BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Dados do Ministério da Saúde mostram que os atendimentos por problemas digestivos registrados nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) mais que dobraram no período das queimadas.
Foram registrados 49.982 atendimentos no país entre 30 de junho e 10 de agosto. Já no período entre 11 de agosto e 21 de setembro, o número saltou para 136.712.
Nos casos relativos ao sistema respiratório, o aumento foi de 21%. Passaram de 407.334 entre 30 de junho e 10 de agosto para 492.057 no período de 11 de agosto a 21 de setembro.
As informações foram divulgadas pelo ministério nesta quinta-feira (3). A pasta não informou dados específicos por estado.
Os números podem ser ainda maiores tendo em vista que foram coletados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica, cujo preenchimento é realizado por estados e municípios de forma facultativa.
Participaram da discussão secretários de Saúde dos estados da região Norte, além de representantes do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde).
Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, há uma forte pressão sobre o sistema de saúde, especialmente nas UBSs e unidades de UPAs (Unidade de Pronto Atendimento).
“Não há um impacto de falta de leitos, algo que a gente possa sinalizar como um grande alerta nesse sentido, mas não queremos chegar a essa situação. Por essa razão nós estamos trabalhando a importância também da orientação”, disse a ministra.
De acordo com Felipe Proença, secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, as unidades continuam conseguindo responder a esse aumento.
O secretário ressaltou que, inicialmente, foi registrado um aumento nos casos de náusea e vômito. Com o agravamento da situação, especialmente em razão da fumaça das queimadas, também houve crescimento de quadros de síndromes respiratórias, como asma, rinite.
“Em algumas localidades, os casos dobraram, principalmente em sintomas gastrointestinais e respiratórios”, observou.
Proença também destacou que as orientações aos municípios incluem desde a importância da hidratação até a reorganização dos serviços de saúde, como a expansão do horário de funcionamento das unidades básicas.
Além disso, ele disse que ministério está oferecendo suporte por meio da Força Nacional do SUS e, quando necessário, realizando visitas técnicas.
Durante a reunião, a ministra da Saúde destacou que a principal preocupação da pasta é atualmente com a seca na região Norte, especialmente devido à falta de acesso à água e ao isolamento das comunidades.
Segundo a ministra, os estados do Amazonas, Acre e Rondônia são os mais críticos. Em resposta, a Força Nacional de Saúde foi enviada para esses locais.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, a seca já paralisou o transporte de grãos pelo rio Madeira, um importante corredor hidroviário para escoar produtos do oeste do Mato Grosso e Rondônia até os terminais de exportação do Amazonas.
Em balneário de Alter do Chão, no oeste do Pará, o nível do rio Tapajós está em 91 centímetros, o menor desde 1995, quando começou a medição.
É um cenário ainda pior que o de 2010 ano da seca considerada a mais drástica até então, quando o nível ficou em 2 metros, segundo a Defesa Civil do município.
Devido à estiagem severa, catraias (canoas) ficam estacionadas enquanto turistas atravessavam a pé o canal que liga a vila à Ilha do Amor. Com cerca de 12 mil habitantes, Alter do Chão depende do turismo como principal atividade econômica.
RAQUEL LOPES / Folhapress