Aumento de combustíveis é decisão acertada, diz Campos Neto

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (16) ver como uma decisão acertada o reajuste nos preços de combustíveis anunciado pela Petrobras, apesar do impacto negativo esperado na inflação deste ano.

“Ontem [terça] tivemos o reajuste de combustíveis, que vai ter impacto [na inflação] no ano de 2023. Eu confesso que achei acertado, não é bom ter um distanciamento muito grande do preço [internacional]. Mesmo tendo um impacto que para a gente é negativo, a gente acha que é uma decisão acertada”, disse o chefe do BC no 35º Congresso Nacional Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

Um dia antes, em evento organizado pela FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo), Campos Neto projetou que o aumento no preço da gasolina deve ter um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2023.

“Tem um impacto na inflação de mais ou menos 0,40 ponto percentual nos meses de agosto e setembro. O impacto do diesel não é direto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto. Então, a gente provavelmente vai ter algumas previsões para cima [nas projeções para inflação deste ano] com o reajuste de hoje [terça]”, afirmou.

Com o reajuste anunciado pela Petrobras, o preço da gasolina nas refinarias vai subir R$ 0,41 por litro, para R$ 2,93. Já o diesel terá alta de R$ 0,78 por litro, para R$ 3,80.

São os primeiros aumentos desde a implantação da nova política comercial da estatal, que abandonou o conceito de paridade de importação em maio.

A gasolina tem o maior peso no IPCA, considerando os 377 subitens (bens e serviços) que compõem o índice divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A elevação anunciada pela Petrobras diminui a chance de o indicador fechar 2023 dentro da meta de inflação perseguida pelo BC. A atual projeção da autoridade monetária para o IPCA é 4,9%.

Em 2023, o centro da meta é 3,25%, com tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, o objetivo é considerado cumprido se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,75% (piso) a 4,75% (teto). A partir de 2024, horizonte mais relevante para a atuação do BC hoje, o alvo passa a ser 3%.

No evento da Abrasel, Campos Neto destacou também que a inflação de serviços, que estava mais resistente, começou a cair. Ele disse ainda que o BC vê consistência na queda dos núcleos de inflação –que excluem elementos voláteis e não recorrentes sobre os preços.

“A gente vê tanto a inflação de serviços como a inflação do núcleo de serviços um pouquinho mais bem comportada, indo mais ou menos na trajetória que a gente esperava ao longo desses meses”, disse.

Apesar da melhora, o presidente da instituição disse que é importante “perseverar” e que a luta contra a inflação “não está ganha”, sendo necessário ainda acompanhar o processo à frente.

No início de agosto, o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou a redução da taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual —de 13,75% para 13,25% ao ano.

Devido ao alto patamar de juros no país, o BC se tornou alvo de ataques por parte do governo Lula (PT). Para Campos Neto, a crítica ao trabalho da instituição é “altamente infundada” e afeta a motivação dos servidores, que trabalham hoje no regime de operação-padrão em protesto por reestruturação de carreira e novos concursos públicos.

“As críticas são sempre chatas mesmo porque afetam um pouco a motivação [dos funcionários]. Hoje o Banco Central tem, de um lado, uma crítica que a gente acha que é altamente infundada e que faz parte do processo, tem de conviver com isso”, disse.

“Do outro lado, um processo nos quadros internos, durante muito tempo não teve concurso. A gente precisa ter o funcionário motivado para continuar gerando inovações, a gente tem o Drex [moeda digital do BC] para vir”, acrescentou.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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