‘Assassino por Acaso’ dá roupagem sexy e cômica aos temas de Richard Linklater

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muitos dos filmes de Richard Linklater, que lança agora “Assassino por Acaso”, são sobre mudanças. O tema está nas conversas de Ethan Hawke e Julie Delpy em “Antes do Amanhecer”, de 1995, e na própria essência da trilogia que, em sequências espaçadas em nove anos uma da outra, recuperaram os mesmos personagens em outros momentos de suas vidas, tendo os mesmos atores como intérpretes.

A mesma preocupação volta a aparecer em “Boyhood”, uma história de formação que acompanhou os mesmos atores por 12 anos. O questionamento de quem se é e quem se pode ser está até mesmo em suas animações, como “Waking Life” e “Apollo Dez e Meio”. Não é surpresa que a temática volte a aparecer em “Assassino por Acaso”. A diferença é que, agora, há uma roupagem mais espalhafatosa.

Na trama, Gary Johnson, personagem de Glen Powell, é um tedioso professor universitário que colabora com a polícia nos bastidores de operações que buscam prender os clientes de um assassino de aluguel. Uma pessoa da equipe se passa pelo matador e fecha o contrato com o investigado, consumando o crime e possibilitando a prisão.

Após um imprevisto, o pacato Gary é obrigado a assumir a linha de frente e, surpreendendo a todos, se mostra um ator exímio, capaz de incorporar as personalidades assassinas como ninguém. Entre seus conhecidos, é consenso que Ron, um dos personagens que surgem nas negociações, é melhor do que Gary, o verdadeiro, mas sem sal.

Amigo de longa data de Linklater, Powell assina com ele o roteiro do longa. Ele foi escalado pela primeira vez pelo diretor em “Nação Fast Food – Uma Rede de Corrupção”, de 2006, quando tinha 14 anos, mas foi há dez anos, quando entrou para o elenco “Jovens, Loucos e Mais Rebeldes”, que ele chamou a atenção do diretor.

“Ele era tão perfeito para o papel. Eu fiquei, tipo, ‘Deus, quando o Glen Powell ficou tão maduro e carismático e divertido?’”, diz Linklater.

A amizade culminou neste filme, inspirado na história real de um homem que trabalhou por décadas como falso assassino de aluguel para a polícia, revelada pela primeira vez no jornal americano Texas Monthly.

Era pandemia quando a dupla começou a adaptar a história para as telas. Powell conta que eles percebiam como o isolamento foi um momento de as pessoas questionarem quem eram e quem podiam ser.

“Sempre me interessei em pessoas se transformando ou se tornando quem são, procurando uma identidade ou a questionando”, diz Linklater. “Estamos presos com nós mesmos? Podemos mudar? Sabe, essas questões fundamentais. Foi divertido tratar disso num formato meio cômico.”

Alem do humor, Linklater aposta no romance em sua nova empreitada. Em uma das operações, Gary conhece a personagem de Adria Arjona, uma mulher que quer contratá-lo para matar seu marido. Quebrando as regras do jogo policial, ele convence a moça e acaba se envolvendo com ela —que, por sua vez, se interessa por Ron, uma pessoa que não existe. Ou existe?

Enquanto o personagem de Powell muda ao se tornar mais descolado, a de Arjona passa por outra transformação. Incentivada por Gary, ela abandona o marido tóxico e encontra no novo parceiro uma forma de perseguir a liberdade que não tinha.

“Ela vem de um lugar de trauma, e eu amo como ela está tentando se reinventar. Ela vai na contramão —se o marido não gostava de alguma coisa, é exatamente o que ela vai fazer”, diz Arjona. “Ela está construindo sua confiança através do Ron, e ver o poder que ela tem sobre ele a fortalece.”

“São duas pessoas criando um personagem uma para a outra, e enganando uma a outra, o que é meio que a essência de um primeiro encontro —pessoas criando essas versões mais intrigantes delas mesmas”, afirma Powell.

DIOGO BACHEGA / Folhapress

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