BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (15) que o reajuste no preço da gasolina irá impactar a inflação deste ano e sinalizou que isso deverá levar a revisões para cima das projeções para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
“Hoje teve um aumento grande, tem um impacto na inflação de mais ou menos 0,40 ponto percentual nos meses de agosto e setembro. O impacto do diesel não é direto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto. Então, a gente provavelmente vai ter algumas previsões para cima [nas projeções para inflação deste ano] com o reajuste de hoje [terça]”, afirmou o chefe da autoridade monetária em almoço organizado pela FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).
A Petrobras anunciou mais cedo nesta terça reajuste nos preços da gasolina e do diesel. São os primeiros aumentos desde a implantação da nova política comercial da companhia, que abandonou o conceito de paridade de importação em maio.
O preço da gasolina nas refinarias da estatal vai subir R$ 0,41 por litro, para R$ 2,93. Já o diesel terá alta de R$ 0,78 por litro, para R$ 3,80. A gasolina tem o maior peso no IPCA, considerando os 377 subitens (bens e serviços) que compõem o índice divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o aumento no preço dos combustíveis, diminui a chance de o indicador fechar o ano dentro da meta de inflação perseguida pelo BC. Isso ocorre em um momento que as projeções vinham encostando no limite superior do alvo ao longo das últimas semanas.
Em 2023, o centro da meta é 3,25%, com tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, o objetivo é considerado cumprido se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,75% (piso) a 4,75% (teto).
Segundo a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Guardado, a autoridade monetária previa o movimento de alta das commodities como risco para inflação à frente e já incorporou parcialmente eventual reajuste no preço da gasolina em suas projeções.
“Uma das mudanças que a gente fez no nosso balanço de riscos foi exatamente essa questão das commodities”, afirmou Guardado em evento organizado pela XP.
“A gente já estava observando na última reunião boa parte do movimento de queda das commodities agrícolas e energéticas se revertendo a partir de junho e julho. No nosso número, o Copom (Comitê de Política Monetária) já tinha embutido, seguindo sua governança usual, algum reajuste de gasolina. Parte desse reajuste já estava previsto dentro das nossas projeções”, complementou.
A projeção da autoridade monetária foi revisada para baixo na última reunião do Copom, em 2 de agosto, para 4,9%.
VICTORIA AZEVEDO E NATHALIA GARCIA / Folhapress