SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, desembarcou na Austrália nesta quarta-feira (26), após trocar uma confissão de culpa por sua liberdade, em um acordo com os Estados Unidos que encerrou uma batalha legal de 14 anos. Ele foi recebido por apoiadores entusiasmados em sua terra natal.
O australiano chegou em um um jato particular no aeroporto de Canberra, capital do país, pouco depois das 19h30 locais (6h30 no Brasil), acenou para imprensa e apoiadores que aplaudiam sua chegada e beijou sua esposa, Stella, levantando-a do chão. O ativista também abraçou seu pai, uma das principais vozes pela sua libertação nos últimos anos, antes de entrar no prédio do terminal com sua equipe jurídica.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, que se empenhou por anos pela libertação de Assange, disse que conversou com ele por telefone depois que seu avião pousou. “Tive uma conversa muito calorosa com ele esta noite. Ele foi muito generoso em seus elogios aos esforços do governo australiano”, disse o premiê em uma entrevista coletiva. “O governo australiano defende os cidadãos australianos.”
O desembarque encerra uma saga de doze anos de privação de liberdade. Primeiro, ele se refugiou na embaixada do Equador no Reino Unido em 2012 para evitar a extradição para a Suécia em uma investigação por agressão sexual, que ele nega. Sete anos depois, em 2019, foi retirado do prédio e preso pela polícia britânica em um processo relacionado a um pedido de extradição feito pelos EUA, que moveu 18 acusações criminais contra o ativista com base principalmente na Lei de Espionagem, de 1917.
Nesta segunda, Assange deixou a prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, e, no dia seguinte, apresentou-se a um tribunal no território americano de Saipan, uma ilha no oceano Pacífico que foi escolhida pela relativa proximidade com a Austrália e pelo fato de que ele se recusava a viajar para os EUA.
O ativista concordou em se declarar culpado do crime de disseminação ilegal de material de segurança nacional, pelo qual ele deve ser condenado a cinco anos e dois meses de prisão exatamente o tempo que esteve preso no Reino Unido, razão pela qual ele saiu um homem livre do tribunal. Se tivesse sido condenado por todas as acusações, Assange poderia enfrentar até 170 anos de privação de liberdade em uma prisão federal.
A saga do australiano com os EUA começou em 2010, quando o WikiLeaks, site que publica informações sensíveis de empresas e governos compartilhadas sob anonimato, divulgou dezenas de milhares de documentos confidenciais do país vazados por Chelsea Manning, analista de inteligência do Exército. Muitos deles diziam respeito à atuação militar de Washington no Iraque e no Afeganistão.
Entre os vazamentos estava o vídeo de um ataque de helicópteros Apache americanos em Bagdá, em 2007. A gravação de 39 minutos mostra que os militares abriram fogo contra um grupo de pessoas, incluindo dois funcionários da Reuters, Saeed Chmagh e Namir Noor-Eldeen, que acabam mortos como outros que estavam no local. “Olha só aqueles babacas mortos”, diz um membro da tripulação após seu colega rir. Os militares atacam ainda uma van que chegou para ajudar.
Na ocasião, o Pentágono admitiu que a gravação era autêntica, mas o então secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmou que os vídeos mostravam a situação sem contexto ou perspectiva.
Apoiadores de Assange enxergam seus problemas na Justiça como fruto de perseguição dos EUA depois que ele revelou possíveis crimes de guerra cometidos por Washington. O governo americano, por sua vez, diz que os vazamentos colocaram vidas de militares em perigo.
A esposa do jornalista, Stella Assange, disse nesta terça que estava feliz com a decisão, mas ainda irritada por ele ter ficado preso por tanto tempo. Ela afirmou que Assange buscará perdão judicial porque admitir culpa em uma acusação de espionagem preocupa a imprensa ao redor do mundo.
Redação / Folhapress