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Banal, ‘O Macaco’ é refém da extravagância de suas cenas de morte

(FOLHAPRESS) – Menos de um ano atrás, “Longlegs – Vínculo Mortal” chegava aos cinemas envolto em elogios e expectativas sobre a densidade de seu mergulho na investigação das misteriosas mortes perpetradas pelo psicopata vivido por Nicolas Cage.

O diretor Osgood Perkins, em seu quarto longa-metragem, mantinha a atmosfera de perturbação que marca seus trabalhos desde a estreia, com o impactante “A Enviada do Mal”, de 2015. “Longlegs” foi sucesso e amplificou a espera pelo próximo título de Perkins, “O Macaco”, anunciado ainda em 2024.

É bastante significativo que, neste novo filme, o cineasta mude a forma de se aproximar do material de base. Adaptação de um conto homônimo de Stephen King publicado em 1980, “O Macaco” se estabelece nos primeiros minutos como uma comédia de horror, sem nenhuma ambiguidade sobre isso.

É como se Perkins, conhecido pelo estilo soturno e trágico, expusesse logo a vontade de relaxar com o gênero e deixar, desta vez, que o humor conduza a ação. Isso não diminui o impacto imediato da parte horrífica do processo. “O Macaco” empilha fatalidades extravagantes, dos jeitos mais variados que se possa esperar, e faz ótima utilização de efeitos práticos e violência explícita para assustar com alguma graciosidade, ainda que o objetivo evidente não seja provocar medo.

Em muitos aspectos, lembra os mecanismos da franquia “Premonição”, com incidentes fatais elaborados a partir de uma série de acasos supostamente acidentais que são, de fato, provocados por forças sobrenaturais a agirem nos movimentos do mundo.

Mas se a galhofa de “Premonição” tratava da inevitabilidade da morte com humor sombrio e nervoso, “O Macaco” circula com bem menos gravidade em torno da mesma filosofia.

O enredo sobre dois irmãos traumatizados pelos desastres provocados por um macaquinho de brinquedo amaldiçoado é o arco dramático do filme, entremeando a eliminação abrupta de praticamente qualquer pessoa ao redor da dupla.

Essa banalidade do mal em “O Macaco” tem por consequência a indiferença com que tanto espectador quanto protagonista tratam os acontecimentos. Se tudo é uma piada engraçadinha, então nada realmente é.

Os perigos iminentes pouco têm de atrativos, e a graça começa a cansar da metade para frente. O filme quer se sustentar no fetiche pela próxima morte e a certeza crescente de que ela virá rapidamente e, quem diria, indolor. Não que haja ausência de sofrimento ou choque, mas Perkins não se detém sobre os efeitos disso na narrativa, nem pela potencial força das imagens nem pelo acúmulo de seus desdobramentos.

O mistério entre os irmãos, inserido no roteiro para ampliar elementos do conto de King, estende-se nas relações entres pais e filhos. Uma narração afirma que nem sempre os pais vão ter ideia do medo que irão incutir aos filhos, o que reverbera diretamente na própria vida do diretor.

Osgood é filho do ator Anthony Perkins, notabilizado no papel de Norman Bates em 1960, quando fez “Psicose”, de Alfred Hitchcock. Todos os filmes de Osgood, em certa medida, aparentam ser acertos afetivos dele com a poderosa figura do pai, morto em 1992, e talvez as melhores coisas desses trabalhos estejam nessa constante obsessão.

Ele próprio admitiu esse olhar impregnado da relação complicada com o pai quando lançou, em 2016, “O Último Capítulo”, história de assombração na qual ele enxergava fortes paralelos consigo mesmo.

“O Macaco” mantém a linha psicanalítica da obra de Osgood sem deixá-la contaminar por algum tipo de aborrecimento ou fragilidade estética, mas a ânsia do diretor em evidenciar o aspecto mais humorístico de sua personalidade, algo presente inclusive em trabalhos dele como ator, agora parece entrar em conflito com o material de origem.

Diverte e entretém, mas não vai muito além disso, o que soa um tanto frustrante para um filme tão elaborado na concepção quanto apressado na realização.

O MACACO

Avaliação Regular

Quando Em cartaz nos cinemas

Classificação 18 anos

Elenco Theo James, Tatiana Maslany e Elijah Wood

Produção Estados Unidos, 2025

Direção Osgood Perkins

MARCELO MIRANDA / Folhapress

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