de tabu, Mafê Costa quer liderar nova era na natação feminina

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Maria Fernanda Costa, 21, ainda era um rosto pouco conhecido até entrar pela primeira vez na piscina nos Jogos Olímpicos de Paris.

De início tardio na natação competitiva, apenas aos 14 anos, embora já medalhista de prata em três provas no Pan de Santiago-2023, a atleta viu olhares mudarem por completo com a sétima colocação alcançada nos 400 m nado livre na França.

O resultado quebrou um tabu de 76 anos, colocando pela primeira vez desde Londres-1948 uma mulher do país na disputa direta por medalha na prova. O feito também virou uma espécie de combustível pessoal para um sonho maior da nadadora.

Mafê, como é conhecida, espera agora capitanear uma espécie de nova era na natação feminina a partir de Los Angeles-2028.

“Tenho obstinação por uma medalha [olímpica]. E não quero isso só pelo lado pessoal, acho que a natação brasileira feminina precisa também. Perdemos muito valor com o passar dos anos mesmo com atletas muito fortes como Joanna Maranhão, Manuella Lyrio, Larissa Oliveira e a própria Gabrielle Roncatto. São exemplos de resultados, mas queremos entrar na história. Dar algo novo ao país para incentivar apoio a atletas mais jovens”, disse.

Das 15 medalhas conquistadas na natação brasileira desde o bronze de Tetsu Okamoto em Helsinque-1952, somente duas foram com mulheres -e nenhuma na piscina.

Os pódios femininos do país foram ocupados por Poliana Okimoto, bronze na Rio-2016, e Ana Marcela Cunha, ouro em Tóquio-2020, ambas na maratona aquática.

“Acho que precisamos iniciar um novo legado. Temos tido apoio, embora um pouco tardio. Eu precisei nadar muito, ter resultados muito expressivos para conseguir o primeiro suporte e chegar até onde cheguei. Acho que precisa começar de baixo, independente das que vão dar continuidade e ter resultados. Gostaria de ajudar para que outros invistam”, analisa.

Natural do Rio de Janeiro, a atleta da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos, não esconde a obstinação pela volta aos treinos. Combinou uma pausa de apenas duas semanas com o treinador Fernando Possenti depois de competir no Troféu Maria Lenk, mas já pensa no ciclo de daqui quatro anos.

“Já estou olhando para Los Angeles. Quando acabou a minha prova, disse ao Possenti: ‘não quero fazer isso nos Estados Unidos, temos que treinar’. Ele me pediu para vivenciar o hoje, para nadar feliz e aproveitar o restante e Paris, por mais que não tenha sido como queria”, afirma.

“Este ano tem ainda o Mundial e já quero pensar em 2025, com Mundial no meio do ano, Troféu Brasil… sem descansar”, completa.

Em Paris, a nadadora ainda disputou a prova dos 200 m livre, ficando fora da final por 52 centésimos. Ela terminou a classificatória na 11º colocação.

Mafê também conquistou a sétima colocação no revezamento 4×200 m por equipe, ao lado de Stephanie Balduccini, Gabrielle Roncatto e Maria Paula Heitmann, igualando a melhor marca da história brasileira na modalidade, nos Jogos de Atenas-2004, mas viu o seu nome ligado indiretamente a uma polêmica.

A sua ausência no revezamento 4×100 m teria sido um dos motivos da briga da nadadora Ana Carolina Vieira e a comissão técnica de natação. O caso teve enorme repercussão.

“Eu havia falado que participaria, sim, mas ao chegar em Paris o cenário foi diferente por conta de problemas com transporte, horários de competição que mudaram. Ficou tudo mais tarde, com um intervalo longo dos 400 m para o revezamento. Pouco descanso entre as eliminatórias e, por isso, o Possenti conversou com a comissão técnica pedindo para me retirar para priorizar os 400 m nado livre. Entreguei nas mãos dele, até pela confiança. Sabendo que já participou de outros Jogos e conheço. E não tiro minha responsabilidade. A única coisa que espero é respeito. Não sei exatamente o que houve, não estava lá, mas essa foi minha decisão”, argumenta.

Vieira teve sua expulsão anunciada pelo COB e afirmou que uma “falha de comunicação” destruiu seu sonho de competir no evento.

Maria Fernanda Costa, contudo, só espera nadar e fazer história. Para isso, precisará trabalhar para desbancar a australiana Ariarne Titmus, campeã olímpica com o tempo de 3min57s49. A brasileira fechou em 4min03s53.

KLAUS RICHMOND / Folhapress

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