SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Beatriz Haddad Maia, 27, acaba de terminar uma temporada que chamou de “ano de consolidação”. Após dois títulos de primeira linha do tênis em 2022, a brasileira experimentou ser cabeça de chave, passou a atuar com alta expectativa sobre seu desempenho e, entre “altos e baixos”, ficou satisfeita com o que alcançou.
Semifinalista no Aberto da França, em Roland Garros, a brasileira conquistou no último fim de semana os títulos de simples e duplas do WTA Elite Trophy, que reuniu na China as melhores tenistas do ano fora do top 8. Ela vai terminar 2023, no mínimo, na 11ª colocação do ranking mundial -e, a depender dos pontos defendidos pela tcheca Barbora Krejcíková, ficará em décimo.
Nesse processo, recebeu U$ 2.693.821 (cerca de R$ 13,6 milhões) em prêmios na temporada. Só os resultados da última semana lhe renderam US$ 632,5 mil (cerca de R$ 3,2 milhões). São números que superam todo o restante da carreira da atleta, que acumulou US$ 5.178.077 (pouco mais de R$ 26 milhões, na cotação atual) no circuito.
Os valores são divulgados pela própria WTA, a associação das tenistas profissionais, mas a paulista procurou minimizá-los. Segundo ela, o dinheiro é utilizado em sua própria carreira, com objetivos audaciosos, como conquistar títulos da série Grand Slam e se tornar número um do mundo
“A gente acaba tendo exposto o prize money. É uma das poucas profissões do mundo com essa exposição, e nem é todo o mundo que gostaria de que isso fosse exposto. Mas é do jeito que é. As pessoas têm que entender que, dentro desse valor, como cidadã brasileira, eu já pago 27,5% de imposto, independentemente do país em que esteja”, afirmou.
“Além disso, tem a comissão que pago para o meu time, a semana do salário do meu time. Tenho voo, hotel, alimentação. Viajo literalmente dez meses por ano, em dólares, com quatro pessoas comigo. Então, os meus gastos são altos. E o meu maior investimento é minha carreira. Tudo o que recebo, de alguma forma, invisto em mim mesma”, acrescentou.
E Bia aposta alto. A meta estabelecida para 2024 é a consolidação no top 10, com classificação para o WTA Finals, que reúne as oito melhores do ano. A paulistana, porém, vê a possibilidade de ir galgando postos na tábua de classificação até atingir a primeira colocação, hoje ocupada pela belarussa Aryna Sabalenka.
“A partir do momento em que estou como número 11, cada posição exige muito esforço para subir. Agora, quero estar 10. Quando estiver 10, vou querer estar 9. A partir do momento em que você fica 5 ou fica 4, aí já briga por coisas maiores. Então, o primeiro objetivo é estar top 10 e me estabelecer ali”, disse.
“Mas, a partir do momento em que você faz semifinal de Grand Slam, você se coloca em uma posição de ganhar Grand Slam. E, quando você se coloca em uma posição de ganhar Grand Slam, você se coloca em uma posição de sonhar em ser número um do mundo. É um objetivo. Tenho que me consolidar no top 10, mas eu acredito, sim, que vou ser número um”, sorriu.
O respeito de boa parte das rivais Haddad já alcançou. Agora, segundo ela, o segredo para continuar a escalada é manter sua agressividade nos golpes, porém com maior consistência, como conseguem as cinco primeiras colocadas. Outro ponto é ter essa consistência nos torneios que mais valem pontos, os da série Grand Slam e os da série Masters 1000.
Beatriz, porém, ainda se acostuma à vida como um esportista de ponta. Na volta de Zhuhai, onde ganhou os títulos da semana passada, surpreendeu-se com o carinho de uma fã mirim. E, ao longo do ano, sobretudo quando teve resultados ruins após o Aberto dos Estados Unidos, sofrendo com um corte na mão, irritou-se com as críticas.
“As pessoas que falam não têm ideia do seu dia a dia, do que você está passando. Quando você é uma pessoa pública, tem que saber lidar com a crítica, mas tem crítica que não é necessária. Li muita coisa e comecei a entender que o problema desse comentário é o problema da pessoa, não é o meu. Talvez aquela pessoa não saiba o que quer para a vida dela”, disse.
Ela citou Ayrton Senna, Pelé, Neymar e Gabriel Medina, com o cuidado de dizer que não se coloca no mesmo patamar, ao falar sobre lidar com expectativas. “Esses são fenômenos. Eu só acho que sempre tento fazer meu trabalho da melhor forma possível, com a maior honestidade, a maior vontade, a maior sinceridade.”
Segundo Bia os brasileiros são “muito resultadistas”, uma classificação na qual ela própria se incluiu. Encarar as críticas será necessário para dar os próximos passos. Encarar adversárias como Aryna Sabalenka, Iga Swiatek e Coco Gauff, também. “Sim, eu acredito hoje que possa entrar em qualquer torneio e enfrentar qualquer jogadora.”
MARCOS GUEDES / Folhapress