Argentina recorre ao gás da Petrobras para suprir alta demanda energética

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Frente a uma crise no abastecimento de energia fruto de temperaturas mais baixas do que o usual nas últimas semanas deste outono e após cortes no setor industrial, a Argentina recorreu à Petrobras para suprir sua crescente demanda de gás natural.

Desembarcou na manhã desta quarta-feira (29) no porto de Escobar, na região do rio Paraná, uma carga de 44 mil metros cúbicos de GNL comprados da estatal brasileira que devem ajudar o país a suprir o pico da demanda até o final desta semana, quando cargas de outros países que já estavam programadas estão previstas para chegar.

Durante a tarde, a Casa Rosada anunciou que o abastecimento já havia sido normalizado graças ao gás que chegou do Brasil

O estresse energético no país, acelerado pela massa de ar polar que chegou nos últimos dias e fez as temperaturas caírem, antecipando um inverno mais rigoroso, levou um comitê de emergência a anunciar cortes no fornecimento para indústria e para estações de gás natural comprimido de modo a priorizar a demanda doméstica dos argentinos.

Segundo a Secretaria de Energia, há um consumo excepcionalmente alto na demanda doméstica de gás natural, em um salto de 45 milhões de metros cúbicos por dia para 70 milhões. O gás da Petrobras ajudaria a suprir a demanda de áreas como a Grande Buenos Aires, além das províncias próximas de Santa Fé e Córdoba.

A pasta do governo de Javier Milei atribui o cenário, em partes, ao que chama de uma “vulnerabilidade no sistema de gás que é fruto de sua infraestrutura insuficiente há décadas por falta de investimento”. E o abastecimento pelo novo gasoduto, o Presidente Néstor Kirchner, ainda está longe de sua capacidade total, com obras em andamento.

A embarcação com o GNL enviada pela Petrobras está no porto argentino desde a tarde desta terça-feira (28), mas um imbróglio em questões técnicas da carta de crédito obtida por Buenos Aires com um banco internacional para a compra do produto atrasou o desembarque.

A Energía Argentina, responsável pelo setor no país, disse em nota que o atraso se deu pelo que descreve como “um desentendimento do fornecedor [no caso, a Petrobras] relativamente à carta de crédito”.

Envolvidos na tratativa bilateral, que envolveu a chanceler argentina, Diana Mondino, dizem que o Brasil respondeu prontamente à demanda de Buenos Aires e buscou acelerar o processo para suprir o pedido do país vizinho. A Petrobras afirma que as duas empresas trabalharam para viabilizar o início do fornecimento no menor prazo possível.

Ainda que a nível pessoal e ideológico os presidentes Javier Milei e Lula (PT) estejam distantes —eles nunca estiveram juntos presencialmente, e nos bastidores há temor de como seria um possível encontro dos dois em uma provável cúpula do Mercosul no Paraguai no mês de julho—, as relações comercias entre os vizinhos seguem em ritmo semelhante.

Em uma rede social o secretário de Energia do governo Milei, Eduardo Chirillo, afirmou que parte do desabastecimento atual tem entre suas razões a diminuição da importação de energia do Brasil operada pela gestão anterior, do peronista Alberto Fernández —a saber, um aliado muito próximo de Lula na região. O fator teria ocorrido pelo fato de o gasoduto Néstor Kirchner ter entrado em operação.

Ainda segundo Chirillo, foram acordadas com a Petrobras novas parcerias para agosto e setembro deste ano, meses de inverno. Em abril, a Energía Argentina firmou com a Petrobras no Rio de Janeiro um memorando de colaboração de três anos para que a estatal brasileira ajude no abastecimento de energia do noroeste argentino.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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