SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os recentes casos de violência policial em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, mobilizaram ativistas e instituições de direitos humanos, deputados de partidos de esquerda e lideranças de moradores a criarem o “Comitê de Crise Paraisópolis Exige Respeito”.
A criação do grupo foi anunciada na manhã desta quinta-feira (4) na sede da Ouvidoria da Polícia, no centro da capital. O órgão afirma que desde maio recebe denúncias de violações de direitos humanos na favela, como invasão de domicílios, abordagens agressivas, impedimento do direito de ir e vir e toque de recolher contra comerciantes.
A Ouvidoria diz temer que a falta de investigação das denúncias possa ocasionar uma escalada de violência na comunidade.
Uma das primeiras ações do comitê será a produção de um dossiê com as denúncias recebidas, que deve ser entregue ao comandante-geral da PM no próximo dia 19. Também está prevista a realização de uma caminhada na manhã deste sábado (6).
“O grupo entende e admite a presença da polícia no território, mas exige uma atuação dentro dos limites da lei para a preservação da dignidade humana, da cidadania e, sobretudo, das vidas, sejam quais forem”, diz trecho de nota da Ouvidoria.
O presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Adilson Souza Santiago, disse que o policiamento ostensivo tem deixado quem vive ali com medo. “Paraisópolis quer paz, chega do policiamento ostensivo, que tem causado pânico nos moradores”, afirmou.
O comitê tem como signatários o próprio Condepe, os institutos Sou da Paz e Vladimir Herzog, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e os deputados Beth Sahão, Thainara Faria, Antonio Donato e Eduardo Suplicy, todos do PT, além de Ediane Maria e Paula da Bancada Feminista, ambas do PSOL.
Na noite de 5 de abril, um homem morreu na favela após reagir a uma abordagem de policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
Na manhã de 17 de abril, um menino de sete anos sofreu um ferimento no rosto durante uma ação policial em Paraisópolis, quando seguia para a escola com a mãe, e perdeu a visão do olho direito. No dia seguinte ao episódio, moradores de Paraisópolis se reuniram no coração da favela para pedir paz e denunciar ações violentas da Polícia Militar.
Segundo o líder comunitário e presidente do G10 Favelas Gilson Rodrigues, 22 mil pessoas estão matriculadas em 14 escolas na comunidade. Somente no entorno do centro de Paraisópolis há quatro colégios que atendem 7.000 estudantes.
No dia 6 de junho, um homem morreu e dois PMs ficaram feridos a tiros durante uma abordagem na favela.
Nos últimos meses a PM tem realizado diversas ações que resultaram em apreensão de drogas em Paraisópolis. Policiais também têm impedido a realização de bailes funk na comunidade.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress