As empresas que facilitam a vida dos funcionários durante as férias escolares

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Empresas adotam benefícios para facilitar a vida de seus funcionários nas férias escolares, quando pais e mães precisam se dividir entre o trabalho e a responsabilidade pelas crianças por períodos mais longos do dia. As vantagens variam entre dias de recesso remunerado, flexibilidade para trabalho remoto e recreação para crianças no ambiente de trabalho.

O líder de operações Rafael Chammas, pai de Martín, 5, tem direito a uma semana de recesso remunerado durante as férias. Em julho, ele e a criança foram ao parque e ao museu, jogaram bola e desceram para a praia. “Dá uma injeção de ânimo. Eu voltei descansado e cheio de gás, com bastante energia para seguir adiante”, diz ele, que trabalha AKQA Casa, um estúdio criativo e agência de publicidade em São Paulo.

Para Chammas, o maior desafio de pais dedicados à carreira é o equilíbrio entre as demandas de trabalho e o tempo de qualidade com os filhos.

“Eu não me lembro de ter passado uma semana inteira com o meu pai quando era pequeno. Era tudo misturado no dia a dia. A gente nunca teve esses momentos sozinhos, então, para mim, sair do lugar de filho que não teve isso e passar para o lugar de pai que pode ter isso é uma mudança absurda de qualidade de vida, relação, profundidade e intimidade”, diz Chammas.

Para o corpo diretivo da AKQA Casa, a ação ajuda a sinalizar que ter um filho não deve ser visto como um empecilho, mas, sim, algo que agrega valor ao repertório de experiência dos colaboradores. Na volta da folga, os funcionários compartilham fotos e contam sobre os momentos com os pequenos em uma reunião de equipe.

O burnout parental foi especialmente exacerbado no período de isolamento social causado pela pandemia, com o estresse do ensino escolar à distância, o fechamento de creches e a instabilidade econômica, de acordo com um estudo de 2022 da Ohio State University. Desta forma, a discussão sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional ganhou força.

A dupla jornada de vida profissional e cuidados com os filhos pode levar ao esgotamento, escreveu a psicóloga Yael Schonbrun, da Universidade Brown (EUA) em seu livro “Work, Parent, Thrive” (Trabalhar, cuidar dos filhos, prosperar, em português). Pais trabalhadores também convivem com a culpa de não dar atenção suficiente aos filhos, afirma a autora.

A Roche oferece a opção de trabalho remoto nas férias escolares desde 2022. A medida fez com que a farmacêutica melhorasse sua pontuação em 18 quesitos em 2023 em relação a 2021 em pesquisa sobre ambiente de trabalho feita com funcionários, segundo a companhia.

Rodrigo Cezar, líder de estratégia e soluções integradas, eventos e viagens da farmacêutica, pode optar pelo homeoffice no período. O convívio com a família é importante para renovar as energias para o trabalho, diz ele, que é pai de Guilherme, 20, e Isabela, 16.

“A lógica do trabalho e a chegada de novas tecnologias têm exigido muito mais dos profissionais em uma escalada muito acelerada. É preciso ter bastante discernimento para equilibrar as práticas de qualidade de vida e dedicar tempo de qualidade àqueles que mais amamos, para além de nossas obrigações.”

No Magazine Luiza, recreadores animam filhos de colaboradores nos escritórios das cidades de Franca (SP) e São Paulo durante as férias. O programa, disponível há quatro anos, visa o cuidado humanizado com os colaboradores, afirma a empresa.

“Foi muito bom poder trazer meus pequenos. Já me pediram para voltar nas próximas férias por mais tempo. Isso vai ajudar muito, já que teremos preparação de Natal, liquidação e uma rotina diária muito intensa para dividir a atenção com eles mesmo no homeoffice”, diz Mauricio Leuenroth, diretor comercial do Magazine Luiza e pai da Julia, 9, e do Lucas, 7.

Ainda que sejam importantes, tais ações precisam ser parte de uma política que envolva outros benefícios parentais, diz Carine Roos, CEO da consultoria de diversidade e saúde emocional Somos Newa.

Ela chama atenção para o movimento “carewashing”, que indica práticas de empresas que se comprometem com uma cultura positiva de cuidados, oferecendo programas e benefícios, mas não garantem um ambiente de trabalho saudável.

“Se não a gente romantiza esses benefícios. Aí quando a gente olha o resto da rotina, é de isolamento e ausência em relação ao cuidado. Esses benefícios são importantes, mas eles são pontuais, a gente precisa construir cada vez mais uma cultura que seja efetivamente inclusiva”, diz Roos.

ISABELA ROCHA / Folhapress

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