SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Rei das histórias divertidas, quase folclóricas, em seus shows e entrevistas (naqueles a que ele compareceu, claro), Tim Maia (1942-1998) também fez suas graças com a hoje ministra da Cultura do Governo Lula (PT), Margareth Menezes.
Homenageado desta quarta (12) noite no Prêmio da Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o “síndico” tinha em Margareth, no início dos anos 1990, mais uma de suas fãs.
Ele não a conhecia, o que não o impediu de, ao ser abordado pela cantora, “grudar”, com aquele seu jeitão, na artista, então contratada da gravadora Universal. Ela trabalhava na produção do seu segundo disco, o “Canto pra Subir”, e conta que foi vê-lo cantar em um Circo Voador, no Rio, lotado. Margareth lembra com carinho desta história.
“O show atrasou bastante, como era de costume”, recorda-se. “Todo mundo já estava muito ansioso, mas, ao mesmo tempo, sabia que isso já fazia um pouco parte da performance. Eis que ele entrou, cantou umas oito músicas, mas estava insatisfeito, reclamava muito do som”. Ou seja, Tim Maia sendo Tim Maia.
Foi então que Tim resolveu fazer um intervalo (mais um clássico), com a promessa de que “cantaria até de manhã”. A artista, em início de carreira, não poderia esperar e foi até ele se apresentar e se despedir. “‘Tim, oi, sou Margareth, sou uma superfã. Vim aqui te conhecer e me despedir’. Ele, então, me segurou no braço e disse: ‘Já vai embora? Não, não vai não’. E não me largou mais”, conta.
A tal palinha, improvisada, já que ela não conhecia o repertório em inglês que Maia sugeria, fez ele perceber que ali existia um talento. No fim, convidou Margareth para outro show, na Urca, e ainda ofereceu a ela “milzinho”. “Eu tive esse presente de ter essa oportunidade num Circo Voador lotado de gente!”.
Na homenagem desta noite no Municipal, a ministra se juntará a outros 26 artistas que vão interpretar clássicos do cancioneiro de Tim. Ao lado de Sandra Sá e Sued Nunes, ela cantará “Vale Tudo”, “Sossego” e “Você e Eu, Eu e Você”.
E quem comparecer à premiação poderá ver um momento raro, sobretudo no último ano e meio. Depois que Margareth assumiu o ministério da Cultura de Lula, no início de 2023, ela não tem feito mais tantos shows, apesar de tentar dar uma escapadinha sempre que pode, tal como fazia Gilberto Gil quando encarou a mesma função nos mandatos de Lula, entre 2003 e 2008.
“Sempre deixei claro, inclusive para o presidente, que eu iria continuar fazendo shows, assim como fazia o Gil. Não há nenhum mistério nisso, tem aí o comitê de ética que fiscaliza, e se tudo é cumprido direito, não há nenhum problema. Tudo o que construí na minha vida até aqui foi com a minha carreira artística”, avalia.
Apesar de se dizer realizada à frente da pasta e disposta a “colaborar de alguma forma com o setor cultural do país”, a ministra afirma que sente falta da rotina de apresentações.
“Eu preciso dar manutenção a isso. Quando tenho férias, busco repartir [o tempo] entre descanso e shows. Tenho conseguido separar o momento Ministério do momento artístico. Mas eu sou artista, e a minha alma de artista precisa também se alimentar.”
O tempo tem sido tão curto que ela afirma que mal tem ouvido música. Quando arruma uma brecha, em sua playlist há alguns queridinhos. “Tem um artista chamado Fatel, que é um menino de Juazeiro (BA), que eu já conhecia há um tempo e admiro muito. Também descobri há pouco tempo o Ayrton Montarroyos. E a Josyara, eu adoro, uma musicista e cantora maravilhosa.”
A cantora e ministra está comemorando 40 anos de carreira, a afirma que se orgulha em poder construir um nome em Brasília, mas evita falar em se manter na política ao fim de seu mandato. “O meu foco é trabalhar, fazer um trabalho inclusivo para abranger a todos e todas”.
O papo, via mensagens de WhatsApp, estava agradável enquanto versava sobre música, Tim Maia e sobre sua gestão à frente do MinC. Mas bastou fazer certas perguntas para que a resposta viesse em branco.
Por meio de sua assessoria, Margareth disse “que não se sentiu confortável em responder” a questões sobre as políticas de apoio à música sertaneja no seu ministério e verbas destinadas a cantores que tenham apoiado Jair Bolsonaro, nem sobre sua relação com a primeira-dama, Janja
LEONARDO VOLPATO / Folhapress