SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A inclusão do skate no programa olímpico a partir de Tóquio-2020 contribuiu para a popularização da modalidade nos últimos anos, ao levá-la a um público maior do que aquele que tradicionalmente acompanhava as disputas, com aumento na quantidade de interessados em iniciar a prática esportiva e fomento de negócios relacionados.
Agora o paraskatista brasileiro Vinicios Sardi luta para que a modalidade também seja incluída nos Jogos Paralímpicos.
“A inclusão do skate nas Olimpíadas vem gerando bastante fruto, com pistas de skate sendo construídas, mais investimentos das marcas, o cenário mudou. E acredito que aconteceria o mesmo com a inclusão nas Paralimpíadas, trazendo mais público para o evento”, diz à reportagem Vini, como o skatista é mais conhecido no meio.
Campeão dos X-Games em 2019, quando os organizadores do evento de esportes radicais promoveram um torneio voltado para atletas com deficiência que contou com oito competidores, o brasileiro embarcou para Paris na semana passada, onde se apresentou em uma minipista montada na Casa Brasil, espaço na capital francesa voltado para a confraternização entre atletas, jornalistas e fãs.
“O skate é um esporte paralímpico muito diferente do que estamos acostumados a ver, porque é de alto impacto. Muita gente está habituada a ver a pessoa com deficiência praticando algum esporte mais tradicional, que não tem tanto risco de se machucar, ou em uma cadeira de rodas. O skate vem para mostrar o contrário, que o atleta se arrisca, pode se machucar, cair e se levantar. É uma parada muito diferente, que acho que traz muita da força do público PCD [pessoa com deficiência] e representaria muito nas Paralimpíadas”, afirma.
Do bairro Lauzane Paulista, na zona norte de São Paulo, o paraskatista nasceu com má-formação congênita nas pernas e teve o primeiro contato com o skate por meio dos videogames, nos jogos protagonizados pelo craque norte-americano Tony Hawk.
Aos 16 anos, resolveu comprar seu primeiro skate, mesmo sem saber se conseguiria se equilibrar em cima do shape de madeira. As primeiras tentativas foram com as próteses que usa para se locomover no dia a dia, mas o material não foi pensado para a modalidade e não funcionou muito bem.
Acostumado desde criança a brincar, correr e pular sem as próteses, Vini optou então por tentar andar de skate também sem o auxílio do equipamento e acabou sendo muito bem-sucedido na empreitada.
“A maior dificuldade que tive foi a questão da aceitação da minha própria deficiência. Quando comecei a andar de skate sem as próteses, acabei me expondo para as pessoas, então foi uma barreira muito grande que tive que quebrar na minha vida”, afirma Vini, que é atleta do Corinthians e corintiano e presidente da Abpsk (Associação Brasileira de Paraskate).
A associação foi fundada em 2022 e tem duas frentes de atuação: lidar com os aspectos mais burocráticos relacionados ao esporte e fomentar campeonatos e novos atletas no país.
A associação reúne cerca de 50 paraskatistas, dos quais 20 competem em alto nível. A STU (Skate Total Urbe), responsável pela organização do circuito brasileiro da modalidade, promove o torneio de paraskate em todas as etapas realizadas em território nacional. Vini venceu o circuito em 2022 e 2023 na categoria park e briga pelo tricampeonato neste ano.
Além disso, em julho, foi realizada no Parque São Jorge a segunda edição do Paraskate Tour, campeonato que reuniu cerca de 30 paraskatistas e teve a primeira bateria de skatistas cegos no mundo.
Vini afirma que, assim como em outras modalidades paralímpicas, o Brasil é uma das maiores potências no paraskate.
A falta de uma quantidade maior de skatistas paralímpicos em outros países e a definição de categorias de acordo com a deficiência de cada um são barreiras que Sardi reconhece que ainda precisam ser superadas para a inclusão da modalidade nas Paralimpíadas.
Segundo o Comitê Paralímpico Internacional, a única inclusão prevista para Los Angeles-2028 é a da escalada paralímpica.
O presidente da Abpsk diz que a ida a Paris representou uma oportunidade de “mostrar a força do nosso skate e, quem sabe, chamar a atenção das pessoas certas para conseguirmos a introdução da modalidade em Los Angeles”.
Ele afirma que uma medalha de ouro em uma edição dos Jogos Paralímpicos fecharia da melhor maneira sua trajetória no esporte.
“Ajudar o skate da forma que ele me ajudou, criando a associação, trazendo mais pessoas para o mundo do esporte, é um sonho realizado, porque sei a importância do skate, o que ele fez na minha vida em relação a eu ser deficiente, à aceitação, à representatividade. Quero passar isso para a frente para mudar a vida de outras pessoas também.”
LUCAS BOMBANA / Folhapress