Arquidiocese de SP arquiva investigação sobre padre Júlio Lancellotti

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Arquidiocese de São Paulo afirma que arquivou a investigação sobre o padre Júlio Lancellotti, alvo de denúncias de conteúdo sexual por parte da presidência da Câmara Municipal.

A apuração se baseava em um vídeo enviado nesta segunda (22) à Arquidiocese pelo presidente da Casa, vereador Milton Leite (União Brasil), conforme noticiou a coluna Painel. O vídeo, sem autenticidade comprovada, retrata um homem se masturbando.

Em nota divulgada na tarde desta terça (23), a liderança da Igreja Católica em São Paulo afirma que manteve a decisão tomada em 2020, quando o mesmo vídeo foi analisado.

Na ocasião, a denúncia foi feita pelo então candidato à prefeitura Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, mas a Arquidiocese não encontrou indícios de crime. Em caso de novos desdobramentos, o órgão eclesiástico afirma que irá rever o posicionamento.

Na nota desta terça, o órgão diz “não ter convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia” e cita parecer de 2020 sobre o mesmo caso, do Ministério Público, que também arquivou a denúncia. A decisão foi informada ao Vaticano, segundo a Arquidiocese.

“Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados”, diz a nota.

O religioso é alvo de acusações do vereador Rubinho Nunes (União Brasil), autor do requerimento de CPI que pretende investigar ONGs que atuam no centro de São Paulo. Nunes e Mamãe Falei foram integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), criado em 2014 para defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff e pautas liberais.

No início deste ano, sete vereadores que assinaram o documento para a instauração da CPI retiraram o apoio após Lancellotti, que lidera a Pastoral do Povo de Rua, ter aparecido como alvo principal da comissão. Os parlamentares se disseram enganados pelo autor da CPI, uma vez que o texto não mencionava o pároco.

Rubinho Nunes afirma ter contratado perícia que constatou a autenticidade do vídeo e que se trata do religioso nas imagens. E diz que o material também foi enviado para o Ministério Público de São Paulo, o Ministério Público Federal e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Procurado pela reportagem, o padre não quis se manifestar. O advogado dele, Luiz Eduardo Greenhalgh, afirma que o vídeo é uma montagem.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DA ARQUIDIOCESE DE SP

“A Arquidiocese de São Paulo, mediante ofício enviado por e-mail ao vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 6 de janeiro, protocolado na Câmara Municipal no dia 8 sucessivo, solicitou-lhe que fosse enviado o material referente à suposta denúncia contra o Padre Júlio Renato Lancellotti.

Finalmente, na tarde do dia 22 de janeiro, o material foi entregue na Cúria Metropolitana de São Paulo. Tomado conhecimento do material recebido, constatou-se que se trata do mesmo conteúdo divulgado em 2020. Naquela ocasião, a Cúria Metropolitana de São Paulo, conforme prescreve as normas da Igreja para esses casos, realizou um procedimento investigativo para apurar a denúncia recebida.

Concomitantemente, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) passou a investigar a dita denúncia, conforme inquérito aberto junto ao Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com deficiência e Vítima de tráfico interno de pessoas.

O MPSP, considerando ausência de materialidade, a seu tempo, emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal, acompanhado pelo D. Juiz que decidiu pelo arquivamento do inquérito.

A Arquidiocese de São Paulo, não chegando à convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia e considerando as conclusões do MPSP, bem como da Justiça Paulista, também decidiu pelo arquivamento e informou a Santa Sé.

Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados.”

MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress

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