SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Argentinos procuram produtos importados no exterior, balança comercial brasileira termina 2024 em superávit menor que do ano anterior e outros destaques do mercado nesta terça-feira (7).
**CUSTO ARGENTINA**
Os custos em dólares na Argentina subiram tanto que os moradores do país tem buscado produtos importados nas nações vizinhas. Shoppings do Chile e no Brasil são procurados por terem produtos como tênis Nike e Adidas, copos da Stanley e maquiagens da Lancôme.
ENTENDA
Seguindo os planos de Javier Milei, que assumiu a presidência no fim de 2023, o peso valorizou-se em 44,2% entre janeiro e novembro do ano passado.
↳ O objetivo era ajustar a moeda à inflação no país, ou seja, ao nível alto de preços, que já atingia os três dígitos. Em tese, a meta foi alcançada.
SIM, MAS…
Isso levou a uma redução importante do poder de compra dos argentinos. Há preocupação com a duração e a resistência das reservas de divisas fortes nos cofres do país, já que o governo teve de colocar muitos dólares em circulação para valorizar o peso.
Para alguns analistas, existe o risco de que a moeda local sofra uma desvalorização repentina, com uma possível onda de tarifas impostas por Donald Trump nos EUA e a rápida depreciação do real brasileiro.
Um Big Mac custa US$ 7,90 (R$ 48,90), em comparação com US$ 3,80 (R$ 23,50) há um ano na taxa de câmbio oficial.
RISCOS
Os empresários temem pelo futuro da empreitada de Milei.
No início de dezembro, a siderúrgica Ternium alertou que os custos trabalhistas na Argentina tornaram-se 60% mais caros do que no Brasil.
Eles temem que a dinâmica possa começar a prejudicar a competitividade das exportações os produtos podem ficar muito mais caros do que aqueles produzidos em outros países e vender menos.
CARA E COROA
Por um lado da moeda, a saúde da economia do páis está melhorando.
– A inflação saiu de 25,5% para 1,4% em um ano;
– O índice de risco-país caiu abaixo da barreira de 600 pontos-base pela primeira vez desde 2018.
Para alcançar esse resultado, Milei seguiu o que chamou de plano motosserra: um corte de gastos públicos profundo, flexibilização das regras trabalhistas e redução de processos burocrático
Por outro, os argentinos têm sofrido para comprar o que precisam, sobretudo aqueles que vivem na pobreza. Com a moeda mais forte, os preços no supermercado ficam mais difíceis de bancar.
**PENSANDO BEM**
A balança comercial brasileira terminou 2024 com um superávit de US$ 74,6 bilhões. Isso quer dizer que vendemos mais do que compramos para o exterior no ano passado.
↳ Esse é o segundo maior valor da série histórica, iniciada em 1989.
SIM, MAS…
Houve queda de 24,6% em relação ao saldo positivo do ano anterior, 2023, quando foi registrado o recorde de US$ 98,8 bilhões.
O QUE É?
A balança comercial registra os valores das exportações e das importações. Quando vendemos mais do que compramos, chamamos o resultado de superávit. Do contrário, chamamos de déficit.
O QUE ACONTECEU?
Nos últimos doze meses, as exportações registraram um leve recuo em relação ao período anterior, 0,8%. O resultado final ficou em US$ 337 bilhões.
Houve crescimento de 9% nas importações, que resultaram US$ 262,25 bilhões. Os dois movimentos contribuíram para diminuir a vantagem registrada em 2023.
Quem mede esses dados é a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), ligada ao Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Para a secretária de comércio exterior, Tatiana Prazeres, o recuo no valor exportado está relacionado à queda dos preços internacionais de produtos relevantes que vendemos, como a soja, o petróleo e o minério de ferro.
↳ Em 2024, o petróleo ultrapassou a soja nas exportações brasileiras pela segunda vez em dez anos.
