‘Back to Black’ traz Amy Winehouse meiga e ameniza os traumas

FOLHAPRESS – Amy Winehouse deu novos ânimos ao jazz nos anos 2000 e marcou a história da música em sua breve passagem pela indústria. Morta aos 27 anos, em 2011, não é necessário que sua cinebiografia, “Back to Black”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (16), nos conte sobre a grandeza de um dos álbuns mais aclamados de todos os tempos, vencedor de cinco Grammys.

Embora o filme mostre os bastidores da criação e os principais acontecimentos de sua vida, o coração da obra está na personalidade meiga da britânica, profundamente ligada às pessoas que ama. É uma faceta que outros esforços, como o documentário vencedor do Oscar “Amy”, deixaram de lado.

O retrato da cantora, vivida por Marisa Abela, entrega logo nas primeiras cenas uma Amy carinhosa e apaixonada pela avó, Cynthia Levy, de quem herdou um estilo marcado por referências dos anos 1960, como o penteado colmeia que virou sua marca.

Ainda no início do filme, vemos também, sutilmente, sua relação conturbada com a comida. Após comer um pedaço de bolo, Amy é vista deixando o banheiro. Esta é a primeira de algumas menções tímidas à bulimia que a acompanhou desde a adolescência.

A narrativa é conduzida por cada tatuagem que a cantora faz, e, a certa altura, a luta contra o transtorno e o alto consumo de drogas assumem papel central na narrativa. As cenas degradantes elevam sempre sua condição humana e terna, o que contradiz a imagem sensacionalista de que ela era fechada e agressiva.

Essas características de fato aparecem, mas como autodefesa para alguém cuja privacidade e problemas foram explorados pela imprensa. O tom poético guia toda a produção. Em mais de uma cena, Amy ouve música e dança enquanto caminha pelas ruas de Londres.

A proximidade com a avó —que morre de câncer em 2006 e agrava a vulnerabilidade emocional da cantora—, e com o seu pai, Mitch Winehouse, ofuscam outras relações importantes. O filme peca em deixar de lado sua mãe, Janis Winehouse, e uma de suas melhores amigas, Juliette Ashby.

Em produções anteriores sobre a artista é possível ouvi-las dizer não só que temiam pela segurança de Amy, mas que a cantora temia a fama —o que é enfatizado em diversos momentos do filme, e causa um desconforto crescente diante das investidas da mídia sobre sua vida.

Já seu relacionamento com Blake Fielder-Civil, interpretado por Jake O’Connell, é retratado de forma terna e embalado pelas canções do grupo feminino dos anos 1960, The Shangri-Las. Ainda que a relação de ambos, bastante centrada no abuso de drogas, seja bem conhecida, o carinho e a tristeza profunda que se alternam entre as idas e vindas do casal na tela tentam amenizar os efeitos danosos desse envolvimento.

Nas redes sociais, fãs criticaram a escolha de Marisa Abela por sua voz tímida se comparada a Amy —mas esse aspecto é secundário. Abela reproduz os trejeitos da cantora de forma bastante precisa, além de incorporar seu olhar vago, capturado pelos paparazzi, à medida que o drama avança.

Já a diretora Sam Taylor-Johnson —outra escolha atacada pelos fãs, já que é quem assina a adaptação de “Cinquenta Tons de Cinza”—, não concentra as energias de “Back to Black” no apelo sexual. Bem como não pesa a mão nas cenas envolvendo drogas que não o álcool.

Na verdade, o lirismo e o embalo de músicas ao longo do filme lembram os bons momentos outra produção de Taylor-Johnson, “O Garoto de Liverpool”, sobre John Lennon.

Na parte final, o filme encena a prisão de seu marido após uma briga em um bar, o pedido de divórcio, uma de suas internações na reabilitação contra as drogas e apresenta as composições de Amy fora de cronologia, mas para trazer sentido aos problemas que ela encara, costurando trechos em que ela destaca seus vícios –das drogas à codependência emocional.

Em meio à aura otimista que guia sua breve trajetória, a cinebiografia faz esquecer por um momento que o fim já está dado, e nos dá a esperança de um final feliz que não virá.

BACK TO BLACK

Avaliação Muito bom

Quando Estreia nesta quinta (16) nos cinemas

Elenco Marisa Abela, Jake O’Connell, Eddie Marsan, Lesley Manville

Direção Sam Taylor-Johnson

NAYANI REAL / Folhapress

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