RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Do que um dia já foi chamado de “cinturão tucano” não resta absolutamente nada. Após duas eleições com amplo domínio na Baixada Santista, o PSDB ruiu completamente na região litorânea e não elegeu nenhum prefeito.
Também não conseguiu eleger vereadores em 6 dos 9 municípios da região, num cenário que já estava desenhado antes mesmo da eleição de domingo (6) e que contou com a pulverização das prefeituras por pelo menos sete partidos. Em Santos e Guarujá, ainda haverá segundo turno.
Depois de controlar nos últimos anos a maioria das cidades da região, numa onda iniciada em 2012, o PSDB atingiu o ápice a partir da disputa seguinte. Há 12 anos, foram eleitos prefeitos pelo partido em 3 dos 9 municípios da Baixada: Santos, Praia Grande e Itanhaém.
Em 2016, o domínio foi quase total. Além de emplacar os prefeitos nas mesmas três cidades, também venceu em Bertioga, Cubatão, Mongaguá e Peruíbe, fazendo 7 das 9 prefeituras.
A forte presença prosseguiu em 2020, com seis vitórias, em Santos, Praia Grande, Itanhaém, Bertioga, Cubatão e Peruíbe.
Agora, porém, houve uma pulverização total na região. O União Brasil venceu em Bertioga, enquanto o PSD foi vitorioso em Cubatão e Peruíbe. O Republicanos conquistou a eleição em Itanhaém, enquanto o MDB ganhou em Praia Grande e o Podemos venceu em São Vicente.
Eleito pelos tucanos há quatro anos, o prefeito de Santos, Rogério Santos, que deixou o partido no ano passado e migrou para o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, está no segundo turno contra a deputada federal Rosana Valle (PL) e é um bom exemplo do declínio da legenda na Baixada Santista.
À reportagem Rosana afirmou antes do primeiro turno que Rogério “agiu com oportunismo” ao trocar de partido, enquanto o prefeito afirmou que continuava com a sua “posição política de centro” ao se filiar ao Republicanos, enquanto a adversária trocou o PSB, pelo qual foi eleita deputada em 2018, pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Depois das três vitórias na principal cidade da Baixada as duas primeiras com o ex-prefeito Paulo Alexandre Barbosa, coube ao PSDB neste ano um papel de coadjuvante na coligação do atual prefeito.
Já se sabia antes mesmo da votação deste domingo que o quadro seria péssimo para a sigla porque o partido não conseguiu nem mesmo lançar um nome para disputar o cargo de prefeito entre os 42 candidatos que disputaram a eleição nas nove cidades.
Nas Câmaras, o partido só elegeu candidatos em Santos (1), Cubatão e Peruíbe (3 em cada).
No estado todo, o PSDB viu desmoronar seu quadro de prefeitos eleitos. Dos 180 governantes eleitos no estado em 2020, agora conquistou somente 21 prefeituras, em um universo de apenas 68 candidaturas.
Atualmente, exercem cargo pelo partido menos de 30 prefeitos, o que significa que o cenário inicial para 2025 é ainda mais crítico para a legenda.
Na capital paulista, onde o partido tinha vencido as últimas eleições, com João Doria (2016) e Bruno Covas (2020), o partido teve a pior votação da história com o jornalista José Luiz Datena, com apenas 1,8% dos votos válidos.
O mau momento tucano em São Paulo é reconhecido pelos dirigentes partidários. No sábado (5), um dia antes da eleição, o presidente do partido, Marconi Perillo, afirmou à reportagem que o trabalho atual é de tentar um recomeço e elogiou o apresentador, apesar do resultado ruim que ele apresentava nas pesquisas. Disse que o partido “estava liquidado antes do Datena”.
“A gente pegou o partido numa situação muito difícil, com os piores fundos eleitorais e uma bancada reduzida. Eu dei uma volta no país, consegui lançar mais de 700 candidatos a prefeito”, disse, afirmando que o lado positivo é de que quem ficou no partido se candidatou com entusiasmo.
A queda expressiva na Baixada e no estado se explica porque, há quatro anos, o partido ainda estava à frente do governo estadual com João Doria, o que já ocorria desde a primeira vitória de Mário Covas (1930-2001), em 1994. A derrota de Rodrigo Garcia em 2022, porém, esfacelou o partido no interior do estado, e prefeitos migraram para outras siglas.
A debandada se deu principalmente em direção ao PSD de Gilberto Kassab, principal articulador político de Tarcísio, e em pequenos municípios, mais dependentes de recursos estaduais e federais. No ano passado, já eram 329 prefeitos, ou mais da metade dos municípios paulistas, filiados à sigla.
Depois de eleger 67 prefeitos nos 645 municípios paulistas nas eleições de 2020, o PSD avançou para 195 neste domingo, num pleito que confirmou as mudanças das peças no tabuleiro político estadual.
Além do PSD, também cresceram de forma robusta PL e Republicanos. Dos 42 eleitos há quatro anos no PL, agora foram 100, enquanto na sigla do governador o total de eleitos subiu de 23 para 79.
MARCELO TOLEDO / Folhapress