SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – “Ele não pode ser vacinado porque a vacina ainda não foi liberada para idade dele”, diz a designer de balões Ana Santos, 37, preocupada com o avanço da dengue na Bahia e sem saber quando poderá vacinar o filho de oito anos em Salvador, uma das 272 cidades baianas em epidemia da doença.
A psicóloga Ana Paula Bastos, 47, conta que quase não conseguiu vacinar o casal de filhos por enfrentar burocracia na capital baiana. Embora os irmãos de 10 e 14 anos façam parte do público-alvo da estratégia atual, ela diz que o acesso ao imunizante foi negado inicialmente pelo fato de os jovens portarem cartões SUS (Sistema Único de Saúde) emitidos no Rio de Janeiro. Após idas e vindas a diferentes postos de saúde, Bastos afirma que resolveu o problema.
Relatos de mães e pais cujos filhos ainda estão fora da faixa etária de vacinação contra a dengue refletem o temor da população pelo avanço da doença na Bahia a imunização hoje é restrita ao público entre 10 e 14 anos.
Em Salvador, a população dessa faixa etária é estimada em 226.831 pessoas. A cidade, porém, recebeu apenas 56.493 doses do imunizante. Pelo menos 16 mil crianças e pré-adolescentes já foram vacinados.
Estudo divulgado pela Fiocruz aponta que a dengue é cinco vezes mais letal para crianças com menos de cinco anos do que para aquelas que estão na faixa de 10 a 14 anos.
Sobre a reclamação de Bastos, a Secretaria Municipal de Saúde afirma não permitir a emissão online da primeira via do cartão porque é necessário comprovar a identificação e residência por meio de documentos físicos, como conta de luz, RG e CPF. O pedido deve ser feito em uma das 12 unidades das prefeituras-bairro da capital.
“O cartão do SUS dos meus filhos é da cidade onde residimos até o ano passado. Este ano, quando os levei para vacinar, tive que enfrentar essa burocracia, pois precisa ter o cartão do SUS cadastrado em Salvador. A meu ver, o SUS é nacional, e não deveria haver impossibilidade de vacinar se não tiver o cartão atualizado”, queixou-se a psicóloga, que diz ter dificuldades de se deslocar pela cidade.
Procurado, o Ministério da Saúde informou que, por ora, não há previsão para a ampliação da vacinação a outros grupos, dentre os quais os de menores de cinco anos. A pasta afirma que isso só deverá acontecer com a fabricação de novas doses da vacina, o que também não é possível prever.
A Bahia, embora tenha sido um dos primeiros estados a receberem o imunizante, confirmou a 18ª morte por dengue nesta terça-feira (19), segundo a Secretaria estadual de Saúde. A vítima, um homem de 25 anos, residia em Santo Antônio de Jesus, cidade localizada na região do recôncavo e que anteriormente já havia contabilizado um óbito pela doença.
O Recôncavo baiano concentra o maior número de mortes (12, no total) nas cidades de Jacaraci (4), Piripá (3), Vitória da Conquista (3), Barra do Choça (1) e Ibiassucê (1).
As demais foram registradas em Campo Formoso (1), Feira de Santana (1), Irecê (1), Santo Estêvão (1) e Santo Antônio de Jesus (2), aponta o último boletim epidemiológico.
Além das 272 cidades em epidemia, há 34 municípios em situação de risco e outros sete, em alerta. O estado soma 62.478 casos prováveis da doença, de acordo com dados notificados até o dia 16 de março. No mesmo período de 2023, foram notificados 12.479 casos prováveis, o que representa um aumento de 400,7%.
Diante do avanço do avanço da doença, governo estadual e prefeituras do interior intensificaram as ações de conscientização e de combate à dengue.
A mobilização inclui o uso de drones para identificação dos focos do mosquito, mutirões de limpeza, aquisição de novos carros fumacês, distribuição de aproximadamente 12 mil kits para profissionais de combate às endemias, além da aquisição de medicamentos e insumos hospitalares.
A atuação de enfrentamento na capital e interior conta ainda com apoio do Corpo de Bombeiros e Marinha.
Em Salvador, 1.300 agentes de endemias realizam diariamente o trabalho preventivo, corretivo e educacional em toda a cidade. A programação é divulgada nos canais oficiais da Secretaria Municipal de Saúde.
Cinco carros fumacê que lançam inseticida saem às ruas diariamente em áreas com maior incidência da doença, infestação e casos suspeitos notificados.
A capital soteropolitana entrou na lista das cidades baianas em estado de epidemia após registrar, por quatro semanas consecutivas, aumento de casos prováveis de dengue e atingir um coeficiente de 100 registros a cada 100 mil habitantes cenário concretizado na semana epidemiológica 10 (entre 3 e 9 de março).
A secretária estadual da Saúde, Roberta Santana, pede que a sociedade também se mobilize, evite o acúmulo de água parada e mantenha seus domicílios e áreas externas sempre limpos.
“O combate e a prevenção às arboviroses é um trabalho conjunto, que envolve Estado, município e também a população. Precisamos desse esforço conjunto”. A secretária lembra que bastam dez minutos para o morador fazer uma boa vistoria na própria casa e locais de trabalho.
O Brasil vive uma epidemia de dengue preocupante. Segundo dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses, o país chegou a 1.889.206 casos prováveis de dengue nesta segunda-feira (18), batendo o recorde histórico de registros em 78 dias.
No mesmo período de 2023, o país havia registrado 400.197 casos. Na comparação entre os dois anos, o aumento foi de 372%.
ALEXANDRE SANTOS / Folhapress