Ataque do Hezbollah chega antes do alerta de perigo

KIRYAT SHMONA, ISRAEL (FOLHAPRESS) – “Alerta vermelho: Kiryat Shmona”, piscou a tela do celular da reportagem às 13h36 (9h36 em Brasília) desta quinta (26). Não seria nada anormal, dado que essa cidade na zona de exclusão montada por Israel junto à fronteira libanesa é cliente regular dos ataques do Hezbollah à região.

O detalhe é que o repórter e seu motorista haviam acabado de deixar aquele local, a mais vistosa das cidades-fantasma do norte israelense, que conheceram levados pelo chefe da segurança local. Já em seu carro, a dupla viu pessoas correndo na rua e o barulho de explosões segundos antes do alerta.

Com a ficha caída, a dúvida: onde se esconder? Por sorte, o VW Golf surrado havia sido deixado no primeiro ponto habitado junto a Shmona, o kibutz Amir, que tem cerca de 800 habitantes. Um simpático dono de oficina nos abordou e gritou: bunker!

Enquanto isso, alguns dos 45 projéteis lançados naquela salva contra pontos do norte israelense explodiam. Há uma situação perversa: o celebrado sistema de defesa antiaérea em três camadas de Israel é virtualmente inútil aqui: os pontos de lançamento estão a 2 km a leste e 5 km a norte de Shmona.

É um capricho geográfico, dado que a cidade é a maior do chamado Dedo da Galiléia, um pedacinho de Israel que se imiscui no sul libanês dominado pelo Hezbollah. Em posição alta, os fundamentalistas obliteraram metade de Metula, a cidade menor vizinha a Shmona, hoje uma zona proibida.

Tal exposição fez com que 98% dos seus habitantes deixassem o local desde 20 de outubro, engrossando o êxodo de 60 mil pessoas desde o início da guerra.

Mas nenhuma dessas digressões foi feita: o carro foi largado do jeito que deu na rua e uma estrutura que parece um banheiro público, de cor amarelada, foi alcançada na correria.

Era um dos 200 bunkers improvisados construídos pela ONG Visão para Israel desde 2021, cuja demanda aumentou com o ataque terrorista do Hamas há quase um ano. Enquanto os foguetes da Faixa de Gaza hoje quase inexistem, os do aliado libanês dos palestinos seguem caindo.

Os bunkers são pequenos caixotes simples, de paredes muito reforçadas. Cada um custou o equivalente a R$ 76 mil, e no caso desta tarde a reportagem precisa consignar o agradecimento à doação da Middle East Television, uma emissora cristã de Chipre que fez a doação do abrigo usado.

Foi tudo muito rápido, coisa de um minuto. Sirenes nem chegaram a soar, o que presta tributa à rapidez do sistema de alertas por celular, apesar de sua limitação nas hoje largamente desocupadas áreas fronteiriças.

Dentro do abrigo havia dois pacotes com seis garrafas de um litro de água, boa ideia caso o bombardeio continuasse: fazia 32 graus na hora do ataque. Felizmente, não houve feridos nessa ação em particular, 1 das 9 registradas até as 19h desta quarta (13h em Brasília).

Findo o perigo mais aparente, é hora de cair fora. Algumas deliberações com o dono de uma oficina de peças para equipamentos agrícolas da região, à frente do bunker, determinaram um desvio da rota normal, afastando-se da fronteira libanesa em direção às Colinas de Golã. As já penosas horas no tráfego das estradas israelense ganhariam reforço.

Naquela região também haveria ataques mais tarde, mas os pontos no mapa do aplicativo estavam vermelhos justamente na rota principal, a rodovia 90 rumo ao sul. Ao fim, ela teria de ser usada, e sua junção com as estradas secundárias foi exatamente onde havia caído um drone lançado por grupos pró-Irã do Iraque poucos minutos antes, Hatzor HaGlilit.

Ciente do maior risco no vale em que estava, o emprego de mísseis antitanque russos Kornet, com alcance de 10 km e impossíveis de interceptar, o motorista (que pediu anonimato) acelerou a 160 km/h na estradinha que deixa a região.

Para trás ficaram duas nuvens de fumaça, uma dos ataques à área e outra, de um solitário trator que continuava fazer seu trabalho nos campos locais, indiferente à sua maneira ao drama que se desenrolava.

O mesmo pode ser dito dos moradores do kibutz onde estava o bunker. O fabricante de peças, cujo nome pode ou não ser Yonatan, dada a pressa, chegou a sugerir uma ida à fabricante do renomado uísque de Golã. “Aqui é sempre assim”, disse.

Com efeito, desde o dia após o 7 de outubro de 2023 que marcou o início da guerra, que ameaça se tornar um conflito total como Hezbollah, 9.300 mísseis e foguetes foram lançados contra Israel, mais de 80% contra a Galiléia.

Antes, às 10h45 (4h45 em Brasília), a reportagem viu a interceptação de alguns dos 40 foguetes lançados pelo Hezbollah contra Akko, na costa mais densamente habitada da região. Estava longe, cerca de 20 km, entrevistando talvez a maior especialista na crise do norte de Israel, Sarit Zehavi.

Todos foram à janela para ver os carneirinhos de fumaça deixado pelas interceptações de baixa altitude Ressalvando o custo humano entre civis do outro lado da fronteira, em mortes e no meio milhão de refugiados, ela antecipou o talvez Yonatan dizendo: “Agora você vê o que é o cotidiano aqui”.

IGOR GIELOW / Folhapress

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