Ary Borges iguala Sissi e Cristiane em ‘dia cheio de emoções’

ADELAIDE, AUSTRÁLIA (UOL/FOLHAPRESS) – A noite foi muito melhor do que Ary Borges poderia prever na vitória do Brasil por 4 a 0 sobre o Panamá na estreia na Copa do Mundo feminina, nesta segunda-feira (24). Com o hat-trick, ela se tornou a jogadora mais jovem a marcar três gols em uma estreia pela seleção brasileira.

O feito a deixou ao lado de referências como Sissi (1999), Cristiane (2019) e Pretinha (1999), que também fizeram hat-tricks em Mundiais anteriores.

RECORDES E SONHOS

“O dia foi cheio de emoções. Tive todos os altos e baixos que poderíamos ter. Estava muito ansiosa pra começar o jogo. Se alguém me dissesse, eu daria risada da cara da pessoas. No primeiro gol, eu lembrei da minha trajetória, estava emocionada da hora do hino. Não segurei, e foi um misto de emoções”, definiu a jogadora.

Ary Borges se tornou a primeira brasileira a anotar um gol em sua estreia em Copa do Mundo Feminina da Fifa desde Marta, em 2003.

No segundo tempo, ela foi substituída e deu lugar para a camisa 10, quando deixou o campo aplaudida. “Ter saído para ela entrar foi uma honra. Fiz questão dela ter entregado o troféu para mim. A gente convive com um ser humano incrível”, disse.

“Jogar com a Marta era um sonho que eu tinha, mas depois que você conhece o ser humano, você entende porque as pessoas a tratam como a Rainha. Ela é realmente uma pessoa que nos motiva, que viveu muita coisa para hoje a gente estar colhendo os frutos”, avaliou Ary.

Além de marcar os três gols, a meio-campista ainda deu a assistência para o de Bia Zaneratto, que fechou o placar. Após a partida, não faltou apoio e celebração pelo “melhor dia da vida” de Ary, como definiu Bia Zaneratto.

Kerolin valorizou a forma com que a amiga chega ao Mundial após ter deixado o Brasil. “Estou megafeliz por ela. Conheço desde o Sub-17, ela merece esse momento. A disciplina tática de estar no lugar certo na hora certa resultou nos gols. É muito válido ressaltar que ela saiu do Brasil em busca de melhorias para chegar melhor na Copa. Quem faz coisas boas colhe coisas boas. É continuar puxando para cima, cobrar ainda mais. Se pode fazer três, pode fazer mais”, disse.

AUSTRÁLIA MUDOU A CARREIRA

A mesma Austrália que marcou o melhor dia da carreira de Ary foi também um divisor de águas para ela na seleção.

Em outubro de 2021, na segunda lista em que foi chamada, a seleção se reuniu para jogos contra a Austrália no país das Matildas. A meio-campista teve ali a primeira chance como titular, mas foi pega de surpresa.

Uma conversa e a confiança da técnica Pia Sundhage viraram a chave para a meio-campista.

“Eu não me sentia bem, não me sentia confortável dentro da seleção, não conseguia jogar. Estava atuando bem no Palmeiras, mas não conseguia jogar bem na seleção, não me sentia confiante, não sentia até que eu merecia estar lá. Acabei chegando um pouco antes do grupo, e tive uma conversa com a Pia em que ela me mostrou alguns vídeos e falou: ‘Olha, eu quero que você faça isso, isso e isso, porque você consegue fazer'”, disse ao UOL antes da Copa.

“Ela chegou para mim e falou: ‘Se prepara, porque no jogo você vai começar como titular’. Minha cabeça parecia que ia explodir: ‘Como eu não estou jogando bem, ela estava me mostrando um monte de vídeos com coisas que eu preciso melhorar, que são erros, e eu vou ser titular em um jogo contra a Austrália na casa delas?’ E eu pensei: ‘Ou você vai para a próxima partida e se afunda ainda mais ou muda a sua cabeça?'”, completou.

RESPONDEU BEM

Uma das grandes preocupações da técnica Pia Sundhage era como as atletas jovens responderiam à pressão da primeira Copa do Mundo.

Após o jogo, a treinadora se mostrou satisfeita, mas ainda adota cautela para analisar a reação em situações mais adversas.

“Estou muito satisfeita com tudo que fizemos até agora. Não sei exatamente como as jovens jogariam hoje, mas convivendo e conversando é uma equipe feliz, alegre, e isso é um bom começo. É contagiosa, isso é importante. Quando não está jogando bem, como lidar com isso? Hoje não tivemos essa situação. Se conseguimos manter isso, vamos ficar satisfeitas e estaremos prontas para a próxima partida”, disse.

LUIZA SÁ / Folhapress

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