SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se a Copa do Qatar em 2022 foi a “última dança” para Lionel Messi (que acabou com o título) e Cristiano Ronaldo, dois dos maiores jogadores da história, o Mundial feminino deste ano também tem a sua parcela de despedidas que ficarão marcadas.
A norte-americana Megan Rapinoe, 38, anunciou a intenção de abandonar o futebol ao final da temporada. Campeã em 2015, ela foi a estrela da seleção campeã em 2019 e vai em busca do inédito tricampeonato.
Tal qual Messi, a brasileira Marta, 37, chega ao torneio na Austrália e na Nova Zelândia em busca de um final glorioso. Será sua última participação no torneio. E as demais convocadas querem que, tal qual ocorreu com o argentino, o adeus aconteça com a taça nas mãos.
“É a primeira vez que o Brasil chega para vencer mesmo, para chegar a uma final. A gente quer essa vitória pela Marta, pela história dela, pelo que representa”, afirmou a meia Andressa Alves, também convocada pela técnica Pia Sundhage.
Jogadora mais vezes eleita melhor do mundo (seis), Marta ainda busca uma grande conquista com a camisa amarela. Ganhou a Copa América em 2003, 2010 e 2018, mas saiu de mãos vazias em partidas decisivas dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Nas Olimpíadas, foi medalha de prata em 2004 e 2008. Ficou com o vice-campeonato do Mundial de 2007 após derrota para Alemanha por 2 a 0. Jogo em que perdeu um pênalti.
“Se a gente conseguir dar essa alegria para a Marta, o sabor dessa conquista será ainda mais especial. Ela é nosso exemplo. Merece”, disse a atacante Geyse, que atua pelo Barcelona, alagoana como a camisa 10.
A condição de titular de Marta ainda é dúvida. Ela não participou da Finalíssima diante da Inglaterra, no início de abril, por lesão na coxa. Passou cerca de dez meses afastada em 2022 por ter rompido ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.
A craque reconhece que os problemas físicos a atrapalham, embora Pia não tenha os considerado impeditivos para a convocação dela para seu sexto Mundial. Apenas um atleta, contabilizados os campeonatos masculino e feminino, conseguiu mais do que isso.
“Na próxima Copa estaria com o quê? Quarenta e um, aí é uma Formiga da vida. Só a Formiga conseguiu isso, e até hoje ela não me falou o segredo. Não descartei a possibilidade de ser mãe, então é algo que pode acontecer”, disse Marta, em entrevista à Globo.
Formiga, que disputou sete Mundiais, foi chamada para o torneio de 2019, na França, aos 41. Dois anos depois, aos 43, esteve nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
“É um momento muito especial para nós fazer parte disso com a Marta. Sabemos da importância de todos os títulos que ela já conquistou individualmente, mas ela sempre fala para a gente que trocaria todos por uma Copa do Mundo. Então, vamos fazer de tudo para coroar essa brilhante carreira que ela teve com o título mundial”, disse a meia-atacante Bia Zaneratto ao portal IG.
As campanhas de Marta em Mundiais costumaram ser um espelho da seleção brasileira: acidentadas. Apesar de grandes atuações e jornadas nas quais parecia imarcável, a camisa 10 teve partidas em que não conseguiu ser o fator de desequilíbrio em campo. Foi algo que aconteceu nas oitavas de final de 2019, diante da França. O Brasil caiu na prorrogação.
Frustrada pelo resultado, a estrela da equipe depois cobrou mais comprometimento de todas as jogadoras, lembrando que ela, Formiga e Cristiane não seriam eternas na seleção.
Quatro anos depois, Formiga está aposentada, e Cristiane foi ignorada por Pia Sundhage.
“É uma pessoa que sempre admirei, ia aos estádios para assistir, vejo vídeos até hoje dos dribles e dos gols”, elogiou a atacante Gabi Nunes.
Se a craque não for titular e permanecer como opção para o segundo tempo, a responsabilidade de fazê-la campeã vai cair mais sobre os ombros de jogadoras que já foram apontadas como suas sucessoras. Uma delas é a atacante Debinha, 31, artilheira da seleção na era Pia, com 27 gols. Ela entrou na lista de 14 indicadas para melhor do planeta no ano passado.
O mesmo prêmio que Marta já venceu múltiplas vezes, a última em 2018.
“Ter a oportunidade de ir para a Copa do Mundo com a Marta é algo indescritível”, resumiu a meia Ana Vitória.
ALEX SABINO E LUCIANO TRINDADE / Folhapress