↳ O Brasil, maior exportador global de soja, vendeu volumes 1,3% menores em 2024. Isso aconteceu pois a safra foi menor do que o esperado.
Do lado das importações, os protagonistas são previsíveis: compramos lá de fora bens de capital, como máquinas e equipamentos. A expansão das importações se deu pelo volume, e não pela variedade. Ou seja, compramos mais dos mesmos produtos, não ampliamos o cardápio.
Aumentar as compras no exterior não é, necessariamente, um sinal ruim. Pode demonstrar um aumento dos investimentos no desenvolvimento da indústria brasileira, avalia Prazeres.
Alguns números:
– 2,7% foi o crescimento das vendas do Brasil ao exterior na indústria de transformação;
– 11% foi a queda das exportações da agropecuária.
E AGORA?
O governo prevê que o saldo positivo em 2025 fique entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões. A expectativa considera que as exportações brasileiras continuem desempenhando bem e a demanda por insumos importados continue aquecida.
**UM MAR DE TEQUILA**
A impressão de alguns mexicanos é que o mundo ficou um pouco mais careta depois da pandemia. A base da crença? Os excedentes de tequila nos estoques.
MENOS BEBERRÕES?
Não dá para dizer que a queda na demanda da tequila é oriunda de uma diminuição do costume de bebê-la. Seria necessário fazer uma pesquisa específica sobre o assunto para determinar.
O fato é que a indústria de destilados cresceu no México, enquanto a venda caiu.
Enquanto esperam a demanda aumentar, produtores armazenam a tequila em barris de envelhecimento e em envases pré-engarrafamento.
– 500 milhões de litros da bebida estão em estoque, número que chega perto da produção anual.
– 599 milhões de litros produzidos no ano passado, cerca de um sexto permaneceu em envelhecimento.
FICANDO SÓBRIOS
De 2019 a 2022, a indústria viu um aumento repentino da demanda por tequila, sobretudo devido ao aumento da popularidade da bebida nos EUA.
Marcas apoiadas por celebridades impulsionaram o movimento, como a Casamigos, de George Clooney, e a 818, de Kendall Jenner.
A moda levou ao aumento de destilarias, que ficaram na mão com o queda no interesse pelo licor.
“A indústria de tequila está se preparando para um 2025 muito turbulento, diz Trevor Stirling, analista da Bernstein.
A quantidade de destilados vendidos nos EUA nos primeiros sete meses de 2024 encolheu 3% em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo o IWSR.
O consumo da bebida caiu 1,1%, em comparação com um aumento de 4% em 2023 e um aumento de 17% em 2021, o auge da febre da tequila.
OUTROS PROBLEMAS
Os produtores estão sujeitos a perder suas mercadorias em um curto prazo. A tequila evapora rapidamente em comparação com outras bebidas destiladas envelhecidas, em parte por conta do clima quente do México.
A vitória de Donald Trump como presidente dos EUA também pode piorar as coisas. Ele ameaçou impor uma tarifa de 25% sobre a importação de produtos mexicanos.
O vizinho latino depende dos americanos para comprar 83% de suas exportações.
Os produtores veem uma luz no fim do túnel. O preço das matérias primas caiu, incluindo o do agave, a planta que, fermentada, gera o destilado.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
PLANOS DE SAÚDE
Planos de saúde se recuperam, mas prejuízo ainda ameaça setor. Representantes do setor evitam previsões sobre reajuste em 2025 e falam em pressionar indústria farmacêutica.
CLIMA
Ondas de calor extremo levam governo a discutir novas regras para trabalho a céu aberto. Sem engajamento e interesse das empresas, mudanças podem permanecer apenas no papel, dizem especialistas.
PETROBRAS
Petrobras faz 1ª chamada pública para adquirir biometano e prevê incentivar mercado. Iniciativa prevê recebimento de ofertas para contratação firme com entregas a partir de 2026.
LUANA FRANZÃO / Folhapress