SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Terminado um ano olímpico, os atletas de alto rendimento iniciam agora o ciclo para mais uma edição dos Jogos. Tudo o que eles querem, além de saúde e medalhas, é que o caminho até as disputas esportivas de 2028, em Los Angeles, seja pouco acidentado.
O trajeto até Tóquio e Paris não foi assim.
Tóquio-2020 não foi nem Tóquio-2020. O evento ficou para 2021, sem público, em meio à pandemia do então novo coronavírus. E as restrições ligadas à Covid-19 tornaram complicada a vida do mundo todo, realidade da qual evidentemente não escaparam os esportistas.
Veio, então, Paris-2024, com um atípico ciclo de três anos. Uma das consequências foi uma incidência também atípica de atletas mencionando na França questões de saúde mental, tratadas até como mais relevantes para os resultados dos que as físicas.
Foi o caso de Isaquias Queiroz, que já tinha recebido três medalhas nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, e em 2021, em Tóquio, alcançou sua maior, o ouro na modalidade individual de 1 km da canoagem (C1 1.000). Em 2023, exaurido, tirou um ano quase sabático, que quase lhe custou a vaga olímpica.
“Eu estava muito sobrecarregado, mentalmente, psicologicamente, muito estresse mental. Eu não conseguia raciocinar direito, explodia em casa por qualquer coisa, com o Sebastian”, afirmou, já com a medalha de prata de Paris no peito. “Falei: Não sei o que está acontecendo, estou descontando no meu filho, não tem nada a ver.”
De acordo com o baiano de 30 anos, subir ao pódio só foi possível por causa do período em que deixou o esporte em segundo plano. A estratégia para Los Angeles-2028 também tem o descanso como componente fundamental.
“Estou tentando fazer um planejamento em que o ano de 2025 vai ser mais tranquilo, mais relax, um ano em que eu não preciso me preocupar tanto com os resultados. Para ter esses resultados, é preciso fazer um treino pesado, o que pode acabar prejudicando bastante lá na frente”, disse o canoísta.
Também saiu desgastada de Paris a judoca Bia Souza, 26. E foi cansativo o período pós-olímpico, com uma série de compromissos comerciais decorrentes do ouro que conquistou na categoria acima de 78 kg ela ainda foi decisiva no bronze do Brasil na disputa mista por equipes. Ao fim do ano, só queria “merecidas férias”.
Não é muito diferente o raciocínio daqueles que não obtiveram em Paris aquilo que foram buscar. Ana Sátila, 28, por exemplo, ainda está tentando recalibrar as energias após uma edição olímpica que considerou decepcionante, sem medalha em nenhuma das três provas de que participou na canoagem slalom.
“É uma ressaca que você sente”, afirmou. “Foram dois ciclos muito pesados. Eu praticamente não tive férias, assim como vários outros atletas que eu conheço, porque era um período menor e a gente queria chegar bem preparado. Percebo hoje que houve uma exaustão incomum dos atletas, sabe?”
Agora, espera-se alguma normalidade, alguma previsibilidade, no caminho para Los Angeles. Mas, antes, os atletas estão priorizando o descanso. Físico, mas, ainda mais, mental.
MARCOS GUEDES / Folhapress