Bancos aceleram concessão de crédito e falam em correr mais risco, com alertas para cenário econômico

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a inadimplência sob controle e o aumento real na renda do brasileiro, os bancos voltaram a acelerar a concessão de crédito no segundo trimestre deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2023, a carteira ampliada dos quatro maiores bancos listados em bolsa cresceu entre 5% e 13,2%.

Na média do sistema financeiro nacional, os atrasos no pagamento há mais de 90 dias em relação às carteiras de crédito dos bancos caiu 0,3 ponto percentual em relação a 2023, para 3,2%, mesmo patamar registrado no primeiro trimestre de 2024.

Segundo analistas, com o baixo desemprego e a economia em condição melhor do que a esperada, os resultados de Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander no trimestre passado foram positivos, com uma melhora na demanda e na qualidade dos empréstimos e financiamentos.

“No geral, foi um bom trimestre. Até nos outros setores, as empresas tivera, na média, resultados melhores do que o esperado”, afirma Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual.

Até o início deste ano, os bancos estavam cautelosos e avessos ao risco dada a disparada na inadimplência do pós-pandemia, especialmente na baixa renda, o que atingiu em cheio Bradesco e Santander.

“O ano passado foi de ajuste para Santander e Bradesco, que agora estão em recuperação. Agora, os bancos parecem dispostos e preparados a aumentar o apetite a risco nos clientes de baixa renda. Até o Itaú acelerou [a concessão de crédito] no segundo trimestre”, diz Rosman.

O Itaú Unibanco segue com a maior carteira de crédito no setor, com linhas que somam R$ 1,3 trilhão, uma alta anual de 7,10%. Mesmo aumentando os empréstimos, financiamentos e cartões de crédito, a inadimplência do banco segue a menor entre os pares, em 2,7%, 0,3 ponto percentual menor que no segundo trimestre de 2023.

Dessa forma, ele segue como mais lucrativo atualmente. O ROE (retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado), indicador de rentabilidade do banco está em 22,4%, alta anual de 1,5 ponto percentual, com um lucro de R$ 10 bilhões, crescimento anual de 15,2%.

O BB manteve a segunda segunda posição, com um ROE de 21,6%, alta anual de 0,3 ponto percentual. Já os empréstimos aceleraram 13,2% na comparação anual, para R$ 1,2 trilhão.

Entre os quatro maiores listados em Bolsa, o banco estatal foi o único que teve um aumento na inadimplência no segundo trimestre, para 3%, 0,3 ponto percentual maior que no ano anterior. Segundo analistas o aumento nos atrasos se deve à normalização do crédito ao agronegócio, que estava com uma inadimplência abaixo da média histórica.

Ao comentar os números do trimestre, os executivos do BB disseram que, com uma fatia maior no Plano Safra deste ano, o banco ganha relevância e facilidade na renegociação desses contratos em atraso, o que deve conter o indicador. Além disso, o banco planeja ser ainda mais arrojado na concessão de créditos em 2025, visando a expansão dos produtos sem garantia.

“É correr um pouco mais de risco, mas um risco calculado, pensado e com modelos que nos dão plena segurança”, disse Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil, ao comentar os resultados do BB.

O Santander, por sua vez, segue melhorando seus indicadores, após um 2023 marcado pelo forte impacto do calote bilionário da Americanas no seu balanço. No segundo trimestre, o lucro do braço brasileiro da instituição saltou 44,3% para R$ 3,3 bilhões.

Com uma expansão de 7,8% na carteira de crédito, para R$ 665,6 bilhões, o banco conseguiu recuperar 4,3 ponto percentuais de sua rentabildiade, historicamente acima dos 20%, para 15,50%.

“Os índices de inadimplência permanecem controlados, com destaque para a performance em pessoa física, na qual o índice de curto prazo alcança o melhor patamar desde o 2022”, disse Mario Leão, presidente do Santander Brasil.

O banco também tem conseguido ser menos dependente de crédito, com aumento anual de 17,5% no faturamento de serviços e tarifas, para R$ 5,182 bilhões. “A receita do banco com cartões, corretagem e seguros veio acima do esperado”, diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.

Para o Bresciani, porém, a grande surpresa do trimestre foi o Bradesco, com o lucro de R$ 4,7 bilhões acima do esperado.

O banco vive um momento de reestruturação, com troca no comando em novembro de 2023 e diversas mudanças na diretoria executiva. No fim do ano passado, a instituição chegou ao seu menor ROE, de 10%. Agora, o indicador já está em 10,8%.

“Melhoramos a eficiência e, assim, nos sentimos seguros para ir mais rápido no crédito. Essa aceleração da originação vai resultar em aumento da margem líquida nos próximos trimestres”, disse Marcelo Noronha, presidente do Bradesco.

Apesar da melhora no setor financeiro como um todo, os especialistas alertam que uma piora no cenário macroeconômico pode frear o crescimento do setor.

“A dúvida que fica é se não estamos olhando para o retrovisor e se os bancos vão continuar essa tendencia de melhora”, diz Rosman, do BTG.

Com a recente alta do dólar, e a aceleração da inflação, o mercado teme uma eventual alta na Selic, o que tenderia a elevar o custo do crédito, com uma maior inadimplência.

“O pior cenário para os bancos é crescer muito em ambiente positivo, que depois piora. Não acho que seja o caso no momento, pois estamos apenas começando a ver um aumento de apetite, que não é o suficiente para piorar inadimplência se economia piorar”, afirma Rosman.

Para o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, a maior preocupação com o cenário à frente é a volatilidade do câmbio, mas ele espera que o dólar perca força com o início do ciclo de corte de juros dos EUA.

“Nossa expectativa é que os cortes devem começar agora em setembro. É possível até três cortes de 0,25 ponto percentual cada um até o final do ano. Isso significa um dólar um pouco mais fraco”, afirmou o CEO nesta semana.

Segundo os analistas, a experiência do pós-pandemia trouxe aprendizados na modelagem de crédito das instituições, que ficaram mais criteriosas, mesmo otimistas.

“Se os juros estivessem caindo, o apetite [dos bancos seria maior”, completa Rosman.

JÚLIA MOURA / Folhapress

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